Dentro da política brasileira do RenovaBio, as distribuidoras são obrigadas a comprar CBios para compensar a venda de combustíveis fósseis
A produção de etanol do Brasil deverá crescer 5% na temporada 2023/24 enquanto a oferta de biodiesel aumentará mais de 15%, avanços estes que permitirão a geração de CBios (créditos de descarbonização) suficientes para atender “sem sobressaltos” as metas estabelecidas para distribuidoras de combustíveis até março de 2024, afirmaram produtores de biocombustíveis nesta sexta-feira (7).
Em comunicado, associações representantes de produtores de etanol (Unica e Unem) e de biodiesel (Abiove, Aprobio e Ubrabio) reagiram a um posicionamento da Federação Nacional de Distribuidores de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (Brasilcom) e duas das maiores empresas do setor, a Vibra e a Ipiranga, sobre os preços dos CBios, que dispararam para cerca de R$ 150 por unidade.
Dentro da política brasileira do RenovaBio, as distribuidoras são obrigadas a comprar os CBios para compensar a venda de combustíveis fósseis, o que lhes gera um custo, enquanto os emissores dos créditos são as companhias de biocombustíveis, como produtores de etanol e biodiesel, que têm nesses papéis uma fonte de receita.
A Brasilcom, composta por mais de 40 empresas, manifestou nesta semana “imensa preocupação com a escalada desenfreada e injustificada do preço dos CBios“. Segundo a federação, o valor do CBio no atual patamar de R$ 150 gera impacto de aproximadamente 12 centavos de real por litro na formação do preço do combustível ao consumidor, com reflexos na inflação. Isso solaparia também esforços do governo de manter as cotações sob controle, conforme a entidade.
Os produtores de biocombustíveis, por meio do comunicado assinado pelas entidades, repudiaram as afirmações da Brasilcom e das distribuidoras Vibra e Ipiranga.
As associações declararam nesta sexta-feira que o setor de bioenergia brasileiro tem se comprometido com a geração de CBios, e dados públicos provam que o segmento de distribuição havia adquirido aproximadamente 51 milhões de créditos até a última quarta-feira (5), montante este que supera em mais 14 milhões de títulos a meta definida para 2022, cuja data limite para cumprimento se encerra em setembro deste ano.
“Em resumo, os créditos já foram disponibilizados pelo produtor e adquiridos pelos distribuidores em quantidade muito acima da meta estipulada. Qualquer alegada artificialidade na formação de preço, caso confirmada, não seria um tema ligado aos produtores“, disseram os produtores de biocombustíveis.
O setor de distribuição havia apontado “artificialidade” no mercado de CBios.
“Nos parece oportunística a crítica ao programa há menos de três meses para a comprovação das metas que foram estabelecidas no segundo semestre de 2021, ou seja, há mais de um ano e meio”, disseram os representantes dos emissores dos CBios.
Máxima em quase um ano
O preço médio do CBio atingiu um pico de quase um ano nesta semana, conforme dados da bolsa B3, a cerca de R$ 148, maior nível desde os R$ 153,94 de 18 de julho de 2022, mas ainda distante dos mais de R$ 200 registrados em junho do ano passado.
O CBio teve alta de cerca de 12% no último mês, segundo dados da B3, fechando no dia 30 de junho em R$ 141,29, 34% acima da média de preço de 2023, conforme análise do Itaú BBA.
Segundo a analista da Consultoria Agro do Itaú BBA Annelise Izumi, a alta ocorreu diante da uma provável concentração de compras de distribuidoras de combustíveis, que correram para cumprir metas de 2022, e de outras fazendo aquisições para garantir seus objetivos de 2023.
“O aumento de preço vinha acontecendo muito próximo da expiração do prazo para distribuidoras…. e pode ser que tenha acontecido agora. Pode ter tido o casamento de duas coisas, quem não cumpriu ainda a meta (para 2022) está comprando, e enquanto isso quem buscando para 2023 está comprando”, disse Izumi, à Reuters.
O cumprimento das metas de 2022 de compras de CBios pelas distribuidoras vai até setembro, em um volume total de 35,9 milhões de créditos, enquanto o prazo para cumprir os objetivos de 2023 (37,5 milhões de créditos) vai até março de 2024.
A analista disse também que, com uma maior oferta de biocombustíveis, as emissões de CBios vão crescer em 2023, a despeito de dados da B3 citados por relatório do Itaú BBA terem mostrado uma redução de 3,3% nas emissões em junho, para 2,77 milhões de títulos.
“A expectativa é que tenha aumento de CBios, e consequentemente era para ter um preço mais arrefecido, a parte da oferta está dentro da normalidade, vai sobrar CBios, a única questão é concentração de compras”, disse.
Sobre repasse de custo do CBio para preço do combustível na bomba, a analista disse que difícil fazer qualquer avaliação, pois depende de cada distribuidora, mas não descartou eventuais repasses (Reuters, 7/7/23)