Por Erich Mafra
Pesquisa do PageGroup indica quais profissionais devem ter mais demanda no ano; salários podem chegar a R$ 60 mil.
Com o começo de um novo ano, muitos profissionais estabelecem metas e novos desafios para crescer profissionalmente e turbinar suas carreiras — para sentir essa temperatura, basta uma rápida olhada no LinkedIn. Entre as movimentações possíveis na carreira está a busca por novas colocações. É justamente isso que a PageGroup, empresa global de RH, presente em 30 países, mostra todo final de ano: em dezembro saiu a lista com as principais carreiras que devem bombar no ano seguinte. E o agro não fica de fora.
“Passado o período mais crítico da pandemia, chegou a hora de ter um olhar mais atento para a operação. É nessa direção que boa parte das companhias deve se orientar, buscando as melhores formas de administrar seu negócio”, afirma Lucas Toledo, diretor executivo do PageGroup no Brasil. “Para que esse plano se concretize, elas vão buscar profissionais que consigam colocar essa estratégia em ação. O profissional que tiver um perfil com visão mais estratégica, habilidade em negociação e expansão, experiência em gestão, deve ser mais procurado.”
Esse tipo de profissional pode vir de uma gama enorme de formações universitárias. Além das agrárias, como engenharia agronômica, medicina veterinária e zootecnia, a construção de carreiras no agro também abre espaço para outras engenharias, biologia, administração, direito, matemática, marketing, relações internacionais, psicologia, TI, economia, logística, entre outras.
Para chegar à lista, o grupo, que possui 7.000 consultores globalmente, conversou com empresas de pequeno, médio e grande portes, em 14 setores de todo o Brasil. São eles, além do agro: bancos, engenharia, ESG, tributário, saúde, RH, logística, tecnologia da Informação, vendas, varejo, seguros e fintechs. No total, foram indicadas 46 profissões na lista, sendo que seis delas estão intrinsecamente ligadas ao agronegócio.
De acordo com dados mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados em novembro, o agro contratou 886.750 pessoas nos 10 primeiros meses de 2022. O valor de contratações é um reflexo do crescimento do setor, que bateu diferentes recordes no ano passado.
“A grande tendência [de contratações] no setor está muito conectada com um ambiente mais tecnológico. Então, o nome do jogo é eficiência produtiva”, diz Stephano Dedini, diretor do PageGroup. “Toda e qualquer tecnologia, melhoria de processo e de eficiência ajuda o setor a ter um controle melhor de custos, de produtividade e gastar menos e produzir mais. Acredito que toda essa intersecção entre sistemas, melhoria de processo, melhorias organizacionais versus a operação agrícola, a operação industrial do setor, são temas importantes.”
Confira abaixo quais são as seis carreiras que vão bombar no agronegócio em 2023, segundo o PageGroup:
Desenvolvedor de Software – R$ 7 mil a R$ 15 mil
O que faz: O desenvolvedor de software integra o time técnico das empresas e startups que trabalham com o desenvolvimento de sistemas para a criação de novos produtos e soluções para o setor do agronegócio.
Perfil da vaga: Este profissional deve possuir “forte conhecimento em programação e diversas linguagens, vivência em ambiente de franca expansão/startups, além de ambiente cloud e metodologias ágeis”, segundo o levantamento. Também é importante uma base em segmento próximo ao agronegócio e encaixe com os valores pregados dentro do setor.
Motivo da alta: A adoção de novas tecnologias no campo é cada vez mais comum, em função de seu potencial em incrementar os resultados na fazenda. Soluções de inteligência artificial, IoT (internet das coisas), marketplaces e outras, são muito buscadas e geram uma demanda para que o setor tenha mais profissionais de tecnologia.
Gerente Agrícola – R$ 25 mil a R$ 35 mil
O que faz: O gerente agrícola é o funcionário responsável por organizar toda a estrutura de uma fazenda, desde o plantio até a colheita. Uma de suas principais funções é garantir que a produtividade seja a melhor possível, por meio de cuidados com manejo e os tratos culturais. A manutenção do campo e o gerenciamento dos números também são vitais para evitar que ocorram perdas na colheita.
Perfil da vaga: Segundo o PageGroup, “os candidatos devem possuir grande habilidade em gestão de pessoas e conhecer muito bem sobre as culturas em que trabalham”. Para isso, o gerente deve ter conhecimento amplo dos principais indicadores para calcular o sucesso da fazenda (produtividade, qualidade, estoque, dentre outros). Outra característica imprescindível é a capacidade de gerenciamento de times para o alcance de metas.
Motivo da alta: Com o mercado de commodities firme e com alta demanda por alimentos e ração animal, muitos grupos que buscam liderança no setor do agro precisam olhar para “dados/indicadores e aplicação de técnicas de gestão no campo”, segundo o levantamento. O uso de ferramentas tecnológicas para a gestão agrícola tem gerado forte demanda na busca por gerentes agrícolas atualizados com as novas tendências.
Gerente de Unidade – R$ 25 mil a R$ 35 mil
O que faz: O gerente de unidade é o principal responsável pela parte industrial das unidades do setor do agronegócio. Costumam avaliar questões de estrutura, sempre de olho em produção, manutenção, melhoria contínua de processos e qualidade. Também devem estar atentos à gestão financeira e de recursos humanos da unidade.
