Parlamentares europeus debatem políticas para direcionar a indústria para tecnologias mais limpas.
A implantação de aviões a hidrogênio na Europa exigirá investimentos de 300 bilhões de euros (R$ 1,65 trilhão) e um imposto sobre os combustíveis tradicionais para aviação, segundo um novo estudo de um grupo de energia limpa, mostrando a escala do desafio para os formuladores de políticas na adoção da aviação “verde”.
A Airbus, maior fabricante de aviões do mundo, disse que pretende lançar uma aeronave movida a hidrogênio com emissão zero até 2035, mas alertou sobre o ritmo de desenvolvimento da infraestrutura necessária.
O estudo publicado pela ONG T&E (Transport & Environment) na segunda-feira (22) concluiu que o custo de desenvolvimento da cadeia de suprimentos de hidrogênio na Europa seria de 299 bilhões de euros entre 2025 e 2050, em grande parte composto pelo custo de produção, liquefação e distribuição de hidrogênio verde.
O alto custo tornaria os aviões a hidrogênio 8% mais caros que os aviões movidos a jato em 2035, a menos que o querosene fosse tributado, estimou.
Se o combustível de aviação fosse tributado e se adotasse um preço para as emissões de carbono, entretanto, os aviões a hidrogênio poderiam ser 2% mais baratos de operar, segundo o estudo.
A pesquisa considerou um preço de carbono de 127 euros (R$ 700) por tonelada de dióxido de carbono até 2035. O preço do carbono hoje é de pouco menos de 85 euros (R$ 467) por tonelada, depois de atingir um pico de pouco mais de cem euros (R$ 535) a tonelada em fevereiro, no sistema da bolsa da União Europeia que permite às empresas negociar licenças de emissão de carbono.
A taxação do querosene ainda não foi introduzida, mas o grupo T&E baseou seus cálculos para uma taxa alinhada às atuais propostas apresentadas pela Comissão Europeia, que estimam um imposto de cerca de 0,37 euros (R$ 2) por litro. O preço do combustível de aviação, que acompanha aproximadamente o petróleo bruto, é hoje cerca de 0,55 euros (R$ 3) por litro.
“Se quisermos que a Airbus faça o que diz, precisaremos criar um mercado para aeronaves de emissão zero, tributando o combustível fóssil para aviação e exigindo aviões de emissão zero no futuro”, disse Carlos López de la Osa, gerente técnico de aviação da T&E.
A Airbus disse estar “comprometida em trazer ao mercado a primeira aeronave comercial movida a hidrogênio até 2035, mas a tributação não é a solução para chegar lá”.
“Os incentivos que promovem o investimento em tecnologias e infraestrutura, bem como a precificação do carbono e medidas baseadas no mercado, fornecem uma maneira mais econômica de produzir a redução necessária nas emissões da aviação”, acrescentou.
A aviação está provando ser uma das indústrias mais difíceis de descarbonizar, em parte porque a tecnologia de baterias não está suficientemente avançada para alimentar aeronaves além de distâncias relativamente curtas.
O hidrogênio, produzido pela separação dos átomos de hidrogênio em moléculas de água, tem sido apontado pelos formuladores de políticas como um combustível crucial para a descarbonização de indústrias pesadas, se for produzido com energia renovável.
A indústria de aviação se comprometeu a atingir as metas líquidas de emissões zero de carbono por meio de uma combinação de novas tecnologias de combustível, incluindo o uso de SAFs (combustíveis de aviação sustentáveis) e hidrogênio, bem como aeronaves, motores e gerenciamento de tráfego aéreo mais eficientes.
As opiniões divergem sobre a rapidez com que o hidrogênio pode ajudar a descarbonizar a indústria, dados os desafios técnicos envolvidos, mas muitos especialistas em aviação preveem que voar ficará mais caro.
“Voar no futuro será mais caro. Agora há uma maneira de contornar isso”, disse De la Osa. “A aviação a hidrogênio fará sentido economicamente, desde que apliquemos o princípio do poluidor-pagador. Caso contrário, a indústria dará um tiro no próprio pé.” (Financial Times, 25/5/23)