O impacto no mercado de adubos brasileiro poderá ser maior ou menor dependendo dos riscos de invasão da Ucrânia pela Rússia. Preços em alta dos fertilizantes são outro ponto de atenção para agricultores.
Uma crise geopolítica internacional, que envolve questões em países como Ucrânia, Rússia e Belarus, e uma menor oferta de fertilizantes por restrições em nações exportadoras preocupam o pujante mercado brasileiro de adubos, que cresceu mais de 10% em 2021, comentou o diretor-executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) hoje (7).
O impacto nos negócios do Brasil, que tem importado cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes, poderá ser mais ou menos acentuado dependendo dos riscos de invasão da Ucrânia pela Rússia e das eventuais reações e sanções dos Estados Unidos, acrescentou o executivo Ricardo Tortorella.
“Se esses riscos internacionais não pesarem tanto, de fato o produtor vai comprar bastante, pois vamos crescer a safra. Se os riscos… pesarem muito, tem gente que pode arrefecer”, afirmou ele à Reuters, evitando fazer projeções para o mercado em 2022, em linha com a política da entidade que reúne empresas como a norte-americana Mosaic e norueguesa Yara.
Diante da forte demanda global por alimentos, produtores no Brasil têm motivação para investir em adubos que maximizam as produtividades, mas o setor não passa ileso a riscos de conflito, por exemplo. Preços em alta dos fertilizantes também são outro ponto de atenção para agricultores, embora a relação de troca por produtos agrícolas tenha sido beneficiada com a alta recente das commodities.
“A gente tem tudo para ter uma boa safra, tem tudo para ter expectativas que vamos ter uma safra recorde sim, e que esses problemas que estão aí possam ter solução. Mas não dá pra falar que não tem problema… Qualquer invasão da Rússia na Ucrânia muda o cenário”, comentou.
Por ora, a maior preocupação, disse Tortorella, é em torno do cloreto de potássio, cuja oferta é quase toda importada. A matéria-prima é um dos três ingredientes básicos para adubar safras, que incluem também os fertilizantes fosfatados e nitrogenados.
A indústria de fertilizantes brasileira já vinha considerando o impacto das sanções dos Estados Unidos à Belarus, decorrentes de medidas punitivas do Ocidente contra o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, devido à repressão a políticos locais.
Belarus é um dos maiores produtores globais de potássio, que incluem também Canadá e Rússia.
Dos cerca de 11 milhões de toneladas de potássio que Belarus exporta por ano, o Brasil compra pouco mais de 2 milhões de toneladas, segundo a Anda, enquanto o setor brasileiro também importa mais 2 milhões de toneladas da Rússia.
Nos últimos anos, o Brasil vem batendo recordes de vendas de fertilizantes, à medida que amplia a produção agrícola. Em 2021, o país pode ter fechado com entregas de até 45 milhões de toneladas, o que seria uma alta de 11% ante 2020, segundo números da entidade de todos os nutrientes que ainda estão sendo fechados.
De janeiro a novembro de 2021 — período com os últimos dados fechados da Anda, o mercado de fertilizantes do Brasil somou 42,5 milhões de toneladas, um crescimento de mais de 14% ante o mesmo período do ano anterior, sendo que 35,6 milhões de toneladas foram de produtos importados, com alta de 19%.
O executivo avaliou que a produção de insumos para a fabricação de fertilizantes não tem avançado na mesma velocidade da demanda global, o que por si já seria motivo de preços sustentados que agora ganham novo impulso das crises geopolíticas globais, além de restrições a exportações impostas por países como a China e Rússia.
“A inflação está alta e preços de energia estão mais altos, o que obriga países a tomarem decisões contra a inflação. Uma medida que tem sido constante, a Rússia e China adotando medidas, reduz exportação para ter mais produto no ambiente interno, isso representa menos insumo para o resto do mundo”, comentou.
No ambiente geopolítico, Tortorella citou ainda um importante gargalo logístico, após a Lituânia ter proibido o tráfego de potássio de Belarus por suas ferrovias neste mês.
Apesar da tensão, o executivo da Anda disse ainda acreditar na possibilidade de uma solução política ainda neste primeiro semestre, para que os fluxos comerciais de Belarus não fiquem prejudicados o ano todo.
Segundo ele, o Canadá, maior produtor de potássio, não conseguirá repor volumes de Belarus excluídos do mercado pelas sanções.
“Temos expectativa de que haja uma solução que arrefeça, que atenue as consequências dos problemas.”
Ele disse ainda esperar que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que deverá viajar com o presidente Jair Bolsonaro à Rússia neste mês, tenha sucesso em auxiliar o setor privado a garantir ofertas russas neste momento de escassez, após o anúncio de que a Petrobras acertou a venda de um projeto de fertilizantes nitrogenados para o grupo russo Acron (Forbes, 7/2/22)