Alexandre Silveira também se recusou a comentar declaração de presidente colombiano sobre negacionismo da esquerda em relação a combustíveis fósseis.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, negou o consenso científico em relação à necessidade de impedir novos investimentos em combustíveis fósseis para que seja possível cumprir o Acordo de Paris.
De acordo com o painel climático da ONU (IPCC, na sigla em inglês), para atingir a meta de frear o aquecimento global em, no máximo, 1,5°C é essencial que não sejam iniciados novos projetos de petróleo, carvão e gás. Nesta terça-feira (8), no entanto, Silveira negou o entendimento do órgão, que é a maior referência global em ciência climática.
“Nós temos estudos que apontam, de forma clara e cristalina… que contrapõem exatamente essa posição do IPCC”, disse. Quando questionado sobre qual estudo seria esse, citou a Agência Internacional de Energia –no entanto, a entidade apontou o mesmo que o IPCC.
A declaração foi dada em entrevista coletiva em Belém, na Cúpula da Amazônia, que reúne líderes dos países do bioma.
Mais cedo, na abertura do evento, o presidente colombiano, Gustavo Petro, afirmou que a recusa em abrir mão de combustíveis fósseis é um negacionismo da esquerda. Questionado sobre a declaração, o ministro brasileiro não comentou.
“A posição de um chefe de Estado tem que ser respeitada e, democraticamente, tem que ser debatida. E a partir do documento [final do encontro] é que nós vamos ter o resultado efetivo, e não polarizado com relação a uma declaração isolada.”
Silveira defende a ampliação da exploração petrolífera no Brasil, inclusive na bacia da Foz do Amazonas, onde a Petrobras quer perfurar o fundo do mar para aferir a dimensão das reservas de óleo na região.
A licença para a perfuração foi negada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que vê risco nas atividades da petroleira em uma região de vulnerabilidade socioambiental. A estatal recorreu da decisão, que está sob nova análise do órgão fiscalizador.
O chefe do Ministério de Minas e Energia repetiu na capital paraense falas anteriores, em que defendeu que a iniciativa na margem equatorial brasileira, que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, é um direito da população brasileira de “conhecer as potencialidades” minerais e energéticas do país.
“O grande desafio dos países em desenvolvimento, como o Brasil –na visão do ministro de Minas e Energia do país– é fazer o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, conflitos sociais e a sustentabilidade”, afirmou, acrescentando que a busca por esse equilíbrio é o motivo, por exemplo, de 16 ministros de Estado comporem o Conselho Nacional de Política Energética.
“O Brasil é um exemplo de governança. É importante a gente ter orgulho do Brasil. É importante que a gente defenda nossa matriz [energética]”, disse Silveira. “Neste momento em que se discute a salvaguarda do planeta, nós queremos valorar essa matriz para poder combater a desigualdade, fome, miséria no Brasil. O que não é justo com os brasileiros e brasileiras, na minha visão, é que a gente só sirva para isso.”
Também presente na Cúpula, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendeu o investimento em petróleo como parte da transição energética.
“O que nós temos que fazer, inclusive aproveitando que a COP será aqui, é discutir como o uso do petróleo, que ainda vai durar por algumas décadas, pode ajudar a financiar a transição energética”, afirmou em entrevista coletiva.
Prates disse ainda que suspender a exploração de petróleo é uma decisão de Estado, que deve ser cumprida, mas que ainda é cedo para tratar de assunto tão drástico. A transição energética por si mesma é uma transição, não é uma ruptura, não acontece de um dia para o outro”, argumentou.
O presidente da petroleira declarou que aproveitou a reunião em Belém para encontrar governadores dos estados amazônicos, lembrou que as atividades da empresa deixa royalties e participações governamentais importantes no estado do Amazonas e que a empresa produz petróleo na região amazônica sem nenhum incidente há décadas (Folha, 9/8/23)