Por Vera Ondei
Fundador líder e presidente do conselho do Grupo Cosan fala do futuro do agronegócio brasileiro, do meio ambiente e das 40 mil pessoas que ele “carrega junto”.
“Sou fundador, presidente do conselho de administração e controlador do grupo Cosan, um dos maiores grupos econômicos do Brasil, com investimentos nas áreas de energia e logística. Mas, quando assumi, éramos um conjunto de usinas familiares de cana-de-açúcar no interior do estado de São Paulo.” Assim Rubens Ometto Silveira Mello, 71 anos, se apresenta nas primeiras linhas do livro autobiográfico que ele escreveu em 2020, com a ajuda do amigo Aguinaldo Silva, jornalista, dramaturgo, escritor, roteirista e um dos maiores autores de telenovelas da televisão brasileira.
Ometto, aliás, é um noveleiro confesso: “Quando não consigo assistir às minhas novelas, gravo e assisto depois – e também agora temos Netflix”, comemora, referindo-se aos streamings que não o deixam perder nenhum capítulo de novela ou série. A cabeça que construiu uma das principais companhias do país tem esse jeito de ser: não deixa nada para trás e vai arrastando para junto de si tudo o que está à sua volta, tem olhos atentos no presente e uma vontade gigante de inventar um futuro. “É fundamental para o Brasil de hoje o sucesso do agronegócio”, sentencia.
A lista de bilionários brasileiros da Forbes, publicada no ano passado, traz 40 nomes ligados ao agronegócio, do total de 315 listados em todos os setores da economia. Entre eles está Ometto, um dos principais nomes do agronegócio brasileiro. Em 2020, a Cosan, um conglomerado que reúne Raízen e Rumo (duas companhias totalmente identificadas com o agro) e mais a Moove, a Compass e a Trizy, faturou R$ 68,6 bilhões.
Grupo Cosan conta com cerca de 40 mil funcionários e 15 mil parceiros de negócios em todo o país
A Raízen, que nasceu em 2011 como uma joint venture com a norte-americana Shell, faturou no ano passado R$ 120,6 bilhões. A companhia é uma das mais modernas do mundo na produção de etanol de primeira e de segunda geração (produzido a partir da palha, a biomassa que seria descartada no campo), mais biogás, bioenergia e hidrogênio verde a partir dos resíduos do biogás, que por sua vez é gerado pelos resíduos do etanol de segunda geração.
A façanha não faz parte de algum livro ou filme de ficção científica, já que o hidrogênio normalmente é extraído de combustíveis fósseis: o primeiro contrato de fornecimento de hidrogênio verde foi fechado em setembro passado com a produtora de fertilizantes Yara, que em 2020 faturou R$ 16 bilhões. Nos negócios da companhia, somente de unidades produtoras são 35 destinadas a açúcar, etanol, bioenergia e refinaria, que se abastecem em uma área cultivada de 1,3 milhão de hectares de cana-de-açúcar.
Quando questionado sobre como planejou seus negócios para se tornar o que é hoje, Ometto diz que “mente pra caramba sobre ser tudo planejado, quando na verdade as coisas vão acontecendo”. Mas o engenheiro de produção formado em 1972 na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que sempre “quis, na vida pessoal e profissional, ser um maratonista e não um corredor de 100 metros”, deixa muito claro o que pensa do futuro e como o país tem se encaminhado nos dias atuais, especialmente nos temas ligados à produção de alimentos, bioenergia e meio ambiente.
“Ninguém duvida de que o país é o celeiro do mundo. Temos de olhar para a Amazônia, controlar as queimadas, arrumar emprego para os 20 milhões de pessoas que moram nessa região, porque não podemos transformar uma pedra preciosa em um câncer”, diz ele. “Isso tira nossa competitividade. O Brasil tem quase US$ 400 bilhões de reservas internacionais, a maior parte gerada pelo agro – e vai continuar assim. Isso dá ao país instrumentos para se equilibrar. É preciso saber usar.”
A saída é estar sempre na vanguarda. Ometto diz que sobreviveu às crises do setor da cana-de-açúcar, principalmente a iniciada em 2011 e que levou à quebra de mais de uma centena de usinas, porque sempre teve como régua levar os projetos em frente e “não aceitar as coisas como elas são”.
Não por acaso, foi um dos primeiros a fazer exportação privatizada de cana-de-açúcar (antes era só o governo que fazia), um dos primeiros a entrar de cabeça na cogeração de energia elétrica com o bagaço de cana, o primeiro a investir em logística para diminuir os custos de exportação e um dos primeiros a abrir o capital para ter acesso a dinheiro mais barato. “E sempre fomos uma empresa que acreditou nos seus líderes, porque nenhum sistema é melhor que os homens e as mulheres que o compõem.”
Depois do hub de inovação, Ometto agora pensa em deixar um legado na educação
Hoje são cerca de 40 mil funcionários e 15 mil parceiros de negócios em todo o país. É justamente sobre pessoas que Ometto mais tem disposição para falar. Sobre o futuro de seus negócios, ele diz que caberá aos herdeiros tomar as decisões como acionistas. Ometto é pai de duas mulheres e avô de quatro netos. Mas ele guarda uma carta na manga.
O fazedor de empresas e de lideranças quer investir em educação. Seu sonho é construir algum tipo de estrutura focada em energias limpas e meio ambiente. “Já temos o Pulse, em Piracicaba (SP), um hub de inovação para estimular as startups voltadas às soluções para o nosso negócio”, diz Ometto. “Sonho com alguma coisa que vá além de nós”, filosofa. “Alguma coisa que deixe um legado” (Forbes, 3/2/22; reportagem publicada na edição 92 da Revista Forbes como parte do Especial “As 100+ do Agro”)