Por Giovanni Lorenzon
Desafios para as usinas a partir de 2023 acentuam um risco de novo processo de crise
Se o último processo de consolidação das usinas canavieiras foi depois do segundo governo Dilma Rousseff, e se estendeu ainda agudo às bordas de 2019, com inúmeras falências e recuperações judiciais, um novo pode estar para começar.
Se no outro o xis do problema foi acelerado pelo represamento dos preços da gasolina pela Petrobras (PETR4) por longos períodos, desestruturando a alavancagem extraordinária e mal calculada nos investimentos feitos visando o etanol, enquanto o açúcar também não remunerava bem – e a produtividade não alimentava rentabilidade -, o risco agora vem ‘de fora’.
Em artigo desta segunda (19), Arnaldo Correa, CEO da Archer Consulting, pontua que as tradings estão girando menos negócios com açúcar na bolsa de Nova York, exemplificando com o seguinte levantamento: no triênio 2018-20, o volume médio negociado esteve de 16% a 19% acima do dos últimos dois anos.
Com “menor ajuste” da trading book, haverá necessidade de maior capital de giro para “manter a máquina rodando” e “seletividade na escolha do parceiro comercial”.
Esse segundo ponto, destaca o analista especialista em risco de commodities, deverá levar a uma redução da margem, uma vez que mais competidores [exportadores de açúcar] estarão disputando os melhores clientes.
Entre aumentar o risco e buscar dinheiro no mercado para recompor a perda de receita, Correa adverte que 2023 vai implicar em atenção redobrada na gestão de risco e na redução de custos fixo.
O pior, diz, é que essa consolidação pode durar ainda uns 10 anos, podendo culminar com nova onda de falências, recuperações judiciais e, por conseguinte, troca de donos desses muito ativos comprometidos – ou sobre os menos comprometidos.
“A seleção natural vai impor duros reveses àquelas empresas que estão no último quartil de seu segmento, aquelas que estão basicamente respirando por aparelhos”, ainda complementa o consultor da Archer (Money Times, 19/12/22)