Estudo da consultoria estratégica alemã Roland Berger prevê que o mercado brasileiro pode alcançar uma receita anual de R$ 100 bilhões a partir de 2050 proveniente apenas de exportações.
Por Guilherme Justino
O consumo de hidrogênio no mundo terá de aumentar pelo menos seis vezes nos próximos 30 anos para que sejam alcançadas as metas globais de descarbonização, especialmente em usos industriais e mobilidade limpa. Sozinho, o consumo de hidrogênio verde (H2verde) – gerado por energia renovável ou por energia de baixo carbono – terá de passar das atuais 90 milhões de toneladas/ano para 527 milhões de toneladas/ano a partir de 2050, um mercado que o Brasil tem capacidade para liderar.
É o que aponta o estudo “Green Hydrogen Opportunity in Brazil” (“Oportunidade de hidrogênio verde no Brasil”, em tradução livre), divulgado nesta sexta-feira (20) pela consultoria estratégica alemã Roland Berger. Segundo a pesquisa, se o mundo cumprir os compromissos estabelecidos durante a COP21, realizada em 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris, com objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e minimizar os impactos do aquecimento global, a maior parte da energia consumida no planeta será originária do H2verde, o que implicará na formação de um mercado mundial estimado em mais de US$ 1 trilhão em venda direta da molécula ou derivados.
A consultoria alemã estima que o aumento da demanda aliado às diferenças regionais na competitividade da produção levará ao estabelecimento de um mercado comercial mundial bastante atrativo, provocando uma verdadeira corrida por parte dos países para investir em projetos industriais para produção de H2verde, seja para o consumo interno como para exportação.
Para Jorge Pereira da Costa, head de Energia da Roland Berger Brasil e um dos autores responsáveis pelo estudo, o hidrogênio verde é apontado como uma grande commodity, o “petróleo do futuro”. Terá um papel fundamental no desenvolvimento econômico global, pois será empregado na mobilidade de veículos, aeronaves, propulsão para embarcações navais, geração de energia elétrica e aquecimento das casas, edifícios, caminhões, trens, ônibus, entre muitas outras aplicações.
“Neste cenário, o Brasil deverá assumir a liderança desse mercado devido à capacidade de produzir hidrogênio verde com menor custo em relação aos demais países, transformando-se em um grande exportador global. O mercado brasileiro de H2verde poderá alcançar um valor anual da ordem de R$ 150 bilhões a partir de 2050, dos quais R$ 100 bilhões serão provenientes das exportações”, estima ele.
Na opinião de Pereira da Costa, o Brasil tem condições de capturar um potencial significativo dos mercados globais e mesmo superar a demanda doméstica a partir de 2030. Ele acredita que a Europa será a principal região interessada na importação do H2verde brasileiro.
Devido à exigência de capacidade extra, o estudo da Roland Berger prevê a oportunidade de o hidrogênio verde representar investimentos diretos no Brasil da ordem de R$ 600 bilhões nos próximos 25 anos. Esse aporte de recursos será necessário para que o país tenha capacidade de desenvolver eletrolisadores necessários para a produção de hidrogênio da ordem de 80 GW. Para que isso seja possível, a capacidade de energia deverá atingir 170 GW até 2050, o que representa a necessidade de o país dobrar a capacidade de sua matriz energética.
O estudo da Roland Berger assinala ser preciso avaliar mecanismos de incentivos governamentais para que o Brasil tenha condições de produzir e exportar o H2verde a um preço competitivo. Para ganhar vantagem de pioneirismo nos mercados globais, o hidrogênio verde nacional precisará cair para US$ 2 por quilo até 2025. Para o consultor, a redução do custo da eletricidade para produzir H2Verde no Brasil pode ser alcançada por meio de:
- uso de eletricidade renovável (eólica, solar, hídrica e biomassa) excedente, utilizando o excedente atual de produção renovável a custos de geração muito mais baixos;
- os custos de transmissão e distribuição de eletricidade utilizadas para a produção de H2Verde deverão ser reduzidos;
- é preciso que sejam aprovadas isenções governamentais e encargos setoriais aplicados na conta de eletricidade.Cadastrar meu email
Existem diversas “cores” para o hidrogênio. Entre eles, o hidrogênio cinza, obtido a partir da queima de combustíveis fósseis, especialmente do gás natural, em uma reação conhecida como reforma a vapor. O processo envolve a reação do metano, contido no gás natural, e do valor da água em alta pressão e temperatura. Também há o hidrogênio azul, cujo processo de produção é idêntico ao do cinza. Ambos são produzidos a partir do gás natural e permitem a captura e armazenamento do CO2 emitido no processo.
Já o hidrogênio verde é produzido por meio de um processo químico (eletrólise) que permite a quebra das moléculas da água em hidrogênio e oxigênio através da eletricidade. O hidrogênio denominado verde é feito sem a emissão de carbono e utiliza basicamente energias renováveis (hídrica, eólica, solar e biomassa). É o único com produção sustentável e livre de carbono e é apontado como elemento chave para tornar possível a descarbonização da Terra, umas das metas fixadas pelos países de todo o mundo até 2050 (Blog Um Só Planeta)