Desequilíbrio fiscal permanece elevado na região, mas caiu em relação ao começo da pandemia, diz organismo.
O Brasil deve manter uma taxa de crescimento abaixo da média da América Latina, que já é considerada baixa, assim como em anos anteriores, segundo novo relatório do Banco Mundial divulgado nesta semana.
A instituição projeta que em 2023 o PIB (produto interno bruto) do país crescerá 0,8% em relação ao ano anterior. O valor é próximo do que o mercado prevê, de 0,9%, segundo o último boletim Focus do Banco Central e abaixo da estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 1,4%.
A projeção do Banco Mundial é de pouco mais que a metade prevista para o crescimento da América Latina, de 1,4% em 2023, a mais baixa taxa regional no mundo. Nos dois anos seguintes, o crescimento previsto é de 2,4% ao ano.
“Embora numerosos fatores globais possam explicar as taxas modestas de crescimento em 2023, as previsões para o futuro apontam para o mesmo ritmo medíocre das últimas duas décadas, que continua insuficiente para reduzir a pobreza, promover a inclusão e aliviar as tensões sociais”, diz o banco.
Entre os maiores obstáculos, estão os preços mais baixos das commodities, as altas taxas de juros nos países desenvolvidos e a instabilidade na recuperação chinesa.
Segundo o relatório, o déficit fiscal na região em 2022 é estimado em 4,4% do PIB, considerado alto, sem reduzir em relação ao ano anterior, após chegar a 8,7% em 2020, no primeiro ano da pandemia, em meio ao aumento expressivo de gastos dos governos para lidar com a crise da Covid-19.
Os esforços do Brasil e de outras grandes economias da região como Colômbia e México para registrar superávit primário em 2023 ainda é insuficiente para compensar os pagamentos crescentes de juros sobre estoques da elevados dívida, o que provoca déficits grandes, segundo os economistas do banco, que continuarão a corroer o espaço fiscal da região.
O endividamento médio em 2022 cresceu 17,9 pontos percentuais em relação ao PIB na comparação com 2010. Considerando as grandes economias, como o Brasil, a relação dívida por PIB aumentou 20 pontos na última década.
Há, porém, uma série de pontos positivos no relatório, como a avaliação de que a América Latina “administrou com relativo sucesso as múltiplas crises causadas pela guerra da Rússia contra a Ucrânia e as incertezas da economia global” e conseguiu voltar os níveis de pobreza e emprego aos patamares pré-pandêmicos.
Para o Banco Mundial, as economias da região “têm se mostrado relativamente resilientes diante do aumento do estresse da dívida, da inflação e do aumento da incerteza global”.
A inflação da região, depois de atingir média de 7,9% em 2022, deve baixar para 5% neste ano, excluindo-se a Argentina e a Venezuela da conta, que convivem com aumento desenfreado de preços. A taxa média da região fica então abaixo da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 9,4%, e do Leste Europeu, de 18,8%, ainda que maior que inflação do Leste Asiático (4,7%).
O Banco Mundial defende que a América Latina e o Caribe se beneficiariam da tendência de “nearshoring”, que significa trazer a cadeia de suprimentos para mais próximo de grandes mercados como os Estados Unidos, em meio ao aumento das tensões geopolíticas como com a China.
Nesse sentido, países como o Brasil poderiam sair na frente com instalação de plantas de semicondutores, hoje um dos grandes gargalos da indústria da tecnologia global.
Apesar da oportunidade, paradoxalmente o investimento estrangeiro na América Latina vem caindo, aponta o Banco Mundial. Depois de atingir pico de US$ 202 bilhões em 2012, em 2020 o total caiu 75%, para US$ 86 bilhões em 2020, a maior queda entre regiões em desenvolvimento. Os fluxos de investimento estrangeiro até melhoram no ano seguinte, mas não o suficiente para reverter a tendência de queda dos últimos anos.
Além do nearshoring, é preciso “alavancar a extraordinária vantagem comparativa da região na produção de energia sustentável, commodities necessárias para indústrias verdes emergentes”, defendeu o economista-chefe para América Latina e Caribe do Banco, William Maloney. “O capital natural único da região oferece uma nova fonte potencial de crescimento, mas exigirá políticas para facilitar o acesso a mercados, capital e tecnologia globais”, disse (Folha de S.Paulo, 6/4/23)