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Do biometano à energia solar: A construção de uma economia de baixo carbono

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Por Jonathan Colombo

Integração de tecnologias será determinante para o País atingir metas climáticas e manter competitividade em um mercado global orientado pela sustentabilidade

Muito se discute sobre o futuro do ESG no contexto geopolítico atual. Apesar de sinais de enfraquecimento do rótulo ESG em comunicações corporativas devido à politização excessiva do termo, isso não significa o fim das práticas que ele representa. Pelo contrário, deveremos continuar observando um crescimento na ênfase à avaliação dos riscos climáticos e no aproveitamento de oportunidades associadas à transição energética e à descarbonização.

Nesse cenário, considerado por alguns como um retrocesso devido ao enfraquecimento de redes e iniciativas climáticas globais frente a pressões políticas, voltaremos a ver os combustíveis fósseis mantendo um espaço nas análises sobre investimentos. Apesar disso, o debate sobre a transição energética pautada em recursos renováveis continuará crescendo em relevância no Brasil e no mundo.

Neste presente que parece incerto, as empresas mais bem-sucedidas serão aquelas que compreenderem a transição energética como um processo abrangente e multifacetado. Não se trata apenas de eletrificação ou de alcançar a neutralidade de carbono de forma imediata, mas de estabelecer uma economia de baixo carbono como etapa indispensável em uma jornada complexa, porém inevitável, pela busca na mitigação da mudança do clima por intervenção humana.

O Brasil, com sua matriz energética diversificada e amplo potencial em fontes renováveis, ocupa uma posição estratégica nesse processo. Contudo, para que essa transição seja efetiva, são necessários avanços significativos, não apenas na adoção de fontes renováveis de energia para geração elétrica, como a energia solar (tanto em projetos de geração distribuída quanto centralizada) e a energia eólica (com destaque para projetos onshore e o esperado crescimento do segmento offshore, impulsionado pelo novo marco legal), mas também no desenvolvimento de soluções robustas de armazenamento de energia, indispensáveis para garantir maior eficiência e estabilidade na matriz elétrica.

Agora, é importante ampliar nosso horizonte de análise e manter o foco na contribuição estratégica da bioenergia, que reassume um papel central no desenvolvimento de combustíveis sustentáveis no País.

A bioenergia tem avançado em diversas frentes. O biodiesel, por exemplo, vem sendo impulsionado pelo Programa Nacional de Diesel Verde, que amplia a obrigatoriedade de sua mistura com o diesel fóssil. Da mesma forma, o Combustível Sustentável de Aviação (SAF) ganha relevância, com incentivos do Programa Nacional de Combustíveis Sustentáveis de Aviação (ProBioQAV). Esses movimentos, viabilizados pela Lei do Combustível do

Futuro, sancionada no final de 2024, destacam que a diversificação energética é tanto uma necessidade ambiental quanto uma estratégia econômica para posicionar o Brasil como líder global na transição energética.

Entre as diversas opções em expansão no campo das bioenergias, o biometano tem se destacado por sua versatilidade e viabilidade econômica. Ele

desempenha um papel essencial na transição energética, com aplicações que vão desde a geração de energia renovável até processos industriais e transporte. Ele não apenas atende a demandas específicas de energia renovável, mas também assume posição estratégica em iniciativas de economia circular, como a substituição do diesel em frotas de veículos ou sua aplicação em processos produtivos internos.

Adicionalmente, o biometano sobressai na produção de hidrogênio de baixo carbono, reforçando seu papel estratégico na diversificação e modernização da matriz energética brasileira. Produzido a partir de biogás derivado de resíduos orgânicos, ele contribui diretamente para a descarbonização. Seu grande diferencial está na capacidade de integrar-se à infraestrutura já existente de combustíveis fósseis, como redes de distribuição de gás natural, reduzindo de forma significativa os custos de implementação. Além disso, o uso do biometano pode reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa em comparação ao gás natural, gasolina ou diesel, consolidando-o como uma alternativa particularmente atrativa para setores industriais que necessitam de soluções sustentáveis e de alto impacto.

Embora o biometano e outras fontes de bioenergia ofereçam soluções robustas para a transição energética rumo a uma economia de baixo carbono, é essencial que sua adoção seja complementada por investimentos consistentes em energia solar e eólica. A integração dessas tecnologias será determinante para o Brasil atingir suas metas climáticas e manter competitividade em um mercado global cada vez mais orientado pela sustentabilidade.

O momento atual, apesar dos desafios, apresenta oportunidades significativas. A transição energética exige uma abordagem pragmática e integrada, que considere tanto os ganhos imediatos de uma economia de baixo carbono quanto os investimentos estruturais necessários para alcançar a neutralidade climática.

Com recursos naturais abundantes, capital humano qualificado e condições tecnológicas avançadas, o Brasil tem todos os elementos para liderar esse processo. Cabe ao setor empresarial e aos formuladores de políticas públicas criarem as bases para uma economia que combine crescimento sustentável com competitividade global. Nesse contexto, o biometano emerge como peça central, exigindo visão estratégica e ações coordenadas para consolidar o País como referência em inovação e sustentabilidade no cenário internacional (Por Jonathan Colombo é engenheiro elétrico e professor de MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV; Estadão, 8/2/25)

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