Promessa foi feita após encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Presidente está Bélgica para participar da cúpula que reúne países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE).
A reunião começou por volta de 4h (horário no Brasil), no Edifício Le Berlaymont.
Lula chegou domingo (16) a Bruxelas, para participar da cúpula que reúne países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE).
O encontro entre os líderes dos blocos, que reúnem 60 países, vai até terça (18) – e Lula deve voltar a Brasília na manhã de quarta (19).
Além do encontro com Ursula, o presidente terá também, entre segunda e terça (18), sete reuniões bilaterais.
Após o encontro, Lula disse que está entusiasmado em participar da cúpula da Celac e da UE. “Nosso país ficou afastado e voltamos ao governo para recolar o Brasil no centro das discussões”.
O presidente afirmou que quer aprofundar temas ecológicos e econômicos. “O Brasil tem forte tendência em energia renovável. Temos um programa de transição energética que queremos compartilhar”.
Lula enfatizou que o Brasil está muito engajado no debate sobre o clima. “O Brasil vai cumprir com sua parte. É compromisso assumido, compromisso de fé. Queremos discutir com o mundo a preservação da floresta.
Ursula von der Leyen abriu o discurso desta segunda-feira. “Sua presença é histórica. Precisamos de amigos nesta época ainda incerta. É um impacto positivo para nossas duas regiões. Queremos discutir como conectar mais nossos povos e nossas empresas. Tudo isso é possível se concluirmos acordo com o Mercosul. Queremos ser parceiros e que possamos chegar a um acordo que beneficie a todos. A UE quer investir na América Latina e no Caribe, criar bons empregos. Queremos discutir como alcançar resultados”
Nesta segunda, de acordo com prévia divulgada pelo Palácio do Planalto, Lula participa de um fórum empresarial com representantes dos dois continentes pela manhã e da sessão de abertura da cúpula à tarde.
Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro avalia que a cúpula pode dar “impulso” às relações bilaterais entre os países.
O Brasil havia deixado a Celac durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O retorno ao grupo ocorreu neste ano, após a posse de Lula.
A expectativa é que a cúpula discuta temas como:
- mudança do clima e transição justa e sustentável;
- transição digital inclusiva e justa;
- segurança cidadã e combate ao crime transnacional;
- comércio e desenvolvimento sustentável;
- e recuperação global pós-pandemia da Covid-19.
Acordo Mercosul-UE
No comando do Mercosul, Lula foi convidado a participar da cúpula pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que preside o bloco europeu. Os dois têm discutido os detalhes finais de um acordo comercial entre os blocos.
Ao assumir o bloco sul-americano, no início do mês, o presidente chegou a sugerir que o Mercosul poderia “roubar a cena” da cúpula para negociar termos do acordo.
Parte já foi concluída em 2019. No entanto, neste ano, os europeus enviaram uma carta adicional ao Mercosul, que prevê sanções em questões ambientais — mobilização liderada pela França.
O teor do documento foi classificado por Lula como “ameaça”, e o governo brasileiro anunciou que trabalhava em uma resposta.
Mercosul: Lula defende resposta “rápida e contundente” para acordo com União Europeia
Segundo o blog da jornalista Julia Duailibi no g1, o Itamaraty finalizou nesta sexta (14) a contraproposta, que será encaminhada aos países do Mercosul.
Em razão da ausência de tempo hábil para as lideranças avaliarem o texto, o Ministério das Relações Exteriores julga que o tema não será abordado na cúpula, como havia previsto Lula.
Lideranças progressistas
Lula deve retornar ao Brasil após o término da cúpula, na terça (18). Além da reunião entre os blocos, a agenda na Bélgica contará com um encontro de líderes progressistas.
Segundo a secretária do Itamaraty para o continente europeu, Maria Luisa Escorel de Moraes, o convite partiu de Stefan Lofven, ex-primeiro-ministro da Suécia.
Ainda de acordo com a secretária, além de Lula, deverão participar do encontro chefes de Estado ou de governo dos seguintes países:
- Argentina;
- Chile;
- Colômbia;
- Portugal;
- República Dominicana;
- Alemanha;
- Dinamarca;
- e Espanha.
O presidente ainda participará de outros compromissos, entre os quais:
- plenária sobre “reforma da arquitetura financeira internacional”;
- fórum empresarial;
- e reuniões bilaterais com representantes da Bélgica, Áustria e Suécia.
Agenda internacional
Desde que tomou posse, em janeiro deste ano, Lula tem dedicado boa parte da agenda à política externa, afirmando que busca colocar o Brasil em posição de protagonismo no cenário internacional.
Nessa estratégia, tem tido diversos encontros com políticos historicamente ligados a ele ou ao campo político de esquerda.
Nos últimos seis meses, entre outros compromissos, ele:
- se encontrou, por diversas vezes, com o presidente argentino, Alberto Fernández;
- recebeu, em Brasília, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro;
- e promoveu uma cúpula de líderes da América do Sul (G1, 17/7/23)
O que esperar da cúpula entre UE e Celac?
Pela primeira vez em oito anos, líderes de mais de 50 países latinos e europeus se reúnem para negociar em Bruxelas. Entenda o que está em jogo.
