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China pode alavancar o agro brasileiro de baixo carbono

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Por Larissa Wachholz e Fabiana Villa Alves
A perspectiva do mercado verde na China permite ao Brasil se reposicionar como exportador de produtos sustentáveis em escala.

A preocupação da China com o meio ambiente e o compromisso com a neutralidade do carbono até 2060 têm mudado o perfil de consumo local e envolvido governos provinciais, empresas e setor financeiro. No âmbito governamental, desde 2021 tem-se observado mudanças na legislação de importação, que passou a exigir mais mecanismos de segurança e rastreabilidade de alimentos sustentáveis. No dia a dia, produtos “baixo carbono” e “carbono zero” que vão de leite a vegetais, passando por sorvete e fórmulas infantis, estão nas prateleiras do Hema Fresh, supermercado do Alibaba.

Mostrar a contribuição do nosso agro à descarbonização é uma oportunidade de criar reputação sob a bandeira da sustentabilidade e agregar valor a uma pauta essencialmente primária. Foto- Isac Nobrega-PR

Embora incipiente, há incentivo estatal ao “consumo verde”. Levantamento da Accenture mostra que a preocupação com o meio ambiente cresce mais na China do que no resto do mundo. O instituto Statista mostra que, em 2021, um em cada três chineses dizia que sustentabilidade é fator decisivo na hora da compra.

A tendência na China indica que há espaço para agregação de valor à pauta de exportação agrícola brasileira por meio de produtos de baixo carbono. Temos mais de dez anos de experiência com o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e estamos na implementação do ABC+ de 2020 a 2030. Mostrar a contribuição do nosso agro à descarbonização é uma oportunidade de criar reputação sob a bandeira da sustentabilidade e agregar valor a uma pauta essencialmente primária – em 2022, 74% das exportações à China foram de soja, petróleo e minério de ferro.

A perspectiva do mercado verde na China permite ao Brasil se reposicionar como exportador de produtos sustentáveis em escala. Produzimos alimentos, fibras e grãos com baixa pegada de carbono, em sistemas de plantio direto ou em integração lavoura-pecuária-floresta. Temos processos de certificação de terceira parte, com indicadores science-based desenhados. Podemos modular as metodologias para o tipo de informação priorizada pelos chineses.

Tal posicionamento exigirá do Brasil uma atuação estratégica na criação de marcas competitivas e mensagens efetivas que valorizem o produto nacional. Para isso, é preciso mais diálogo com atores do sistema chinês: de reguladores a clientes, passando pela academia.

Em outra frente, torna-se fundamental garantir escala e excedente exportável à produção de baixo carbono. Para isso, serão necessários investimentos em conversão de pastagens degradadas e intensificação sustentável. O Brasil ganhou recentemente os Fiagros, fundos eficientes para canalizar recursos para a produção sustentável que podem atrair, entre outros investidores, recursos da China, o que reforçaria a confiança no modelo.

(Larissa Wachholz, sócia da Vallya Agro, foi assessora especial para a China no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2019-2021); Fabiana Villa Alves, pesquisadora da Embrapa, é diretora de Cadeias Produtivas e Indicação Geográfica no Ministério da Agricultura e Pecuária; O Estado de S.Paulo, 24/4/23)

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