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Baixa de gasolina, diesel e gás deve ter efeito pequeno na inflação

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Por Vinicius Torres Freire
Baixa dos combustíveis ajuda, mas já estava quase toda nas previsões para 2023.

A Petrobras baixou os preços dos combustíveis de modo justificável e relevante: mais de 12% no caso de gasolina e diesel, mais de 21% no gás de cozinha (GLP). Vai ter algum impacto na inflação final de 2023, a depender de quanto dessa baixa chegar às bombas e revendedores.

No entanto, boa parte dessa redução de preços já estava contada nas previsões para o IPCA deste ano, em torno de 6%. Além do mais, em junho pode voltar o PIS/Cofins integral sobre a gasolina, a não ser que o governo resolva abrir mais um buraco nas suas contas. A volta da cobrança do PIS/Cofins quase anularia a redução de 40 centavos no preço do combustível nas refinarias da Petrobras.

Sim, as pessoas que compram combustíveis vão sentir alguma diferença, é claro. A ver também como esse aumento de renda disponível, tudo mais constante, vai afetar os demais preços.

No debate e na chutometria informada de índices de inflação, porém, o peso da baixa dos combustíveis deve ser pequeno. Deve surtir pouco efeito sobre expectativas de inflação, no que o Banco Central fica de olho.

Um banco estima que sua previsão para o IPCA em 2023 passe de 6% para 5,8%. Outro, mais otimista, de 5,8% para 5,5%. Um terceiro, de 5,9% para 5,8%. Os economistas desses bancos preferem o anonimato, por ora, porque as contas são preliminares.

De qualquer modo, é um tico de notícia boa. No campo da economia, vamos viver assim, da mãozinha para a boca, se tanto. A queda dos preços do petróleo deve ter outros impactos menos visíveis para o público em geral. Como se notava nestas colunas, a deflação dos preços de atacado é forte. A valorização do real ajuda. Entre março e maio, foi uma das maiores entre 37 moedas acompanhadas rotineiramente pelo FMI.

O Brasil tirou um dos seus tantos bodes mefíticos da sala, com a apresentação do teto móvel de gastos de Lula-Haddad. A aprovação disso que se chama de “arcabouço fiscal” com regras menos relaxadas, com os apertos do Congresso, deve ajudar mais.

Nesse contexto de redução de bodes, taxas de juros altas, contas externas em ordem e déficits externos relativamente baixos ajudam o real a se valorizar.

Também caem as taxas de juros no atacadão do mercado de dinheiro, onde se define o piso do custo de empréstimos e as taxas de financiamento de déficits e dívida do governo.

Essas taxas vinham caindo, aos poucos, desde fim de março. Despencaram, de uma semana para cá, apesar do saltinho desta terça-feira. Para quase todos os prazos, estão abaixo das registradas no início de novembro de 2022, antes do “Lula Day”

Foi então que o presidente da República achou conveniente dar caneladas na ideia de controle da dívida pública, na meta de inflação e no Banco Central. As taxas de juros subiram, assim como as expectativas de inflação. Perdemos seis meses por causa de falação contraproducente.

Mas isto é passado, “custos afundados”, por assim dizer, ao modo dos portugueses. Dá para aproveitar a janelinha, postigo, de oportunidade. A julgar pelas taxas de juros futuras no atacadão de dinheiro, a Selic poderia ir a 11,8% no final do ano. O Banco Central, por ora, insiste em 13,5%. Na mediana das projeções dos economistas privados, a 12,5% e caindo.

É bom lembrar, porém, que esse disco tem um lado B. Preços de petróleo e outras matérias primas baixam porque a economia mundial esfria. A Petrobras deve pagar menos impostos e dividendos para o governo. Aliás, o BNDES vai pagar também menos.

São algumas dezenas de bilhões que vão fazer falta; vai ser preciso que Fernando Haddad tenha sucesso estrito na sua previsão de aumentar a arrecadação de impostos, que são também um risco para a inflação. Um déficit grande nas contas federais deste ano pode azedar o caldo outra vez (Folha de S.Paulo, 17/5/23)

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