Por José Roberto Mendonça de Barros
Argumento de setores da indústria de que o setor se resume à exportação de grãos é equivocado.
Com o novo governo, voltou à luz um debate que nunca nos deixou. Setores da indústria tentam obter protagonismo ao se contrapor ao sucesso do agronegócio, criticando a exportação de grãos, uma coisa primária e atrasada.
O argumento é essencialmente equivocado, pois o agro está numa fase de grande criação de valor, especialmente por meio do progresso tecnológico.
A expansão da digitalização e da agricultura de precisão está reduzindo o uso de certos insumos e o custo de produção.
Ao mesmo tempo, estamos assistindo às melhorias contínuas na utilização de big data na gestão de riscos de produção, das finanças e das atividades empresariais.
Também são contínuas as melhorias no sistema integrado de produção (ILPF) e de controle de pragas (MIP).
Finalmente, o processo de descarbonização está intensificado pela utilização de bioprodutos, como fertilizantes, defensivos, condicionantes do solo, inoculantes e outros. Tudo isso passa pela indústria e pelos serviços.
Por sua vez, a criação de valor está se intensificando por vários caminhos:
Pela produção de produtos com atributos específicos: orgânicos, veganos, sem lactose, que tenham práticas de bem-estar animal, rastreáveis e produtos regionais com denominação de origem, como cafés, chocolates especiais e muitos outros;
Pelo crescimento da importância de “pequenos produtos”: peixes em cativeiro (cuja produção já se aproxima de um milhão de toneladas), mel de todos os tipos, azeite de oliva, trigo no cerrado (com e sem irrigação), vinhos em novas regiões (fruto da tecnologia da dupla poda), queijos e outros produtos artesanais premiados e certificados, flores e frutas;
Pela produção de novos alimentos: carnes e ovos a partir de proteína vegetal, leite de sementes oleaginosas, grãos não tradicionais (“pulses”);
Pela produção de novas energias e equipamentos: biogás de várias origens, bio-óleo, lignina, hidrogênio verde e combustível de aviação sustentável (SAF);
Pela produção de novos materiais: elastano e compósitos plásticos, a partir de celuloses especiais;
Pela ampliação de casos de economia circular, como o do Inpev das embalagens de defensivos;
Finalmente, pela expansão dos serviços a distância, como assistência técnica, gestão, produção, marketing e outros.
Além do crescimento do PIB e da renda setorial, todas essas atividades estimulam novas plantas industriais, ou dão novo sentido a fábricas existentes, como carros híbridos a etanol.
Voltaremos a isso na próxima coluna (O Estado de S.Paulo, 16/4/23)