Rússia e Ucrânia, países envolvidos no conflito, têm grande importância na agricultura na região.
O aumento das tensões no Leste Europeu provocou uma alta acelerada nos preços das commodities agrícolas no mercado internacional. O milho e o trigo, dois cereais que têm grande importância na região, foram os que mais subiram.
O reconhecimento, pela Rússia, das duas repúblicas separatistas na Ucrânia provocou uma alta em todas as commodities agrícolas destinadas à alimentação. O algodão teve queda.
Essa pressão nos preços ocorre porque, além da importância da região para o fornecimento de grãos ao mercado internacional, eventuais sanções à Rússia, pelos Estados Unidos e países europeus, vão interferir no comércio mundial.
O trigo foi o mais sensível, registrando alta de 5,9% na Bolsa de Chicago nesta terça-feira (22), em relação às negociações de sexta-feira (18). O contrato de março foi negociado a US$ 8,44 (R$ 42,71) por bushel (27,2 kg) no final do pregão.
Os russos produzem 76 milhões de toneladas do cereal e exportam 33 milhões. A produção mundial de trigo é de 776 milhões de toneladas por safra, e 109 milhões têm origem nos dois países. Juntos, eles são responsáveis por 29% dos 208 milhões de toneladas que trocam de fronteiras no mundo.
O milho teve alta de 3,1%, terminando o dia em US$ 6,75 por bushel (25,4 kg). Assim como no caso do trigo, que tem a Rússia como líder mundial nas exportações, o milho desta região também tem grande importância para o mercado mundial.
A Ucrânia produz 42 milhões de toneladas e exporta 36,5 milhões. Boa parte desse produto vai para a China (8,5 milhões) e para a União Europeia (7,5 milhões).
Juntos, Ucrânia e Rússia, esta última com menor importância, somam 19,5% do milho comercializado no mundo.
O conflito no Leste Europeu tem importância para o Brasil, uma vez que a Rússia é uma grande fornecedora de fertilizantes para o país. No ano passado, dos 41,6 milhões de toneladas de adubo importados, 9,3 milhões vieram do Rússia.
Além disso, o Brasil depende também do potássio de Belarus, outro país que sofre sanções das grandes potências. Com o agravamento da situação no Leste Europeu, o Brasil teria dificuldades não só no abastecimento, mas também sofreria os reflexos da alta internacional dos preços.
Os preços da soja, já embalados pela seca na América do Sul, seguiram o ritmo das demais commodities. A oleaginosa subiu para US$ 16,35 (R$ 82,74) por bushel (27,2 kg), 2,1% a mais do que no pregão anterior.
As commodities agrícolas negociadas em Nova York, como café, açúcar e algodão, também registraram os efeitos do aumento das tensões. À exceção do algodão, todas tiveram altas.
O petróleo negociado nos Estados Unidos, devido à importância dos russos nesse mercado, foi a US$ 92,3 (R$ 467) por barril, com alta de 1,3%.
A alta dos preços externos teve pouco reflexo no mercado interno, devido à queda do dólar, em relação ao real. A saca de soja manteve, nesta terça-feira, os preços de sexta-feira, sendo negociada a R$ 192 em Cascavel (PR).
Já o milho teve pequena valorização, subindo de R$ 95, na sexta-feira, para R$ 96 nesta terça, conforme cotações da AgRural. Nesta segunda-feira, foi feriado nos Estados Unidos, mercado que dá as bases para as negociações internacionais (Folha de S.Paulo, 23/2/22)