Para voltar a crescer, setor tem de optar por mais tecnologia e inovação.
“Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do agronegócio neste país, estão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo o mundo está de olho no álcool.”
A afirmação foi feita por Lula em março de 2007 e, segundo o então presidente, isso ocorria porque havia política séria para o setor. No ano seguinte à afirmação, o país exportou o recorde de 4,1 milhões de toneladas de etanol.
A decisão do governo de cobrar alíquotas maiores de gasolina do que as de etanol na reonoeração de tributos federais sobre os combustíveis agradou os usineiros.
Segundo eles, o setor vinha perdendo participação no mercado de combustíveis e freou investimentos que viriam a médio e longo prazos.
Independentemente do entendimento que Lula 3 terá desse segmento, o setor sucroenergético depende de políticas claras do governo, mas não pode ficar à mercê apenas de regulação de tributos.
Para voltar a crescer, tem de optar por mais tecnologia e inovação. Explorar mais os setores de energia, biogás e de biometano. Um dos objetivos principais tem de ser o de elevar a produtividade.
Enquanto alguns grupos já adotam essas políticas, outros estão bastante defasados. Uma das provas é a baixa média de produção de cana-de-açúcar, que persiste em 80 toneladas por hectare.
Essa produtividade já esteve em 89 toneladas, mas o recuo mostra o quanto as variedades antigas de cana ficam expostas às crises climáticas, como as que afetaram as lavouras nos anos recentes.
O CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) já tem variedades com potencial superior a 100 toneladas por hectare. Com isso, a média deverá mover para cima, desde que os produtores adotem essas novas variedades.
A saída no momento é a busca de uma produção mais vertical e menos horizontal.
A elevação de produtividade por área vai reduzir os custos de produção e tornar a cana mais competitiva em relação a outras culturas que avançam sobre seu espaço, como a soja.
Os preços do etanol dependem também dos do petróleo, que, quando em baixa, põem ainda mais em prova a rentabilidade do setor.
Essa decisão do governo ocorre em um período de entressafra da produção de etanol de cana, mas com evolução da de álcool de milho, que deverá atingir 4,4 bilhões de litros nesta safra.
A oferta de etanol do cereal, que já representa 13,7% da produção total do país, atinge 200 milhões de litros por quinzena neste período, o que dá folga aos estoques de passagem para a próxima safra, a de 2023/24, que começa em abril. Algumas usinas antecipam a produção.
A perda de competitividade do etanol leva a maior parte cana colhida para a produção de açúcar. As exportações dessa commodity estão favoráveis com a participação menor da Índia no mercado externo.
A desoneração do etanol desagradava também aos produtores de cana, que tinham prejuízos na formação do valor da ATR (Açúcar Total Recuperável), base de remuneração.
No caso do milho, a formação de preço depende menos das usinas, uma vez que o cereal tem outros fatores importantes na composição de preço. Tanto a demanda interna, vinda da produção de proteínas, como a externa interfere.
A participação do álcool de milho na produção desse combustível no país está em 13,7% e deverá crescer ano a ano. Já são 18 usinas, 8 delas com produção de etanol apenas tendo como origem o milho.
Outros 20 projetos já estão com alguma fase de liberação autorizada. Os investimentos, se concretizados, deverão somar R$ 15 bilhões até 2030 (Folha de S.Paulo, 28/2/23)