Por André Ito
O agronegócio foi muito bem em 2023, mas poderia ter ido melhor se não fossem os problemas climáticos causados em parte pelo fenômeno El Niño, em parte pela ação humana.
As chuvas torrenciais, provocadas por tempestades extratropicais, resultaram em enchentes fora do comum e, consequentemente, em destruição e muitas perdas para agricultores e pecuaristas. Indústrias diretamente ligadas ao setor e que se situavam nas áreas atingidas também sofreram prejuízos.
Sem dúvida, Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram os Estados que mais sentiram o impacto do clima descontrolado.
Nos Estados da região Norte, onde fica a floresta Amazônica, aconteceu o contrário. Uma forte estiagem fez muitos dos grandes rios locais ficarem pequenos. Houve mortandade de peixes, impossibilidade de navegação em algumas áreas e, claro, prejuízo à produção agropecuária local.
O ano de 2023, aliás, entrou para a história do país como o mais quente já registrado. O calor excessivo, por si só, já é suficiente para prejudicar diversas culturas.
Há espécies vegetais que são mais produtivas no frio. Mesmo aquelas adaptadas ao calor, têm seus limites de temperatura. Tudo isso preocupa. E já existe a expectativa de que a safra de grãos do período 2023/2024 seja um pouco menor do que a colhida em 2022/2023.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima queda de 4,2% na produção brasileira de grãos na safra atual em comparação com a anterior.
A expectativa é de que o Brasil alcance produção de 306,37 milhões de toneladas ante 319,86 milhões do período anterior. Se isso ocorrer, pela primeira vez em décadas, a participação do agronegócio no PIB pode apresentar recuo.
Mas calma lá. Nem tudo é crise. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) prevê aumento de 13,5% na produção de cana-de-açúcar e de 10% no ritmo de abate de bovinos, desarmando um pouco os mais alarmistas.
E como fica o mercado de Fiagro dentro deste cenário? Em primeiro, como se vê, uma cultura, de certa forma, compensa a outra.
Além disso, produção menor, dependendo das circunstâncias da economia mundial, pode significar preços melhores e margens de lucro maiores, favorecendo a cadeia e, de quebra, a rentabilidade dos Fiagros.
Mas é claro que, individualmente, um fundo composto por ativos que foram prejudicados por fenômenos naturais de grande magnitude pode sofrer com perdas. Tudo isso faz parte do risco, mas tais situações podem ser mitigadas para os investidores de acordo com as garantias desses ativos.
Temos também de nos lembrar que problemas sempre vêm acompanhados de pesquisas, estudos e recursos para reverter a situação. Vamos a um exemplo prático. Até poucos anos atrás o Brasil importava 100% do azeite de oliva que consumia. Hoje temos uma pequena produção local, principalmente em Minas Gerais.
Apesar de ainda ocorrer em pequenas propriedades, ela é fruto de um trabalho de pesquisa e engenharia genética que viabilizou o plantio de oliveiras em território nacional.
O solo e o clima daqui não eram adequados. Certamente a pequena produção se tornará gigante em poucos anos e nos tornaremos players mundiais também neste tipo de cultura.
As mudanças climáticas vão exigir mais pesquisas, no caso para gerar culturas capazes de se adaptarem ao novo normal climático. Assim como plantar, colher, industrializar, pesquisar e desenvolver também demandam financiamento. Se nas condições atuais o cobertor financeiro que está disponível é curto, imaginem em uma situação um pouco mais extremada?
O Fiagro, que foi criado para atender as necessidades da cadeia agroindustrial e será uma porta de acesso a financiamento extremamente importante. Um indispensável complemento aos meios tradicionais de crédito. Finalizando, é claro que as mudanças climáticas preocupam.
Tudo seria mais fácil se o ciclo de sol, chuva, temperatura continuasse como antes. Infelizmente não é o que está acontecendo.
O produtor brasileiro é resiliente e está sempre em busca de novas soluções. Como um dos maiores produtores de grãos do mundo, o país vai investir em pesquisa e desenvolvimento para que haja a manutenção da alta produtividade com a busca de novos caminhos para o desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, os Fiagros terão papel fundamental ao ser a fonte de financiamento dos produtores e com rentabilidade atrativa aos investidores (Money Times, 22/2/24)