Perfil da vaga: O levantamento aponta que os candidatos para essa vaga “devem possuir grande habilidade em gestão de pessoas e conhecer muito bem os processos produtivos”. Outro ponto decisivo é uma visão holística sobre a unidade agroindustrial. Ou seja, é importante que o profissional entenda o funcionamento de uma fábrica como um todo, em todos os setores e como eles interagem entre si.
Motivo da alta: O setor do agronegócio está procurando uma renovação para este cargo, pois muitos profissionais ainda têm um “modelo de gestão antigo, sem olhar indicadores de desempenho e num modelo de comando e controle”, aponta o PageGroup. No modelo, também conhecido como C², o estilo de liderança coloca o gestor acima de todos os funcionários. Esta forma tem sido considerada ultrapassada, por minar a criatividade e desenvolvimento da equipe. No agro, o sistema lean tem se tornado cada vez mais comum.
Gerente de compras – R$ 20 mil a R$ 30 mil
O que faz: No contexto do agronegócio, o papel de gerente de compras é muito ligado à compra de materiais da categoria de commodities agrícolas. Sua tarefa é definir a melhor estratégia, baseada em inteligência de mercado, para a gestão e negociação de suprimentos. Grande parte disso está ligado ao desenvolvimento de fornecedores e à gestão de contratos de compra, garantindo qualidade aliada ao menor preço de mercado possível.
Perfil da vaga: Os contratantes desta vaga esperam “habilidade em negociação, vivência com ferramentas estratégicas de análises de custos e atuação com mercado futuro”. Outro ponto importante é o inglês avançado, fundamental para realizar negociações com outros países.
Motivo da alta: Como o ano de 2022 foi marcado por grandes eventos (guerra na Ucrânia e crise de fertilizantes), muitas empresas estão de olho em profissionais que estejam atentos aos movimentos globais e seus possíveis efeitos nos preços e ofertas das commodities agrícolas. A meta é encontrar profissionais que “conheçam de mercado futuro para estabelecer planos estratégicos de médio e longo prazo”.
CSO (Chief Sustainability Officer) – R$ 40 mil a R$ 60 mil
O que faz: Apesar de se encontrar no escopo de ESG no levantamento do PageGroup, o cargo de CSO também tem se tornado um requisito crescente no agronegócio. Este profissional de sustentabilidade, que reporta ao CEO ou conselho de administração, é o responsável pelas políticas de governança e ações sociais das corporações. Para isso, trabalha com a “construção de políticas, definição de metas, gestão de stakeholders, garantia do cumprimento de normas, execução das ações e se envolvendo em certificações e preparação de relatórios corporativos”. Sua atuação é transversal na empresa e também deve estar ligada aos principais movimentos que são cobrados por investidores e pela sociedade.
Perfil da vaga: O levantamento afirma que esta é uma “posição relativamente nova no mercado”, o que faz com que os profissionais que ocupam esta cadeira tenham experiências profissionais distintas. Os perfis de profissionais colocados neste cargo já atuaram em áreas como saúde, segurança e meio ambiente, marketing, finanças e até recursos humanos.
Motivo da alta: O principal motivo é a pressão crescente da sociedade e de governos para que as empresas sejam mais sustentáveis. No agro, um dos principais exemplos disso, é a nova legislação aprovada pela UE (União Europeia) que impede a importação de bens ligados a desmatamento. Empresas terão que comprovar que seus produtos como café, carne bovina e soja não são responsáveis por efeitos socioambientais negativos.
Gerente de Assuntos Regulatórios – R$ 29 mil a R$ 35 mil
O que faz: Localizado no escopo de saúde da pesquisa, o gerente de assuntos regulatórios também é um cargo importante para as áreas de saúde animal e desenvolvimento de químicos e biológicos. Este profissional ajuda a destravar a liberação de produtos comercializáveis que devem passar por aprovação técnica de órgãos governamentais, como o Ministério da Agricultura e Pecuária e a Anvisa, por exemplo. O gerente cuida de adequações normativas, renovações e fica atento aos conceitos legais, planejando o lançamento e renovação do registro de produtos. Normalmente também acompanha estudos de estabilidade com lotes criados para teste, a fim de comprovar a eficácia e consistência dos produtos.
Perfil da vaga: A visão macro do negócio e o planejamento estratégico, em consonância com diferentes áreas, são características imprescindíveis para o gerente. Um dos principais diferenciais é a necessidade de “sólido conhecimento técnico e legal das normas e legislações vigentes nas diversas áreas reguladas” e “experiência na tratativa com seus respectivos órgãos reguladores”.
Motivo da alta: Muitas empresas estrangeiras vêem o agro brasileiro como uma potência e decidem iniciar atividades no país, isso faz com que ela precise conhecer e/ou se adaptar aos regulamentos existentes. Outro motivo é o interesse de empresas já consolidadas em lançar novos produtos que atendam às demandas dos produtores. Por fim, constantes mudanças legais em regulamentos também motivam a busca de empresas pelos gerentes de assuntos regulatórios (Forbes, 6/1/23)