Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento maio/23 cotado a 24.15 centavos de dólar por libra-peso, 52 pontos acima do fechamento da semana anterior, equivalentes a 11.50 dólares por tonelada. No entanto, apesar da alta, a valorização de quase 3% do real na semana frente ao dólar americano resultou numa queda no valor do açúcar em reais por tonelada. A contração foi de R$ 35 por tonelada na semana. Reforça-se assim nossa visão de que é importante aproveitar as oportunidades de preços elevados em reais por tonelada.
O fechamento do contrato maio/23 convertido em reais pelo câmbio de sexta-feira equivalia a R$ 2,740 por tonelada FOB Santos, valor que – se analisarmos o período compreendido de janeiro de 2000 até hoje – devidamente ajustado pela inflação – ocorreu em apenas 5.8% de todo esse período. Portanto, repetindo aqui nossos dois velhos e surrados conselhos, não se apaixone pelo mercado e lembre-se que ninguém quebra com lucro no bolso.
A estratégia que temos sugerido de fixar preços de açúcar para exportação em reais por tonelada e concomitantemente comprar uma opção de compra fora-do-dinheiro, se você a tivesse feito 400 pontos atrás, teria aproveitado 90% da recente subida de preços. Explico.
Na simulação que fizemos para o vencimento outubro/23, o valor de fixação para hoje seria de R$ 2,722; caso tivesse seguido a orientação acima, teria hoje R$ 2,695. Ah, mas então era melhor esperar, certo? Sim, se você tivesse uma bola de cristal ou outro desses instrumentos de prever o futuro, certamente teria sido melhor esperar.
NY atingiu 24,45 centavos de dólar por libra-peso na semana, sendo o maior valor negociado em 11 anos. Naquele 10 de abril de 2012, contudo, o valor em reais por tonelada corrigido para hoje chega a R$ 2,223, ou seja, 500 reais por tonelada abaixo do preço do fechamento desta sexta-feira. Por isso prefiro analisar sempre os preços em reais por tonelada.
Peço especial atenção a quatro momentos em que tivemos picos de preço nos últimos 20 anos. Fevereiro de 2006, janeiro de 2010, janeiro de 2011 e outubro de 2016. Qual foi a retração que esses picos tiveram, em alguns casos com déficits mundiais pior do que o que se diz que é o de hoje, 90 dias depois do pico? Anote aí: 22%, 52%, 34% e 18%, respectivamente.
Os fundos, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada, estavam comprados 211,943 lotes, equivalentes a 10.8 milhões de toneladas de açúcar. A semana mostrou uma acomodação dos preços. A entrega de açúcar branco em Londres, na expiração do contrato, somou pouco mais de 240,000 toneladas. Entre os entregadores, uma trading que possui refinarias na Ásia e uma refinaria do Oriente. Isso pode dizer muita coisa.
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Cuidado com os urubus disfarçados de pavões que aparecem em momentos como esse tirando do bolso poções mágicas que vão resolver seu problema e acabar com todas as dúvidas que você pode ter acerca da trajetória do mercado.
Nós já vimos no passado recente (2015) usinas fixarem preços para a safra seguinte quando NY colapsou em agosto daquele ano (10.13 centavos de dólar por libra-peso) e foram convencidas de que o mundo ia acabar, que o açúcar iria para 8 centavos e o melhor a fazer era fixar tudo. Foi o que elas fizeram seguindo o conselho dos encantadores de serpentes. Não estou falando de ouvir falar, eu vi a operação.
Também vi indústrias consumidoras de açúcar serem convencidas a fazerem operações com opções de venda para diminuir o custo de aquisição de seus insumos porque o mercado ia subir. O mercado caiu e empresa ficou empurrando o prejuízo por 2-3 balanços até finalmente, por obra do acaso e não dos urubus de plantão, tirar o pé da lama.
Esta semana soube – nesse caso sem comprovação – que determinada usina (ou usinas) teriam fixado açúcar em NY em outubro/dezembro passado, mas decidiram não fixar o dólar porque com a eleição de Lula a moeda brasileira – segundo a assunção deles – iria explodir e então as fixações em reais por tonelada iriam apreciar enormemente. Quem fixou preços no último trimestre do ano (NY e câmbio) teria na média, em valores de hoje, R$ 2,408. Quem apenas fixou NY e convertesse para o dólar de hoje teria R$ 2,098. Se essa história é verdadeira, tem que ser um case a ser apresentado nas cátedras da gestão de risco. Uma verdadeira estratégia kamikaze.
Você sabe para onde vai o mercado? Nem você, nem eu, nem ninguém. Gestão de risco não é adivinhar o futuro. Seu papel é mensurar e mitigar as exposições ao risco que a empresa (em especial as que negociam commodities) invariavelmente está exposta, objetivando preservar sua capacidade de gerar caixa e adicionar valor ao acionista. É por isso que temos que nos cercar do máximo de informações para a tomada de decisão. Fundamentos e estatísticas são bons auxiliares para a correta tomada de decisão.
Ainda ouço nas palestras e eventos que participamos coisas do tipo “hedgear é especulação”. Cada um é livre para acreditar no que quiser, desde que o dinheiro do acionista não esteja em jogo. “Mas se quem decide é o acionista?”. Bem, cada um é livre para fazer o que quer com seu dinheiro, inclusive quebrar a própria empresa. Fora do hedge, poderia dizer o profeta, não há salvação.
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