A BSBios, maior produtora de biocombustíveis do Brasil, construirá a primeira grande instalação do país para produzir etanol a partir do trigo, o que aumentará, não diminuirá, a oferta de alimentos, disse o presidente-executivo da companhia, em meio a uma discussão global sobre priorizar alimentos ante a produção de combustível.
Enquanto as usinas de etanol à base de trigo são comuns na Europa e no Canadá, a maior parte da produção brasileira vem da cana-de-açúcar e, mais recentemente, do milho.
O CEO da BSBios, Erasmo Battistella, disse à Reuters em entrevista na noite de quarta-feira que o projeto do grupo ressalta sua confiança de que os agricultores vão expandir a área e a produção de trigo, reduzindo a dependência das importações e criando um mercado doméstico ainda maior para o cereal.
A previsão é de que o Brasil produza uma safra recorde de 9 milhões de toneladas este ano, com os produtores semeando a maior área em 32 anos.
A unidade da BSBios deve entrar em operação no segundo semestre de 2024 no Rio Grande do Sul, maior Estado produtor de trigo do país. A planta produzirá 111 milhões de litros de etanol na primeira fase do projeto.
Battistella ressaltou que a planta aumentará a oferta de alimentos, uma vez que também venderá grãos secos de destilaria, um subproduto da produção de etanol usado como ração para o gado.
“Não quero que nenhum brasileiro, nenhuma pessoa do mundo olhe para a nossa empresa e diga: vocês estão tirando o pão nosso de cada dia da mesa!”, ele disse. “Quero que olhem para a gente e digam: vocês estão ajudando a aumentar a oferta de carne, de leites e de ovos e barateando os alimentos através deste projeto”.
O governo também está contando com pesquisas para impulsionar o “trigo tropical” no bioma Cerrado, considerado uma nova fronteira da agricultura de trigo.
O clima mais quente e seco do Cerrado exige que as plantas sejam adaptadas, e plantar trigo ali é visto como fundamental para que o país sul-americano se torne autossuficiente em 10 anos, uma meta do governo.
A produção de trigo no Brasil quintuplicou para cerca de 3.000 quilos por hectare desde a década de 1970, segundo a Embrapa.
Além disso, o Brasil recentemente começou a testar uma variedade de trigo geneticamente modificado resistente à seca no Cerrado em parceria com a Argentina (Reuters, 14/7/22)