Por Arnaldo Luiz Corrêa
Numa semana abreviada pelo feriado de Páscoa, NY seguiu obstinadamente em direção ao topo que muitos acreditavam ser uns 200 pontos atrás (este escriba) e outros tantos acreditam que está 200 pontos à frente. Loucura total.
As quatro sessões desta semana acumularam uma alta de 133 pontos no vencimento maio/23, praticamente a mesma variação positiva observada nos vencimentos seguintes: julho e outubro de 23 e março de 24. Os preços desses vencimentos que compõem a safra 23/24 do Centro-Sul subiram em paralelo, indicando forte pressão compradora indiscriminadamente em todos os meses. Não fosse dessa forma, os spreads teriam variado, o que não ocorreu. A crescente preocupação acerca da disponibilidade de açúcar contagiou o mercado e uma série de fatores altistas engrossaram o caldo.
O frenesi do mercado de açúcar branco em Londres, com o prêmio de branco negociando incríveis 163 dólares por tonelada, contribuiu com uma dose a mais de munição para o desempenho de trem desgovernado em que o mercado de açúcar se transformou. Há apenas um mês, o maio/23 negociava 300 pontos mais barato! Com uma boa dose de pânico (por parte de consumidores industriais) e de senso de oportunidade (por parte dos fundos especuladores), o mercado está livre para continuar subindo (refiro-me ao vencimento maio/23). Para onde vai isso?
A continuidade dessa trajetória vai depender do nível necessário de cobertura a ser praticado pelos boquiabertos consumidores, do tamanho do bolso dos fundos (que devem estar long mais de 200,000 contratos), do que será feito com as mais de 50.000 calls (opções de compra) vendidas, que vencem na próxima semana, cujo preço de exercício varia entre 21 e 24 centavos de dólar por libra-peso e, dos efeitos do rombo causado pelas chamadas de margem nesse curto período de tempo.
Se assumirmos que as usinas estão fixadas 85% do volume de exportação e 2/3 desse volume está direta ou indiretamente no livro das tradings/instituições financeiras/provedores de operação de balcão, em um mês a chamada de margem drenou aproximadamente US$ 1 bilhão do caixa dessas empresas. Num período de crise de crédito e redução de dinheiro no sistema, vai vendo o estrago.
O contrato futuro para maio/23 fechou a 23.63 centavos de dólar por libra-peso (dia 7 de março negociou a 20.63), depois de ter alcançado 23.68 no pregão do dia. Essa é a cotação mais alta do açúcar negociado em NY desde o dia 7 de outubro de 2016. Curiosamente, o preço negociado naquele dia convertido em reais por tonelada e ajustado pela inflação equivale hoje a R$ 2,766 por tonelada, bem próximo do valor equivalente hoje.
Na média, os valores negociados em NY apreciaram R$ 134 por tonelada na semana em relação à sexta-feira anterior. As usinas apontam os lápis e fazem conta para ver o que podem produzir a mais de açúcar – além do volume já comprometido e fixado – para aproveitar os excelentes preços. A média dos vencimentos acima citados chega a R$ 2,743 por tonelada. Lembre-se: nos últimos 20 anos preço igual ou melhor do que esse ocorreu em apenas 5.6% de todos os eventos.
A menos que o executivo da usina possua “informação privilegiada” da trajetória que o mercado irá percorrer, seja por meio de inteligência artificial, bola de cristal, quiromante, astrólogo ou prestidigitadores, é de bom alvitre não perder uma oportunidade como essa, em especial quando comparamos o declinante custo de produção do açúcar para este ano. Não fixar preços esperando por dias melhores pode ser um erro fatal. Ninguém quebra com lucro no bolso.
Fixar preços em reais por tonelada é recomendável ainda mais quando existe uma percepção por parte do mercado financeiro de que o dólar pode beliscar os R$ 5,0000. Não brinque com a gestão de risco. Ninguém sabe para onde vai o mercado. Use a estatística a seu favor. Nossa recomendação tem sido a fixação de preços em reais por tonelada e a compra de uma opção de compra fora-do-dinheiro. Mesmo com essa variação enorme dos últimos 30 dias, cuja variação chega a R$ 300 por tonelada, o tipo de operação sugerida proporcionava – até sexta-feira – a captura de pelo menos 2/3 dessa vantagem.
As mudanças nos impostos dos combustíveis a partir de 1º de julho trouxeram um alento para o mercado de hidratado, mas com a subida estrondosa do açúcar em NY, a diferença entre os dois aumentou. Tomando por base o fechamento da B3 na sexta, o hidratado negocia com 750 pontos de desconto. Chegando próximo ao maior desconto visto de 800 pontos, exatamente em 2016.
—
O obscurantismo da esquerda que (des)governa o País continua a todo vapor. Um dia é um parlapatão disfarçado de ministro (ou será o contrário?) espumando parvoíces sobre mudanças na formação de preço dos combustíveis, fato imediatamente desmentido pela Petrobras por meio de comunicado ao mercado. Outro dia é o improdutivo presidente da república – a mais legítima personificação do atraso – querendo baixar os juros por decreto, entre outras barbaridades. Faria um enorme bem ao Brasil se a esquerdalha petista calasse a boca por um tempo e se esforçasse em fazer alguma coisa que preste e, quando sentisse a irresistível compulsão por pavonear-se – neurose comungada pelos seus membros – ornasse suas cabeças ocas com uma reluzente cucurbitácea (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 7/4/23)