Por Arnaldo Luiz Corrêa
Nesta sexta-feira, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana cotado a 23.68 centavos de dólar por libra-peso no contrato futuro para vencimento em outubro/23, acumulando baixa de 24 pontos em comparação ao fechamento da semana anterior. A queda equivale a pouco mais de 5 dólares por tonelada. Os demais vencimentos na curva de preços de NY que se estende até o maio de 2026 encerraram com quedas entre 11 e 28 pontos.
O real se desvalorizou 2.87% frente ao dólar (R$ 4.8657) no acumulado da semana. Dessa forma, os valores médios de NY convertidos em reais por tonelada apreciaram 31 reais por tonelada para quase toda a curva.
O mercado de açúcar bem que tem tentado se recuperar ao longo da semana, mas como costuma acontecer com bastante frequência em commodities, os fundamentos acabam tendo o “péssimo hábito” de se sobrepor às narrativas de todos matizes. Mesmo com compras por parte do Egito que deram uma roupagem de necessidade de açúcar no curto prazo, o mercado não resistiu. Os fundos liquidaram 10,767 lotes e possuíam ainda na terça-feira passada 133,532 lotes comprados. Como NY apresentou quedas nos últimos três dias, é razoável imaginar que os fundos devem ter liquidado um volume adicional de 8,000 a 10,000 lotes.
O clima – leia-se El Niño – é o único evento com magnitude suficiente para elevar a curva de preços aos níveis vistos em final de abril deste ano. Eu não apostaria nisso. Muito arriscado fiar-se nessa possibilidade. A principal razão é que não se percebeu mudança climática alguma nas regiões canavieiras do Centro-Sul e nada digno de nota ocorreu na Índia, tampouco. Portanto, parece-nos que a chance real de uma subida do preço vai ficando para trás.
Apenas como exercício, se olharmos o modelo do Black & Scholes, por meio do delta informado no relatório diário da Bolsa de NY, a chance de o outubro/23 negociar a 27.50 centavos de dólar por libra-peso é menos de 10%. Já o março/24 tem possibilidade maior (porque temos mais tempo até o vencimento das opções e porque o março/24 é mais caro que outubro/23): pouco mais de 30%. Ora, 30% é a probabilidade aproximada – segundo matemáticos do futebol – de o meu Santos cair para a Série B do Campeonato Brasileiro este ano. Mas, tem muito jogo pela frente. E eu não me refiro ao futebol, mas ao nosso mercado mesmo!
Interessante notar que a moagem acumulada até o dia 16 de julho no Centro-Sul, segundo a UNICA, foi de 258.3 milhões de toneladas de cana bem próxima da média de moagem das últimas seis safras (2017/18 até 2022/23) que foi de 257.6 milhões de toneladas de cana. Essas últimas seis safras, a moagem acumulada até esse período do ano representou entre 41.5% e 49.5% de toda a cana moída naquele ano. É uma safra diferente, com melhor produtividade, com mais cana e as apostas são de que a produção pode chegar perto dos 620 milhões de toneladas de cana, segundo uma trading bastante ativa no mercado.
A pergunta que todos se fazem é acerca da possibilidade de se moer toda essa cana dentro do cronograma das usinas. A resposta sinaliza um sonoro “não”. Limitadas pela capacidade de cristalização e de armazenamento, a solução seria cana deixada para moer no ano seguinte (cana bisada). Segundo fontes ligadas à produção, a capacidade máxima de cristalização no Centro-Sul é de 735 milhões de toneladas de cana. Com aproveitamento de 85% e mix açucareiro de 48%, o volume máximo de produção de açúcar bate em 40 milhões de toneladas de açúcar. A conferir.
O etanol continua depreciado. No entanto, tudo indica que a Petrobras vai ter que mexer no preço da gasolina nas refinarias, pois a defasagem com o preço do mercado internacional vai se avolumando. Como o real se desvalorizou frente ao dólar nesta semana, seria de bom tom (para evitar aborrecimentos futuros à cúpula diretiva) que a empresa corrigisse os preços. Isso ocorrendo, não se espera efeitos no preço do açúcar, mas apenas uma correção no preço por demais menosprezado pela empresa. Segundo a BioAgência, a defasagem entre o mercado internacional e o preço na refinaria estabelecido pela Petrobras no início desta semana era de R$ 0.6466 por litro!!
Pior que essa disparidade são os comentários repletos de asneiras e contradições do Ministro de Minas e Energia segundo o qual, “acabamos com a política criminosa” referindo-se ao final da paridade internacional usada pela Petrobras desde 2016. Para essa gente da esquerda, empresa boa é empresa que dá prejuízo. É por isso que eles adoram estatais. Esse ministro que está aí é técnico em contabilidade, advogado e ex-delegado de polícia, condições precípuas – como sabemos – para que uma pessoa se habilite a ser ministro de Minas e Energia.
Apesar do cenário pouco construtivo no curto e médio-prazos, dependendo do clima para ver os preços se reerguerem, o setor é construtivo no longo prazo. Seja pelo aumento de consumo per capita de açúcar nos países asiáticos (exceção de China); seja pelos consumidores de outros adoçantes que concorrem com o açúcar em relação aos malefícios à saúde (tem um episódio de uma série chamada “História: direto ao assunto” no Netflix que discorre sobre os danos à saúde causado pelo HFCS); seja pela perspectiva otimista da utilização maciça de biocombustíveis nas próximas décadas, destaque para o SAF (sigla em inglês para combustíveis sustentáveis para a aviação). Muito difícil não ficar otimista com o setor. Mas até lá, o caminho é longo.
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