Em mais uma reviravolta na saga da sucroalcooleira Atvos, o Mubadala Capital pode assumir o controle da companhia nesta semana, num acordo fechado com bancos credores e sem participação do atual controlador, o fundo americano Lone Star, apurou o Pipeline.
BNDES, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander convocaram uma assembleia para sexta-feira, dia 16, em que vão votar a troca de controle, já com votos predefinidos. A possibilidade estava prevista no plano de recuperação judicial da Atvos, e se dará por troca de dívida velha por dívida nova e uma injeção de capital de R$ 500 milhões na companhia.
Se por um lado os bancos têm interesse em resolver de vez o destino da Atvos e ter um problema a menos em seus passivos, as condições e timing do acordo são consideradas peculiares por fontes próximas ao assunto. Isso porque a companhia voltou a ser geradora de caixa e a pagar seus compromissos de dívida, mas o acordo estabelece um desconto estimado em cerca de R$ 2 bilhões na dívida, a valor presente, com vencimento em 20 anos e carência de três.
A Atvos terminou o último ano fiscal com Ebitda ajustado de R$ 2,2 bilhões, aumento de 83% sobre o ano anterior e 121% no comparativo de dois anos atrás, quase dobrando a área plantada no período. A companhia deve fechar o exercício corrente com saldo de caixa de R$ 1,2 bilhão. Com o acordo, a empresa vai trocar novamente a administração.
O acordo dos bancos também libera a Novonor de garantias que ainda estavam vinculadas em operações com os credores, numa tratativa privada que não envolveu processo competitivo com outros players. Fontes próximas aos bancos dizem que a injeção de capital foi um dos pontos fortes da proposta, para liquidez de longo prazo da companhia, e que o processo faz parte do que foi aprovado e homologado na RJ. O grupo reúne 80% dos credores.
Há condições para a nova administração, como manter caixa mínimo de R$ 400 milhões a partir de 2027, ter uma limitação no fluxo de dividendos e, depois do terceiro ano, submeter aos credores eventuais planos de IPO ou venda de controle a terceiros.
O Mubadala passa a ser o controlador por meio do fundo MC Green Energy, e há um outro veículo, o Agroenergia FIP Multiestratégia, definido como FIP Gestor, que fica com 5% de participação.
O fundo dos Emirados Árabes voltou a ficar mais ativo no país este ano. Fez uma proposta de aquisição do Burger King Brasil, colocou proposta pela joint venture de etanol BP Bunge Bioenergia e liderou uma rodada de capitalização na Cerc. No fim do ano passado, comprou a refinaria de Mataripe das mãos da Petrobras. O Mubadala atua com diferentes bolsos no Brasil, com capital próprio do fundo soberano de Abu Dhabi e com private equity que inclui recursos de terceiros.
Na Atvos, os bancos públicos são os maiores credores. Procurados, Mubadala, Lone Star, Novonor, BB e BNDES não comentaram até a publicação desta reportagem (Assessoria de Comunicação, 12/12/22)