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Potência ambiental

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Por Luiz Felipe D’Avila

O Brasil poderá ser a primeira grande economia do mundo a gerar renda e riqueza na era do carbono neutro. Se o petróleo foi a matriz de riqueza das nações no século XX, a fixação de carbono será uma das principais fontes de riqueza do século XXI. Nesse sentido, o Brasil é a superpotência econômica do mundo. Temos capacidade de fixar metade do carbono do planeta plantando árvores em terras degradadas ou sem uso. Nenhuma nação tem um ativo tão gigantesco e valioso. Mas, para transformar esse ativo em renda, é preciso haver uma importante mudança de mentalidade. 

O tempo dos projetos nacionais dependentes da ação direta do Estado – e da proeminência do crescimento do PIB pela via de grandes obras públicas, passou. Na economia de carbono neutro, o sucesso vai depender da eficiência no uso equilibrado dos recursos da natureza. Esse novo norte muda tudo. 

A passagem para a economia de carbono neutro vai comandar a reinserção do Brasil na economia mundial, permitindo realizar uma grande abertura para o comércio internacional e uma reforma do Estado, incluindo privatizações. O mercado é um aliado indispensável para a economia de carbono neutro florescer.

Quatro anos atrás, não havia no planeta nenhum governo que guiasse sua economia pensando no carbono neutro. Nem partidos brasileiros que defendessem essa opção. Mas em 2019 a União Europeia adotou a meta de carbono como norte de seu planejamento estratégico. Em menos de um ano, Coreia do Sul, Japão, China, Rússia e Estados Unidos seguiram na mesma direção. Hoje programas de carbono neutro são norma.

Seguir a tendência mundial seria sábio e prudente para o País – mas a razão central para perseguir metas de carbono neutro no Brasil é outra, bem mais relevante: atende muito melhor aos interesses nacionais.

Um governo comprometido com a meta de carbono neutro vai realizar todos os esforços para acelerar a mudança de estrutura na área de energia. Os pequenos projetos de energia solar transformam milhões de cidadãos em produtores e tiram do mercado gigantes monopolistas. Descentralizam o poder, aumentam o número de empresários na economia e distribuem renda. Melhoram as condições de mercado. 

Esses esforços já vêm beneficiando o Brasil. Em 2021, apenas nos tetos das casas e em pequenos projetos, o País instalou 3,5 GW de energia solar. Custaram 15 vezes menos que os mesmos gigawatts da usina de Belo Monte, já um monumento da velha ideia de juntar muito dinheiro para um projeto estatal de alto impacto ambiental – e jogar R$ 50 bilhões (mais que todo o investimento previsto no Orçamento de 2022) no lixo.

O principal programa de renda e emprego vai ser o de plantio de áreas florestais permanentes em pequenas propriedades rurais. Vai beneficiar entre 750 mil e 1,5 milhão de pequenos proprietários (dos quilombolas e assentados até os donos de sítios e fazendolas) e gerar 3 milhões de empregos. Sem gasto público. Com elas em pé, o Brasil vai prosperar, atrair investimento, gerar renda e emprego – principalmente para a população mais carente que vive no campo. 

Mas a possibilidade maior para o Brasil nessa nova ordem mundial é outra. Quase três quartos de nossas emissões de gases de efeito estufa derivam do modo como lidamos com a natureza. A passagem para o carbono neutro depende da transformação desses usos – apoiando o mercado.

É preciso ter metas claras para mudar radicalmente a situação. Começando pelo fim do desmatamento (44% das emissões brasileiras em 2020, e bem mais que isso com o criminoso aumento de 21% do desmatamento na Amazônia no ano passado). Passando por um forte programa de recuperação de pastagens degradadas e das emissões na pecuária (a segunda grande fonte de emissões). A área de florestas plantadas para uso da madeira deverá pelo menos dobrar nos quatro anos de gestão. 

As atividades do agronegócio vão se multiplicar: a tecnologia vai para o interior em áreas como energia (com o nordeste à frente); a silvicultura dobrará de tamanho; a plantação de florestas vai surgir como fonte de trabalho e renda. E tudo isso sem prejudicar um único milímetro da terra hoje empregada em atividades produtivas. O interior do País será o grande palco da mudança.

O Brasil é um dos únicos que pode almejar zerar as emissões. Plantando 3 milhões de hectares de florestas em terras degradadas e sem uso (são 50 milhões de hectares atualmente), vamos criar um novo mercado de fixação de carbono, gerando emprego e renda sem competir com a produção atual. Com a tecnologia do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e com contratos nacionais confiáveis e capazes de atrair uma pequena fração dos US$ 1,5 trilhão disponíveis no mundo para financiar essa atividade.

No foco tradicional há o dilema mercado ou conservação. Na economia de carbono neutro, o meio ambiente é mercado. Criar mercados novos pelo melhor uso da natureza é o norte do que temos de fazer para tirar o Brasil do ostracismo ambiental e fazer o País voltar a crescer de maneira sustentável (Luiz Felipe D’Avila é cientista político; O Estado de S.Paulo, 26/1/22)

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