Evento vai reunir cerca de 40 equipes, com mais de 300 estudantes de todas as regiões do Brasil e de países como Argentina, Bolívia, Colômbia, México e Peru
Pela primeira vez, a Shell irá usar o hidrogênio renovável como combustível em uma das categorias de sua competição universitária Shell Eco-marathon Brasil para avaliar a eficiência e o custo do produto e estimular seu desenvolvimento no futuro. A sexta edição da corrida, que tem o objetivo de desenvolver novas tecnologias automotivas, será realizada no final deste mês.
O gerente de Tecnologia de Baixo Carbono da Shell Brasil, Alexandre Breda, afirma que esse tipo de competição tem o intuito de promover a conscientização dos alunos e desenvolver equipamentos cada vez mais eficientes, tecnologias novas, seja para melhorar eficiência ou baixar custos.
“É uma competição bem bacana e, lá na frente, pode chegar à indústria automotiva de alguma forma”, diz.
O executivo explica que, como o Brasil ainda não produz hidrogênio verde, a corrida utilizará hidrogênio a partir do gás natural, classificado como hidrogênio azul, denominação rejeitada por Breda. “O hidrogênio em si é o mesmo, independente da cor, é a mesma molécula. O que tem no Brasil hoje é feito de gás”, afirmou.
A bateria com o novo combustível será formada por universitários do México e da Bolívia. As outras categorias são de carros a combustão (etanol) e elétricos. Para serem avaliados, os veículos passarão por inspeção técnica e deverão percorrer um circuito de cerca de 10 quilômetros com o mínimo de combustível possível.
A equipe vencedora será a que fizer a maior distância com a menor quantidade de energia. Nesta edição, a Shell Eco-marathon vai reunir cerca de 40 equipes, com mais de 300 estudantes de todas as regiões do Brasil e de países como Argentina, Bolívia, Colômbia, México e Peru.
“O carro a hidrogênio é elétrico, mas em vez de abastecer na tomada, você gera sua energia elétrica a partir do hidrogênio na célula combustível. O que move o motor do carro é a energia elétrica, ela vem da célula combustível, que junta o hidrogênio com o oxigênio do ar e gera energia elétrica e água. O legal dessa tecnologia é que o que sai do escapamento é água”, informou.
A Shell já produz hidrogênio verde na Alemanha e na Holanda, mas no Brasil, até o momento, não prevê construir uma unidade dedicada ao combustível, disse Breda. A empresa aposta na produção de hidrogênio a partir do etanol, e anunciou há duas semanas a construção da primeira estação experimental de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do biocombustível do mundo no Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Universidade de São Paulo (USP).
A iniciativa é uma parceria com a Shell, Raízen e Toyota e deve começar a produzir no segundo semestre do próximo ano. Segundo o executivo, a produção do hidrogênio com etanol tem diversas vantagens de logística, já que o transporte do hidrogênio verde ainda é um desafio no mundo inteiro.
Além disso, o Brasil tem etanol em abundância, e, segundo Breda, por essa tecnologia as emissões podem ser negativas, enquanto o hidrogênio verde, que é produzido por energia renovável (solar e eólica), garante a neutralidade de carbono.
Segundo especialistas, o carbono gerado pela reforma do etanol poderia ser enterrado em áreas próximas das usinas (produtoras de açúcar ou de etanol) a até 4 quilômetros de profundidade. O carbono, neste caso, reage com outras substâncias e fica inerte. É desta forma que a cadeia da cana poderá até ficar com emissões negativas (mais absorção do que emissão de carbono) no Brasil.
Breda ressaltou que com a Shell Eco-marathon a companhia consegue informações importantes sobre as performances dos motores com vários tipos de combustíveis, o que leva a empresa a oferecer mais opções ao mercado.
“Queremos desenvolver novas tecnologias para trazer opções para o mercado. Não existe uma opção melhor, todas são boas, mas para alguns setores a combustão é melhor, para outros é o elétrico e para outros hidrogênio é melhor. Queremos trazer opções para o consumidor avaliar qual o melhor para ele”, afirmou (Estadão, 26/8/23)