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Açúcar: Os fundos que se cuidem

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY levou um tremendo tombo na semana que passou, com o vencimento maio/22, que expira na sexta-feira que vem, encerrando a 19.21 centavos de dólar por libra-peso, fechamento na mínima do dia com 84 pontos de retração em relação à semana anterior, quase 19 dólares por tonelada. A grande pressão ocorreu nos vencimentos mais curtos.

O mercado caminha lentamente para o cash and carry condição em que os contratos com vencimento mais curto são mais baratos do que aqueles com vencimento mais longo. Isso ocorre porque o mercado percebe equilíbrio na oferta do produto (na verdade, mais oferta do que demanda) e entende que não haverá problemas com a disponibilidade do mesmo. Assim, compradores não tem a menor pressa em fazerem suas compras ou reporem os estoques. E o mercado cai…

Não há como escapar dos fundamentos apesar de os fundos terem capitaneado essa alta recente por meio de compras maciças que – pelo desempenho dos últimos dias – devem ter causado enorme prejuízo para eles, pois eles liquidaram parte do que haviam comprado.

Quem aproveitou bem a alta recente foi a Índia e a Tailândia que viram os preços em NY acima dos 20.50 centavos de dólar por libra-peso muito atrativos e fixaram bom volume. Brasil também deve ter fixado, mas pouco, pois em grande parte das usinas, o que sobrou para ser fixado nessa safra que está iniciando é apenas aquele açúcar que vai ser produzido e exportado contra o março/23.

Em evento ocorrido na semana passada em Ribeirão Preto, foi consenso entre os participantes de uma safra de cana no Centro-Sul ao redor de 550 milhões de toneladas, número muito próximo da nossa estimativa (552 milhões de toneladas).

Não há nada que chacoalhe o mercado por conta desses números. Os fundos que se cuidem, pois estão comprados 175,000 contratos com base no número publicado na terça-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities. A surpresa pode ser grande.

Alguns ingredientes podem atrapalhar a trajetória do açúcar no médio prazo. Um deles é a crise política que o Brasil renova a cada dia com a relação conturbada entre os Poderes e que pode fazer o dólar se valorizar novamente em relação ao real. Na sexta-feira, a moeda brasileira chegou a bater R$ 4,8400 contribuindo para a queda de NY. Como não há sinal de progresso no diálogo entre o Executivo e o Judiciário, a aposta que muitos economistas fazem é de que o dólar agora pode voltar para R$ 5,2000 novamente. Se isso ocorrer, o mercado pode assistir a pesadas quedas do açúcar.

Outro fato, é a inversão das commodities que tratamos aqui algumas vezes: um eventual encaminhamento para o final do conflito Rússia x Ucrânia pode provocar a liquidação por parte dos fundos de posições compradas especulativas. Também, vale observar o comportamento do mercado fugindo dos ativos de risco devido à sinalização por parte do FED (o Banco Central americano) do aumento dos juros a partir de maio.

Os fechamentos do açúcar em NY convertidos em reais por tonelada aplicando-se o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, apontam um encolhimento de 40 reais na semana para os meses correspondentes à safra 22/23 do Centro-Sul, enquanto que a 23/24 encolheu apenas 16 reais por tonelada. O hidratado foi negociado a o equivalente a NY mais 340 pontos. É óbvio que tem alguma coisa muito errada nessa equação. A tendencia é que haja uma acomodação dos preços do etanol assim que a disponibilidade de produto se tornar mais robusta.

Na Índia, o governo abriu uma janela de seis meses para que as empresas apresentem seus projetos para novas destilarias ou para expansão das existentes, objetivando aumentar a produção de etanol para consumo naquele país que, como se sabe, é o terceiro maior consumidor de energia do planeta (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 22/4/22)

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