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Internet no campo avança, mas zonas sem conexão prejudicam uso de máquinas

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Antiga frequência da TV analógica é usada para propagar conexão no campo; cobertura é de apenas 12% no meio rural.

Num intervalo de quatro anos, um programa criado por empresas do agronegócio fez com que mais de 12 milhões de hectares até então totalmente desconectados passassem a ter sinal de internet. O serviço é essencial para o bom desempenho das máquinas agrícolas mais modernas.

Apesar disso, até mesmo São Paulo, estado com mais áreas cobertas, apresenta zonas rurais sem conexão, que impedem que produtores rurais tenham acesso em tempo real às condições verificadas pelos equipamentos. Com isso, a tomada de decisões sofre atraso, o que pode acarretar em prejuízos financeiros.

Criada em 2019, a associação ConectarAgro viu no desligamento do sinal da TV analógica no país uma oportunidade de ocupar a frequência de 700 MHz. A antiga faixa das empresas de comunicação passou a propagar o sistema de conexão 4G no campo.

O programa teve início com oito fundadoras, e hoje já são 43 associadas e apoiadoras —inclusive concorrentes, como Valtra, Case, New Holland e Massey Ferguson.

A ConectarAgro não vende sistemas, mas fomenta o desenvolvimento para que os serviços e equipamentos comercializados por suas associadas sejam efetivamente utilizados pelos produtores rurais.

Dados da associação mostram que o campo tem hoje menos de 12% de cobertura, enquanto nas cidades o índice supera 98%. Pouco adianta ao produtor pagar preços acima de R$ 1 milhão por uma máquina que permite a transmissão de informações em tempo real se ele não puder usar o sistema.

“É cada vez mais forte a percepção de que a infraestrutura de telecomunicações é fundamental para a continuidade do ciclo de aumento de produtividade”, disse Ana Helena de Andrade, presidente da ConectarAgro.

“A agricultura vem com produtividade crescente, ou seja, produz mais com menos terra, o uso da terra não cresce na mesma proporção. Temos safra recorde atrás de safra recorde basicamente por tecnologia.”

A conexão auxilia o produtor das mais variadas formas. Com um tablet, smartphone ou computador, ele consegue controlar de longe as atividades. Assim, sabe se a máquina atua em sua máxima eficiência ou se a umidade do solo está adequada para desempenhar o serviço desejado, por exemplo.

A frequência de 700 MHz permite que o sinal atinja uma área de até 35 mil hectares com uma única antena, dependendo da topografia, a um custo entre R$ 350 mil e R$ 400 mil.

Líder na América Latina da Climate FieldView, plataforma de agricultura digital da Bayer, Alexandre Pimenta disse que a transformação digital é um dos pilares estratégicos da empresa, ao lado de sustentabilidade e inovação.

“Entendemos que, ao lado de empresas do agronegócio e tecnologia, podemos moldar o futuro da agricultura digital”, afirmou.

A plataforma da Bayer permite que o produtor faça análise por metro quadrado da propriedade e tome decisões para o uso mais eficiente de insumos e recursos naturais, sem que precise esperar para corrigir problemas.

O serviço combina resultados de testes de híbridos da marca e faz recomendações ao produtor sobre a quantidade ideal de sementes para cada zona de seu talhão. O Brasil é o segundo maior mercado da empresa, atrás dos Estados Unidos.

Em locais sem conexão, o produtor faz a coleta de dados offline e os carrega na nuvem quando estiver em local com acesso à internet.

O sistema proposto pela ConectarAgro é aberto, o que significa que, onde há uma torre de telefonia –são da TIM, outra fundadora–, qualquer pessoa pode se conectar à internet.

Até aqui, foram beneficiadas comunidades que somam um milhão de habitantes em 485 municípios de 12 estados. Há um projeto-piloto em andamento para auxiliar professores de escolas rurais que antes não tinham internet.

O crescimento no total de áreas que ganharam conectividade se dá principalmente no Centro-Oeste, devido aos investimentos de grandes produtores de grãos que buscam conectar plantadeiras e colheitadeiras.

“Mesmo em São Paulo há necessidade de investimentos para ter aquilo que chamamos de cobertura adequada”, afirmou Ana Helena de Andrade, da ConectarAgro. “O estado tem uma forte indústria de etanol e açúcar com integração das cadeias agrícolas e industriais, mas tem espaço para crescer em função do investimento em telecomunicações.”

A área coberta nos últimos quatro anos pelo programa é maior que todo o território de Cuba, por exemplo, mas ainda havia, em 2022, mais de 70% das propriedades rurais do país sem conectividade. Os dados de área coberta devem ser atualizados na próxima semana, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto.

“Tendo uma área maior coberta no país é claro que a possibilidade de venda de produtos aumenta. Por que o produtor vai ter, por exemplo, um modem para pegar dados em tempo real no campo sendo que ele não tem nenhum 3G lá, ainda mais um 4G?”, questionou o gerente de marketing da Trimble, Giancarlo Fasolin.

Ele disse que há um grande espaço para crescimento da conectividade no agronegócio se o território brasileiro for comparado com o cenário visto na Itália.

“Lá, todos os tratores têm um modem e todos ficam mandando dados o tempo inteiro. Eles têm de informar o governo sobre o que está acontecendo para receberem os subsídios. O campo está inteirinho conectado, o produtor tem controle da operação de forma detalhada.”

Há outras iniciativas no mercado também envolvendo marcas ligadas ao agronegócio. No mesmo ano do surgimento da ConectarAgro, a John Deere apresentou comercialmente um programa de instalação de torres de transmissão para conexão em locais não alcançados pelas operadoras, num modelo no qual o produtor não precisa fazer investimentos próprios em infraestrutura (Folha de S.Paulo, 27/4/23)

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