Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou esta sexta-feira com o vencimento março/23 negociado a 21.51 centavos de dólar por libra-peso, 28 pontos acima do nível da semana anterior, representando uma apreciação de pouco mais de seis dólares por tonelada. Os contratos com vencimentos posteriores tiveram queda nos meses que representam a safra 23/24 do Centro-Sul (de maio/23 a março/24), enquanto os demais fecharam com ligeira alta.
A semana que vem promete uma dose maior de volatilidade com a expiração das opções de março na sexta-feira, dia 17. Na nossa visão, a posição em aberto de vendas a descoberto das opções de compra fora-do-dinheiro foi importante impulsionador dos preços do açúcar em NY, colaborando para a alta vigorosa observada nas últimas semanas. Nada menos que 55,000 lotes estavam em aberto no dia 9, nos preços de exercício compreendidos entre 20 e 22 centavos de dólar por libra-peso. Isso pode ser explosivo.
O CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, não divulga o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, há duas semanas. Essa ausência de informação ocorre devido ao ataque cibernético sofrido pela empresa de tecnologia ION, o que impediu às casas comerciais que se utilizam dessa plataforma do envio de dados referentes às suas posições para a agência do governo. Enquanto isso, não dá para adivinhar qual seria nesse momento a posição especulativa dos fundos não-indexados. Um pouco mais de volatilidade.
Com uma grande safra de grãos e de açúcar no Brasil aumentam as chances de termos gargalos logísticos nos portos de Santos e Paranaguá. O valor do frete rodoviário interno deverá aumentar pela demanda que se avizinha. Isso, apesar de o preço do diesel ter caído 13% no mercado internacional, no acumulado do ano. Pura inflação de demanda.
É razoável esperar que o basis (prêmio) do açúcar aprecie no mercado à vista para maio e julho? É uma possibilidade se tivermos uma conjunção de eventos que contribuam para isso. Já vimos no passado recente o porto de Santos ficar congestionado com filas quilométricas de caminhões desde a estrada até o porto para descarregar o açúcar nos terminais. Isso tudo combinado com um período ininterrupto de 38 dias de chuva. O prêmio chegou às alturas: 135 pontos sobre NY. Se bem, que naquele momento os consumidores industriais estavam sem açúcar no destino final. Ooops.
O spread março/maio negociando a 155 pontos, ou 34 dólares por tonelada, é um enorme estímulo – se houver disponibilidade de produto – de se entregar açúcar na bolsa na expiração do contrato com vencimento para março (dia 28 de fevereiro), com o intuito de recebê-lo de volta na expiração do vencimento maio. O vendedor entrega o açúcar agora, e o mercado carrega o produto para ele e devolve em maio 34 dólares por tonelada mais barato, além da economia de dois meses de armazenagem e seguro e custos financeiros. No recebimento de maio, ainda pode-se contar com a ajuda do imponderável (chuva, atraso, gargalo logístico) que afetariam os prêmios. As usinas poderão perceber se essa situação vai se materizalizar caso as tradings peçam para receber açúcar o mais breve possível já no início da safra.
O mercado de etanol continua aguardando com impaciência a volta dos impostos federais. Enquanto isso, com a subida no preço do açúcar em NY, o hidratado na B3 negocia com um desconto de quase 600 pontos em relação ao açúcar. Não fosse essa enorme desconfiança do que pode vir de Brasília, uma arbitragem seria muito recomendada. Ou seja, comprar hidratado na B3 concomitantemente vendendo o equivalente em açúcar na bolsa de NY. Em tese, essa diferença não deveria permanecer por muito tempo.
O dólar encerrou a semana cotado a R$ 5,2277 apreciando quase 2% comparado com a semana anterior. A imensa deficiência cognitiva do atual ocupante do Planalto contribui para isso. O presidente da república continua no palanque e elegeu o presidente do Banco Central do Brasil como seu alvo predileto, procurando achar um culpado para o provável crescimento pífio da economia este ano. O Brasil é um nascedouro de presidentes inaptos e ineptos. Não fosse essa fatalidade, com juros reais atrativos, onde poderia estar o dólar.
Vejam, por exemplo, o que demonstra o Índice Big Mac, indicador inventado pelo jornal The Economist em 1986 para verificar se as moedas estão em seu nível adequado. Ele se baseia na teoria da paridade do poder de compra (PPP), a noção de que no longo prazo as taxas de câmbio devem se mover em direção à taxa que igualaria os preços de uma cesta idêntica de bens e serviços (neste caso, um hambúrguer) em quaisquer dois países. Um Big Mac custa R$ 22,90 no Brasil e US$ 5,36 nos Estados Unidos. A taxa de câmbio implícita é de 4,3800. A diferença entre esta e a taxa de câmbio real, R$ 5,2277, sugere que o real brasileiro está 19.3% desvalorizado.
Quem opina sobre o mercado dá a cara a tapa. Pode acertar ou errar, como todo mundo. Mas, em nossa visão, o mercado precisa de uma combinação generosa de contingências para poder se sustentar acima dos 20 centavos de dólar por libra-peso no primeiro semestre deste ano. A produção de açúcar no Centro-Sul virá com muita força, podendo até mesmo ultrapassar os 37 milhões de toneladas. É açúcar suficiente para atender ao mercado mesmo com problemas na Índia e Tailândia. Nossa capacidade de cristalização no Centro-Sul, segundo um respeitado trader, é em torno de 40 milhões de toneladas.
Se você acredita na alta, é prudente que pelo menos faça a compra de uma put (opção de venda) para proteger pelo menos o custo de produção. Ou ainda, mais adequadamente, fixar o açúcar em reais por tonelada e comprar uma opção de compra fora-do-dinheiro para aproveitar uma eventual subida do mercado. Esta última, não deixa de ser também uma put sintética. Prudência e caldo de galinha não costumam fazer mal a ninguém.
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