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Geração de bioeletricidade da cana para a rede cresce quase 30% nos primeiros meses de 2023

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De janeiro a abril foi ofertado 1,8 milhão de MWh, o equivalente a atender o consumo anual de energia elétrica de quase três milhões de pessoas

Da cana nada se perde, tudo se transforma, costuma dizer quem conhece o setor sucroenergético. E é bem assim mesmo: parte dos resíduos da fabricação de açúcar e etanol, principais produtos da indústria sucroenergética, voltam para o campo, na forma de fertilizantes naturais. Já o bagaço e a palha são matéria-prima para a geração de energia elétrica, garantindo autossuficiência energética para as usinas e contribuindo com a rede elétrica nacional.

Nos primeiros meses deste ano, de janeiro a abril, a oferta de energia elétrica para a rede a partir da biomassa da cana-de-açúcar foi de 1.858.699 MWh, segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica). “Essa geração renovável é equivalente a atender ao consumo anual de energia elétrica de quase três milhões de pessoas ou a 8% da geração térmica a gás no país em 2022”, compara o gerente de Bioeletricidade da organização, Zilmar Souza.

Em termos percentuais, trata-se de um aumento de 28,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foi ofertado 1.443.954 MWh para a rede. “É um aumento bastante considerável, especialmente se levarmos em conta que nesse período estávamos praticamente na entressafra da cana”, comenta o gerente da Unica.

Zilmar Souza explica que, com o início oficial da safra sucroenergética na região Centro-Sul em abril, a bioeletricidade para a rede, envolvendo todas as biomassas, representou 3,7% da geração total no país naquele mês, ocupando a terceira posição em termos de representatividade. Esse percentual supera a geração fotovoltaica e a geração térmica a gás. Já em maio, representou 6,2% da geração total no país. No acumulado de janeiro a maio, o indicador da bioeletricidade em geral foi de 3% na geração total no país.

Capacidade instalada

A geração de bioeletricidade no Brasil remonta à década de 1980, quando teve início em usinas da região metropolitana de Ribeirão Preto (SP). Em 1987, a São Francisco, do Grupo Balbo e associada à Unica, foi a primeira a exportar energia elétrica obtida de uma fonte 100% renovável para a CPFL Energia. Na sequência, a São Martinho, de Pradópolis (SP), e a Vale do Rosário, em Morro Agudo (SP), iniciaram seus projetos de geração de bioeletricidade.

Atualmente, cinco estados brasileiros detêm 89% da capacidade instalada pela bioeletricidade sucroenergética. São Paulo lidera o ranking, com 208 usinas termelétricas (UTEs), representando 50% da capacidade instalada. Em seguida vem Minas Gerais (13%), com 48 UTEs; Goiás (12%), com 35 UTEs; Mato Grosso do Sul (9%), com 24 UTES; e Paraná (5%), com 29 UTEs. No total, são 422 usinas termelétricas que utilizam o bagaço e a palha da cana-de-açúcar.

A biomassa de cana-de-açúcar representa 72% de toda a capacidade instalada de bioeletricidade no Brasil – em São Paulo, esse percentual é de 90,5%. Trata-se da quarta fonte mais importante na matriz elétrica brasileira, com 6,3% da capacidade instalada no país. Se forem consideradas todas as biomassas, a capacidade instalada totaliza 17.082 MW, representando 8,8% da potência instalada na matriz elétrica do Brasil.

Geração estratégica

Segundo o levantamento da Unica, nos últimos 10 anos, de 2013 a 2022, a fonte biomassa acrescentou 6.914 MW novos à matriz elétrica brasileira, equivalente a quase metade da potência instalada pela usina Itaipu, hidrelétrica que em 2022 gerou o equivalente a 13,7% do consumo de energia elétrica no Brasil.

Zilmar Souza ressalta que a bioeletricidade ofertada pelo setor sucroenergético é sempre uma geração estratégica para o país. Ele exemplifica com o ano de 2021, quando o Brasil passou pela pior crise hidrológica no setor elétrico brasileiro desde a década de 1930. Naquele ano, a energia da biomassa da cana poupou 14% da capacidade total de se armazenar energia sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste, por conta da maior previsibilidade e disponibilidade da bioeletricidade no período seco e crítico para o setor.

Em comparação com energia de origem fóssil, a bioeletricidade da cana é uma solução muito mais sustentável. “É uma fonte de energia sustentável, pois é gerada a partir de matéria orgânica de origem vegetal, o que faz com o gás carbônico emitido por ela seja absorvido pelas plantas, diferentemente de como ocorre com uma fonte fóssil”, explica Zilmar Souza.  

Ele detalha que a bioeletricidade gerada pelo setor, somente em 2022, evitou as emissões de gás carbônico em quase quatro milhões de toneladas, em valores estimados, marca que somente seria atingida com o cultivo de 27 milhões de árvores nativas por 20 anos.

Ambientalmente, mesmo em comparação com outras culturas do campo, a cana se destaca. Após a colheita, a palha fica no solo, oferecendo proteção natural contra a erosão e ervas daninhas, reduzindo a necessidade de defensivos agrícolas. Outro subproduto do canavial, a vinhaça, é utilizado como fertilizante natural, além de também se poder gerar energia elétrica por meio do biogás.

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