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Açúcar: Crise existencial

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 Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 17.56 centavos de dólar por libra-peso no contrato com vencimento para outubro/22, consolidando uma queda de 33 pontos em relação à semana passada (pouco mais de 7 dólares por tonelada). Ocorre que com a valorização semanal de 5.9% do real relativamente à moeda americana, os valores do açúcar em NY convertidos em reais por tonelada apresentaram uma queda contundente de R$ 154 e R$ 168 por tonelada na média para os vencimentos da 22/23 e 23/24, respectivamente.

Se tem alguma lição a ser aprendida com esse mercado ciclotímico é que a disciplina deve ser a prioridade na formulação de uma politica de risco. Explico: observando os valores de fechamento do contrato futuro de açúcar na bolsa de NY convertidos em reais por tonelada, tomando por base sempre o primeiro contrato negociado e corrigindo os valores usando o IPCA nos últimos sete anos (ciclo da cana), em 75% dos eventos a curva de preços ficou abaixo dos R$ 2,218 por tonelada.

Na semana passada, por exemplo, impulsionada pelos fundos, a bolsa de NY chegou a bater 19,59 centavos de dólar por libra-peso que – com o dólar negociado a R$ 5,4375 – dava uma fixação de R$ 2,447 por tonelada, preço que ocorrera apenas em 8.5% das vezes nos últimos 7 anos. Para a safra 23/24, acreditamos que fixar agora o risco é maior, pois existem vários pontos escuros na formulação de uma estratégia (custo de produção, tamanho da safra brasileira, política do etanol na Índia, mercado de energia, para mencionar alguns), mas para a 22/23 o quadro é um pouco mais nítido.

Os fundos, como temos observado nas últimas semanas, parecem estar em crise existencial. Um dia compram, outro dia vendem, depois recompram e aumentam a posição, depois liquidam e viram a mão. São protagonistas da neurastenia que mencionei no comentário da semana passada.

Agora, de acordo com o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, emitido pela CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição em aberto da última terça-feira, os fundos estão vendidos 41,000 lotes. Ou seja, venderam 81,000 lotes esta semana (estavam comprados 40,000 na semana passada). Haja inteligência de mercado para entender esses movimentos. A cada semana uma nova narrativa para se adaptar ao mercado.

Alerta: mercado está mais volátil e pode ter grandes oscilações. A volatilidade de 20 dias anualizada está em 28%. Há 5 semanas estava em 17%. Ruim para os vendedores de opção de venda que fora-do-dinheiro há menos de duas semanas, que agora estão no-dinheiro. Mas, ainda há tempo.

Números preliminares apontam que a aventura do governo federal em abaixar por decreto o preço dos combustíveis trouxe prejuízos de R$ 15 bilhões para o setor sucroalcooleiro, apenas olhando a redução de preço médio do etanol para as usinas estimado antes das alterações tributárias e o preço depois delas. Não é a primeira vez que o setor paga a conta e não será a última, certamente. Esse é o reflexo da política do “mais Brasil e menos Brasília” que foi promessa de campanha do atual inquilino do Planalto. Qual o efeito prático dessa peripécia eleitoreira? Nós vamos saber em 2023.

O número de moagem acumulado do Centro-Sul divulgado pela UNICA, até a primeira quinzena de julho, atingiu 233.958 mil toneladas, o menor volume desde a safra 2015/16. Naquele ano, no entanto, a safra estava atrasada e acabou totalizando ao seu final 617 milhões de toneladas. Se suavizarmos a média dos últimos oito anos do percentual que representou a moagem da primeira quinzena de julho em relação ao total da safra chegamos em uma previsão (sem muita ciência) para esta safra de 535 milhões de toneladas de cana.

O conselho de administração da Petrobras passa a ter mais poder na supervisão da política de preços da estatal, mas mantém a decisão final acerca da necessidade de reajustes com a diretoria executiva. Dessa forma, a empresa tenta se blindar contra futuras ingerências políticas que certamente virão, independentemente de quem será o inquilino em Brasília, em 2023. A principal mudança, é que agora os procedimentos da política de formação de preços, que eram informais, passam a ser divulgados no site da empresa. Em resumo, a política de preços da empresa vai continuar balizando competitividade e paridade com os preços no mercado internacional. Mas, é bom lembrar que no Brasil até o passado é incerto (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 29/7/22)

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