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Açúcar: A montanha pariu um rato

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

Esopo era um escravo e contador de histórias que viveu na Grécia Antiga por volta de 600 anos antes da Era Cristã. Suas fábulas, um conto que trazia sempre uma moralidade popular ou uma lição de inteligência, sagacidade e justiça, fizeram (e fazem ainda) parte da infância de gerações e gerações. Como não se lembrar das fábulas da “Cigarra e a Formiga”, “A Raposa e as Uvas”, “A Tartaruga e a Lebre”, entre tantos outros. É dele o título desse comentário. A montanha pariu um rato tem sua origem nas fábulas de Esopo e descreve ações que prometem muito, mas entregam pouco: algo tão grande quanto uma montanha produziu uma coisa tão pequena quanto um rato. Refiro-me à expectativa que o vencimento das opções nesta sexta-feira trazia para essa semana. Foi, no final, um não-evento.  

As atenções agora se voltam para a expiração do contrato de março, que ocorre na terça-feira dia 28 de fevereiro. Consumidores finais são, no momento, o principal pilar de sustentação do mercado (dos quatro mencionados no nosso comentário de duas semanas passadas, a saber os outros três: os fundos, as usinas muito fixadas e as calls vendidas a descoberto, que expiraram hoje). E, repetindo aquilo que dissemos, o que esperar do mercado quando um significativo volume de açúcar começar a aparecer no Centro-Sul?

NY encerrou a sexta-feira cotado a 21.41 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento março/23, uma queda de 17 pontos em relação à semana anterior, enquanto o maio/23 encerrou a 19.83 centavos de dólar por libra-peso, retraindo 21 pontos na semana. Os demais meses encerraram praticamente inalterados.

O real se fortaleceu ligeiramente frente ao dólar na semana, fechando a R$ 5,1657 afetando os valores em reais por tonelada dos açúcares de exportação que retraíram 26 reais por tonelada para a safra 23/24. É só o presidente da república manter a boca fechada que o mercado financeiro se ajusta.

E a posição dos fundos? Ninguém sabe. Inacreditável que o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, informe que no próximo dia 24/2 (sexta) eles vão divulgar o relatório que deveria ser divulgado dia 3 de fevereiro (3 semanas de atraso !!). Depois, farão todos os esforços para, enfim, regularizar tudo até meados de março. É de dar inveja a qualquer país subdesenvolvido.

Mudando de assunto: será que o mercado de açúcar mudou de patamar? O aumento no custo de produção da commodity afetado pela elevação dos preços de vários insumos tais como defensivos, químicos, diesel, entre outros e motivado principalmente pela guerra que provocou escassez temporária de alguns elementos na cadeia de fertilizantes e outros fatores, contribuíram para uma elevação entre 35-45% no custo total, se comparado com aquele antes da pandemia. 16 centavos de dólar por libra-peso – nível que entendemos ser o chão absoluto do mercado – é o novo 13 centavos de dólar por libra-peso (nível que outrora era o suporte do mercado).

Você pode perguntar se esse argumento se sustenta? Vejamos, então: tomamos como base os fechamentos diários do primeiro contrato futuro negociados em NY desde 2000 até hoje, convertidos em reais por tonelada pela taxa de câmbio do dia, fornecida pelo Banco Central do Brasil e, depois, corrigidos todos os valores para preços de hoje usando como metodologia o IPCA. Com base nesses dados, verificamos que apenas 25% das vezes o mercado ficou abaixo do equivalente a 12 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, vender puts (opções de venda) nesse preço de exercício parece tirar pirulito da boca de criança. Metade das vezes ficou acima de 14.25 centavos de dólar por libra-peso. E para quem gosta de Fibonacci, 38% das vezes ficou acima dos 16 centavos de dólar por libra-peso.

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