Mais de 50 líderes da União Europeia (UE) e da América Latina reúnem-se nesta semana em Bruxelas, na Bélgica, para reforçar os laços diplomáticos após oito anos sem reuniões de alto nível.
A cúpula da UE com os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) ocorre na segunda-feira (17/07) e na terça-feira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou neste domingo a Bruxelas e, além da cúpula, deve ter reuniões bilaterais.
Mas por que representantes dos 27 Estados-membros da UE e dos 33 países da Celac vão se reunir?
A União Europeia quer intensificar as relações com os Estados caribenhos e latino-americanos após a invasão da Ucrânia pela Rússia porque, segundo o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, as regiões do mundo que compartilham os mesmos valores e princípios devem se relacionar estrategicamente.
A UE visa ainda romper um pouco com sua dependência econômica da China. Para isso, precisa da América do Sul como potencial fornecedora de matérias-primas e energia, como mercado e como parceira na proteção do clima.
No início de junho, a Comissão Europeia publicou uma estratégia abrangente para a América Latina. “Somos aliados para fortalecer a ordem internacional baseada em regras, defender a democracia, os direitos humanos e a paz. Temos interesse em fortalecer nossa parceria política”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Os estados da Celac, que abrange todos os países das Américas exceto Estados Unidos e Canadá, querem impulsionar as suas economias novamente após a crise da pandemia, e a UE é muito bem-vinda como investidora e parceira comercial.
Empresas de países da UE investem mais na região do que Rússia, China, Índia e Japão juntos. O livre comércio criaria mais empregos. É por isso que os 600 milhões de sul e centro-americanos estão, a princípio, interessados em acordos comerciais com 450 milhões de europeus. Nos últimos dez anos, o volume do comércio de bens e serviços cresceu 40%, para 369 bilhões de euros por ano.
Novos acordos de livre comércio?
Outra meta é o acordo da UE com o Mercosul (bloco composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), que vem sendo costurado desde 2019, mas ainda não foi ratificado pelos países europeus, em parte devido a preocupações com o desmatamento da Amazônia. Sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, a ratificação ficou adormecida.
Agora, porém, com a gestão do presidente Lula, a UE quer reativar o acordo com o Mercosul, mas gostaria que o Brasil se comprometesse com a proteção sustentável do meio ambiente e do clima em um protocolo adicional.
Lula, que agora também acumula a presidência rotativa do Mercosul, é contra esse protocolo adicional. Embora já tenha desacelerado o desmatamento na Amazônia, ele não quer que a UE interfira em sua própria política, o que considera “inaceitável”.
“Parceiros estratégicos não negociam com base na desconfiança e na ameaça de sanções”, disse Lula no início de julho. Com o acordo, a UE quer condenar os países do Mercosul a permanecerem “eternamente” como fornecedores de minérios e matérias-primas, afirmou o brasileiro.
A Comissão Europeia também está planejando acordos comerciais com Chile e México. A cúpula de Bruxelas pode dar um novo impulso às negociações ou ao vacilante processo de ratificação. A meta é que o acordo do Mercosul seja concluído até o final do ano.
Que problemas políticos são vistos pela UE?
Lula é visto pela UE como claramente pró-China. Durante uma visita a Pequim em abril, o presidente brasileiro concordou em aprofundar a cooperação com o presidente chinês, Xi Jinping.
Em viagem ao Brasil em junho, a ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, disse entender que a guerra na Ucrânia não encabece preocupações de brasileiros que sofrem com alta de preços, mas que a inflação está ligada ao conflito.
Apesar disso, os europeus estão chateados porque Lula, repetidamente, relativizou o conflito, oferecendo-se como mediador e chegando a sugerir que a Ucrânia cedesse a Crimeia à Rússia. Mesmo assim, o Brasil foi o único dos grandes países emergentes do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a apoiar uma condenação a Moscou na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Empresários europeus querem ratificação do acordo
Dezenove associações empresariais europeias de diversos setores pressionam por uma rápida ratificação do acordo comercial com o Mercosul, levando em consideração os requisitos de proteção do clima.
“O acordo UE-Mercosul abre oportunidades únicas para a Europa ser a primeira a garantir vantagens ao entrar em um mercado latino-americano mais amplo”, escreveram as associações em um comunicado conjunto.
Diante do atual contexto de restrições comerciais, a Europa poderia no futuro promover o comércio com o Mercosul e o restante da América Latina.
Organizações ambientais criticam
Ambientalistas do Greenpeace classificam o possível acordo UE-Mercosul como um “tratado venenoso” e convocaram protestos em Bruxelas na segunda-feira, quando começa a cúpula.
O Greenpeace considera o acordo comercial desatualizado e destinado a facilitar a importação e exportação de produtos prejudiciais ao clima.
Se concretizado, o acordo deve viabilizar mais exportação da América Latina para a Europa de carne bovina e soja para ração. A UE quer vender automóveis e, sobretudo, pesticidas.
O agrotóxico é usado, por exemplo, no cultivo de limão e vai parar nos pratos europeus. A Federação Alemã de Proteção do Meio Ambiente e da Natureza (Bund) critica o cultivo de soja geneticamente modificada no Brasil, justificando que isso leva ao desmatamento e à extinção de espécies. A soja é usada principalmente como ração animal para elevar a produção de carne na EU (DW, 16/7/23)