Por José Roberto Mendonça de Barros
Estudo mostra que a produtividade do trabalho na indústria de transformação caiu 0,9% ao anjo entre 1995 e 2022, enquanto produtividade na agropecuária teve aumento de 5,5% ao ano.
Embora não tivesse planos de escrever mais sobre a trajetória de crescimento da agropecuária e da indústria, uma excelente matéria do Estadão no dia 5 deste mês me leva a elaborar esta nota.
Utilizando-se de um estudo conduzido por Fernando Veloso e colegas da FGV, lá se relata que a produtividade do trabalho na indústria de transformação caiu 0,9% ao ano entre 1995 e 2022, quase três décadas!
Temos aqui um problema persistente e profundo, que, certamente, vai muito além da pauta do “Custo Brasil”, que prende toda a atenção das lideranças setoriais. E o algo a mais deve passar pela condição de setor essencialmente fechado ao resto do mundo, o que reduz a competição, a indução à melhoria tecnológica e a elevação da produtividade.
Existem pelo menos duas formas simples de testar esta proposição. A primeira é entender por que temos empresas industriais extremamente bem-sucedidas (WEG, Embraer, Natura, etc) com trajetória oposta ao que foi mostrado no estudo e que atendem tanto o mercado interno quanto o externo. Tratamos disso várias vezes aqui neste espaço, mostrando que os casos de sucesso têm, pelo menos, três características simultâneas: busca persistente de melhora tecnológica, de eficiência e de produtividade; intenso relacionamento com o exterior, via conhecimento, exportação, importação e investimentos; uma boa estrutura de capital e governança, sem depender decisivamente de créditos subsidiados, incentivos fiscais e outros.
A segunda forma é observar que no texto citado também é mostrado que a evolução da produtividade na agropecuária é totalmente diversa: durante quase 30 anos o valor da produção por hora de trabalho na agricultura se elevou 5,5% ao ano!
Está fartamente documentado que isto é o resultado direto da aplicação de novas tecnologias e gente qualificada sobre os recursos naturais e competição com o resto do mundo.
No início do período analisado, uma hora de trabalho na indústria produzia R$ 46,50, enquanto na agropecuária o valor da hora era de R$ 5,90. A indústria produzia quase oito vezes mais por unidade. No final da série, a relação era de R$ 36,50 para R$ 25,50, apenas 1,4 vez. Neste ano, dada a espetacular safra, estes números devem ter se aproximado ainda mais.
É por isso que, após a divulgação do resultado do PIB no primeiro trimestre, nós da MB alteramos a projeção do PIB para o ano corrente de 1% para 2,1%.