Volume vendido pela estatal no segundo trimestre foi o maior dos últimos seis anos.
Com preços abaixo das cotações internacionais desde meados de maio, a Petrobras vendeu no segundo semestre seu maior volume de gasolina dos últimos seis anos. Mas teve que apelar a uma elevação de importações para suprir a demanda, apesar de aumento na produção nacional.
A possibilidade de venda de produtos importados por preços mais baixos no país é uma das principais preocupações de analistas após a mudança na política de preços da estatal, que deixou de seguir as cotações internacionais e fechou janelas de importações privadas.
A estratégia gerou prejuízos bilionários durante o governo Dilma Rousseff (PT), quando o represamento de preços gerou um embate entre o comando da empresa e a área econômica do governo.
Em relatório divulgado nesta quarta-feira (26), a Petrobras informou que vendeu uma média de 434 mil barris de gasolina por dia no trimestre, alta de 15,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O avanço se deu “por conta do ganho de participação da gasolina sobre o etanol hidratado no abastecimento dos veículos flex, bem como do aumento do mercado ciclo Otto [de veículos leves]”, disse a estatal.
Em suas refinarias, produziu 399 mil mil barris por dia de gasolina, alta de 4% em relação ao segundo trimestre de 2022. Parte das vendas, portanto, foi garantida pela importação do combustível, que chegou a 52 mil barris por dia no segundo trimestre.
O volume é bem superior à média recente. No segundo trimestre de 2019, antes da pandemia, por exemplo, as importações de gasolina no segundo trimestre foram, em média, de 36 mil barris por dia. No segundo trimestre de 2018, foram 7.000, mesmo valor do segundo trimestre de 2022.
Considerando o primeiro trimestre, a Petrobras importou uma média de 46 mil barris de gasolina por dia, alta de 228% em relação ao mesmo período de 2022, que tem estatísticas distorcidas pelo início da guerra na Ucrânia. Na comparação com o primeiro semestre de 2019, a alta é de 50%.
Com menor interesse de importadores privados diante dos baixos preços, a Petrobras tem sido relevante na compra de gasolina no exterior, e foi responsável por 57% das importações do produto no primeiro quadrimestre, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Analistas de bancos temem justamente que a defasagem nos preços dos combustíveis levem a estatal a assumir novamente a responsabilidade de garantir o abastecimento de produtos importados, mesmo com prejuízo nas compras.
Segundo a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), por exemplo, o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras estava R$ 0,67 por litro abaixo da paridade de importação na abertura do mercado desta quarta.
Ou seja, cada litro comprado no exterior e vendido pela Petrobras daria um prejuízo de R$ 0,67, considerando essa estimativa —os números variam de acordo com organizações e institutos, mas é consenso que a estatal se distanciou do mercado externo.
No segundo trimestre, a empresa bateu recordes de produção no pré-sal e de diesel S-10. No pré-sal, a produção foi de 2,05 milhões de barris de óleo e gás por dia, com o início da operação de novas plataformas.
A produção total de petróleo e gás da empresa, porém, caiu 1,4%, para 2,6 milhões de barris por dia, com impactos de paradas para manutenção e desinvestimentos.
A produção de diesel S-10 chegou a 419 mil barris por dia, em média, com recorde mensal de 442 mil barris por dia atingido em junho. O produto representa 62% das vendas de diesel da estatal, que somaram 771 mil barris por dia no período — volume equivalente à produção total.
Os recordes de produção da Petrobras e a invasão de diesel russo no mercado brasileiro derrubaram os preços do combustível, fundamental para o transporte de cargas no Brasil. O cenário chegou a levar a maior refinaria privada brasileira a exportar o produto por falta de competitividade nas vendas internas.
Na semana passada, o preço médio do diesel S-10 nos postos brasileiros ficou em R$ 4,99 por litro, abaixo dos R$ 5 pela primeira vez desde maio de 2021. Na primeira semana de janeiro, o litro custava R$ 6,60, em valores corrigidos pela inflação (Folha, 27/7/23)