Mundo bateu recorde mensal de calor pela oitava vez consecutiva.
Após um 2023 escaldante, a temperatura global em janeiro de 2024 foi a mais alta já registrada para o mês. Segundo o observatório climático europeu Copernicus, a temperatura média mundial foi de 13,14°C, ficando 0,12°C acima da temperatura do janeiro mais quente até então, em 2020.
O índice também foi 0,70°C superior à média para janeiro registrada entre 1991 e 2020.
O Copernicus tem registros diários de temperatura global que datam até 1940. Os boletins mensais gerados pelo observatório usam bilhões de medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas para analisar o estado do clima global.
Este foi o oitavo mês consecutivo em que o recorde de temperatura para o respectivo mês do ano foi quebrado. O último ano —que quebrou todos os recordes e foi o mais quente em 125 mil anos— foi marcado por eventos climáticos extremos, como a seca histórica que atingiu a amazônia, os gigantescos incêndios florestais no Canadá e os alagamentos na China.
A anomalia de temperatura global (como é chamada a variação de temperatura em relação à média) para janeiro de 2024 foi menor do que as dos últimos seis meses de 2023, mas maior do que qualquer uma antes de julho de 2023.
Ao redor do mundo, as temperaturas variaram em janeiro, ficando bem acima da média no leste do Canadá, noroeste da África, Oriente Médio e Ásia Central, e abaixo da média no oeste do Canadá, centro dos Estados Unidos e na maior parte da Sibéria Oriental.
Na Europa, nos países nórdicos os termômetros ficaram bem abaixo da média dos últimos 30 anos, enquanto o sul do continente teve índices muito acima da média.
O mês foi 1,66°C mais quente do que uma estimativa da média de janeiro de 1850 a 1900. Este período é usado como referência às temperaturas anteriores à Revolução Industrial, que fizeram disparar as emissões de gases de efeito estufa gerados pelas atividades humanas.
“2024 começa com mais um mês de quebra de recordes —não apenas é o janeiro mais quente já registrado, mas também acabamos de passar por um período de 12 meses com mais de 1,5°C acima do período de referência pré-industrial”, analisa Samantha Burgess, diretora adjunta do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, ressaltando a importância de frear o aquecimento do planeta.
“Reduções rápidas nas emissões de gases de efeito estufa são a única maneira de impedir o aumento das temperaturas globais”.
Tanto calor pode ser explicado, em partes, pela ocorrência do El Niño, fenômeno que aquece as águas do oceano Pacífico na região da linha do Equador e tende a elevar as temperaturas no mundo.
No entanto, uma análise de dados feita pela Folha mostrou que a Terra viveu cinco El Niños mais severos do que o atual nos últimos 70 anos. Ou seja, a temperatura global no último ano já estava muito alta, mesmo sem levar em conta a intensidade do fenômeno.
Em janeiro, a Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU, afirmou que a tendência a um aquecimento como o registrado em 2023 seguirá neste ano, ainda sob os efeitos do El Niño.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês) projetou, por sua vez, que há cerca de 33% de chance de que 2024 seja mais quente que 2023, e 99% de que fique entre os cinco anos mais quentes já registrados.
A Noaa também prevê que o El Niño, que já começou a enfraquecer, deve perdurar até o final do verão.
O planeta já esquentou 1,2°C desde a Revolução Industrial. Assim, eventos climáticos extremos já são afetados pelas mudanças climáticas.
De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ondas de calor, como as que atingiram o Brasil repetidamente em 2023, triplicaram no mundo na comparação com o período pré-industrial (Folha, 8/2/24)