Arnaldo Luiz Corrêa
Em mais uma semana de queda acentuada, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 19.79 centavos de dólar por libra-peso no vencimento maio/24, que expira no final desse mês. O contexto macroeconômico global, exacerbado pelos conflitos geopolíticos atuais, introduziu uma alta dose de incerteza, levando os operadores de mercado a reduzirem suas exposições a riscos direcionais ou a buscarem estratégias para mitigar tais riscos.
Nas últimas duas semanas, as negociações no mercado de açúcar oscilaram entre a máxima de 22.23 centavos (em 8 de abril) e a mínima de 19.17 centavos (em 17 de abril) por libra-peso. A desvalorização do real frente ao dólar, impulsionada pelo agravamento do cenário geopolítico, pressionou os preços do açúcar. Esta condição tornou as fixações de preços em reais por tonelada mais atraentes, incentivando as usinas a aumentarem o volume de vendas fixadas ao longo da curva futura, que se estende além da safra de 25/26. Resumindo as duas semanas: uma oscilação de 303 pontos.
Uma sustentação significativa ao mercado, durante sua recente tendência de queda, veio dos consumidores industriais, que fixaram os preços da matéria-prima em centavos de dólar por libra-peso. Esse comportamento ocorreu em um contexto onde a média de cotações abaixo dos 20 centavos, observada nas últimas duas semanas, representava uma raridade.
Em períodos de turbulência como o atual, a estratégia mais prudente é manter-se firme e explorar as oportunidades oferecidas pelo mercado. Diversas usinas optaram por vender câmbio esta semana, aproveitando a cotação do dólar acima de R$ 5,2700. Considerando uma taxa de juros interna de 10,75% ao ano, essa operação cambial poderia resultar em R$ 5,6600 até o final do ano. Essa projeção, comparada com a estimativa do Boletim Focus, que aponta para um dólar a R$ 5,0000 no término do ano, sugere um risco calculado e potencialmente vantajoso.
Em São Paulo, em um evento fechado para as principais empresas do setor promovido pelo Itau BBA durante a semana que passou, o economista do banco, Fernando Gonçalves, alertou que o atual momento geopolítico talvez seja “o mais conturbado dos últimos 30 anos”. No entanto, observa que também vivemos “um mercado de exagero, com os investidores zerando posições”. Apesar das nuvens pesadas, o banco prevê um dólar a R$ 5,0000 para o final de 2024 e de R$ 5,2000 para o final de 2025. Gonçalves também acha difícil que o petróleo possa a vir quebrar a barreira de 100 dólares por barril dada as alternativas que são disponíveis, bem como o real se enfraquecer com a previsão de enorme fluxo de moeda via saldo da balança de pagamentos.
Falamos aqui na semana passada que 18.75 centavos de dólar por libra-peso é um suporte de longo prazo. Arriscaria dizer que 18 centavos é o novo 14 de alguns anos atrás. Muito embora esse seja um nível de preço que remunera as usinas, a permanência eventual do mercado ao redor desse nível vai desestimular a participação de Índia e Tailândia.
A notícia mais baixista foi a posição dos fundos publicada pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição da terça-feira passada: estão vendidos 23,076 lotes e, pelo movimento do mercado de terça para cá, tudo leva a crer que a posição short deve ser maior.
Entendo que a virada de mão por parte dos especuladores (de long para short) deveu-se parcialmente a uma migração de posições dentro do grupo das soft commodities. Cacau e café explodiram na semana enquanto açúcar e algodão caíram. Operações long/short servem como delimitadores de risco e, portanto, não é raro quando um fundo fica comprado em um ativo e vendido em outro. Acredito que isso pode ter ocorrido e ajudado a derrubar o mercado de açúcar.
O fato incontestável é que com a presença dos fundos acrescentando mais vendas no mercado uma boa dose de vulnerabilidade é acrescida a esse mercado. Os gestores de risco das empresas irão precisar apurar o foco e ter muita paciência na gestão.
Segundo o analista Marcelo Moreira, após negociar na última quarta-feira nas mínimas do ano no maio/julho/out-24 respectivamente a 19.17 / 19.08 / 19.16 centavos de dólar por libra-peso abaixo do piso da banda de Bollinger dos 50 dias o mercado reagiu, mas ainda fechou a semana ligeiramente abaixo dessa importante média. Agora o contrato maio/24 encontra suporte a 18.97 e resistências a 19.90 / 20.30 / 21.20 / 22.00 centavos de dólar por libra peso. Já o julho/24 encontra suporte relevante a 18.12 centavos de dólar por libra-peso e o outubro/24 a 17.90 centavos de dólar por libra-peso. Já as resistências para ambos vencimentos praticamente nos mesmos níveis a 19.70 / 20.10 / 20.90 e 21.60 centavos de dólar por libra-peso!
Continuam abertas as matrículas para o curso presencial A Inteligência da Comercialização de Etanol no Mercado de Combustíveis, oferecido pela Archer Education e brilhantemente ministrado pelo Tarcilo Rodrigues, da BioAgência. Este curso foi desenhado para profissionais que buscam entender mais sobre o mercado de etanol e suas relações com as demais cadeias de combustíveis, conhecendo os principais pontos da formação de preços. O curso é presencial e vai ocorrer dias 21 e 22 de maio, em São Paulo. Para mais informações contate priscilla@archereducation.com.br (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 19/4/24)