Por Arnaldo Luiz Corrêa
A UNICA divulgou a o volume de moagem na primeira semana de abril: 15.8 milhões de toneladas de cana um avanço de 14.1% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse número poderia ser maior não fossem as condições climáticas desfavoráveis que impediram várias unidades produtoras de iniciar a moagem nos primeiros dias de abril. Embora fazer previsões de safra com muita antecedência possa ser arriscado — como evidenciado pelas estimativas iniciais da safra passada que erraram feio — o mercado atualmente parece concordar com uma expectativa de moagem de aproximadamente 605 milhões de toneladas de cana para a safra de 2024/2025 na região Centro-Sul.
Certamente, a sabedoria convencional sugere que os fundamentos do mercado deveriam prevalecer sobre as expectativas otimistas dos participantes do mercado. No entanto, parece que a realidade frequentemente prefere uma abordagem mais teatral, contrariando as previsões com uma certa dose de ironia que deixa muitos profissionais estupefatos. Como observou um executivo experiente do mercado, com um leve sorriso: “Às vezes, as posições são construídas bem antes de uma análise fundamentada ser realmente considerada, resultando, posteriormente, em um esforço narrativo para justificar tais escolhas.”
Para ilustrar, imagine um trader que, embalado por um otimismo quase heroico, assume uma posição comprada. Quando o mercado, com sua habitual indiferença, segue numa direção adversa, resta a esse trader a tarefa quase literária de tecer uma narrativa que justifique tal desventura. É um espetáculo digno de nota, mostrando que até no mais rigoroso dos mercados, a arte da justificativa após o fato é uma habilidade tão valorizada quanto a própria análise de riscos. Afinal, essas surpresas acontecem nas melhores famílias.
Sei de uma história que data de muitos anos atrás, envolvendo uma trading de café cujas previsões de safra eram consideradas extremamente confiáveis pelo mercado. Tradicionalmente, essa previsão era divulgada imediatamente após o fechamento da bolsa de Nova York, antecipando um possível efeito altista no pregão seguinte. Naturalmente, a empresa já havia posicionado suas apostas na compra de futuros e basis, visando capitalizar sobre a sua própria previsão.
Qual não foi, porém, a surpresa ao testemunhar uma queda significativa nos preços logo na abertura do mercado no dia seguinte. Os traders, boquiabertos, trocaram olhares que misturavam incredulidade e um prenúncio do desastre que essa reviravolta representaria para os resultados operacionais. Até que, em um momento de clara frustração, um deles exclamou: “Esse mercado está errado”. A dura realidade, no entanto, é que o mercado, com sua implacável lógica de oferta e demanda, raramente se engana. A lição amarga a ser absorvida é que, quando há um descompasso entre expectativas e realidade de mercado, frequentemente o erro não está nas forças de mercado, mas sim nas premissas dos que nele operam.
Esse preâmbulo todo para dizer que o mercado futuro de açúcar em NY, sentindo o peso dos fundamentos, encerrou a quarta semana seguida em baixa deixando o vencimento maio/24 cotado a 19.42 centavos de dólar por libra-peso. Em quatro semanas a queda acumulada chega a 310 pontos, nada menos que 68 dólares por tonelada que convertidos pela taxa de câmbio representa um encolhimento de 364 reais por tonelada.
O pior ainda pode estar por vir. Segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com os dados de terça-feira passada, os fundos aumentaram sua posição vendida para 34,450 lotes. Além disso, vimos a posição em aberto no vencimento maio/24 que expira na próxima terça-feira subindo 606 lotes, totalizando 59,299 lotes. Como ainda teremos dois pregões pela frente, é razoável imaginar que a entrega deverá ficar entre 1.0 e 1.5 milhão de toneladas de açúcar. Se a bolsa é o “melhor comprador” isso mostra a fraqueza do físico.
O que pode mudar esse estado de coisas? Do lado dos fundamentos, questões climáticas que impeçam a moagem, safra menor do que o esperado (590 milhões de toneladas, por exemplo, teria um impacto altista) e, não podemos esquecer, no nível atual abaixo dos 20 centavos de dólar por libra-peso nem Índia, nem Tailândia estariam predispostos a vender no mercado internacional. Embora este escriba estivesse inclinado a aceitar que a Índia exportaria açúcar depois das eleições de maio, atendendo uma janela até 30 de setembro, nesses níveis acredito que eles ficam definitivamente fora.
O lado positivo é que a demanda tem surgido com China e outros destinos abocanhando 1.8 milhão de toneladas de açúcar, enquanto o consumo de etanol no Brasil tem melhorado. A defasagem no preço da gasolina administrado pela Petrobras com a interferência do (des)governo Lula continua em 20% e quem paga essa conta é o contribuinte que subsidia a gasolina barata para a classe média.
Segundo o analista Marcelo Moreira, colaborador da Archer Consulting, com o vencimento do contrato futuro maio-24 na próxima terça a expectativa para uma nova entrega grande voltou a pressionar as cotações. O spread Maio-24/Julho-24 encerrou a semana ainda invertido em 31 pontos e o spread Julho-24/Out-24 no “carrego” em 9 pontos. O próximo vencimento Julho-24 encerrou a semana novamente abaixo de todas as principais médias-móveis encontrando resistências agora a 19.20/ 19.50/20.20/21.20/21.60 e finalmente a 22.60 centavos de dólar por libra-peso. Já suporte importante 18.34 centavos de dólar por libra-peso. Já para o próximo vencimento Maio-25 suporte importante a 16.91 centavos de dólar por libra-peso e resistências a 18.96/19.14/19.68/20.60 centavos de dólar por libra-peso.
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