Com uma colheita recorde de soja no Brasil, as indústrias estão contando com preços mais baixos da principal matéria-prima do biocombustível.
Cotações mais baixas do biodiesel no Brasil estão ajudando a segurar os preços do diesel nos postos do país, que já vinham pressionados por importações do combustível mais barato, especialmente da Rússia, de acordo com analistas e uma associação de produtores ouvidos pela Reuters.
Com uma colheita recorde de soja no Brasil, as indústrias estão contando com preços mais baixos da principal matéria-prima do biocombustível, com reflexos nos valores do biodiesel. Simultaneamente, alguns produtores estão brigando por mercado e às vezes reduzindo as margens, segundo um especialista.
O diesel S-10, o combustível mais consumido no país, seguiu a tendência de queda nesta semana, sendo cotado nos postos em média de 6,232 reais/litro na última terça-feira (19), segundo levantamento da Ticket Log. No mês, o diesel caiu 2% ante a média de março, enquanto no ano o recuo é de cerca de 10%.
“Alguns fatores influenciam nessa pressão baixista sobre preços do diesel. A gente observou que o biodiesel reduziu na ordem de 35% de um ano para cá (abril de 2023 versus abril de 2022) e… isso naturalmente impacta na mistura quando analisa o diesel B”, disse o sócio-diretor da Raion Consultoria, Eduardo Oliveira de Melo.
O analista de petróleo e derivados da StoneX, Pedro Shinzato, também comentou que o biodiesel está contribuindo com a redução dos preços de diesel nas bombas, mas ressaltou que o maior impacto é do produto importado, que está em média mais barato do que o preço cobrado pela Petrobras nas refinarias.
Isso ocorre também, segundo especialistas, em momento em que o Brasil tem elevado importações de diesel da Rússia, que tem exportado seu produto a preços menores diante das sanções da Europa, que por sua vez deixou de comprar o combustível russo por conta da guerra na Ucrânia.
A associação de produtores de biodiesel Aprobio chamou a atenção para uma queda do preço do biocombustível de mais de 20% no acumulado do ano até o último dia 9, o que fez com que houvesse “a possibilidade de uma redução maior no valor na bomba do que a queda de preço exclusiva do diesel fóssil”.
Além da grande safra de soja, que responde por cerca de 70% da matéria-prima do biodiesel, as usinas produtoras do biocombustível estão com capacidade ociosa, disse Shinzato, o que colabora para menores valores do combustível.
“As usinas se prepararam no passado para uma mistura maior (de B15, ante atuais B12). As usinas têm capacidade ociosa hoje, então fica um jogo de quem aperta mais a margem para ganhar mercado“, comentou Shinzato.
A conjuntura em que o biodiesel contribui, junto com o diesel importado, para a redução dos valores na bomba se dá em momento em que a Petrobras –que responde por 70% da oferta nacional– tem segurado os seus preços.
Segundo a StoneX, a Petrobras teria espaço para reduzir o diesel nas refinarias em mais de 50 centavos de real por litro, se seguisse os cálculos da consultoria de paridade de importação. A última vez que a estatal mexeu no preço do diesel foi em 23 de março, quando reduziu o valor em 4,5%.
Em regiões do interior do país, mais distantes das refinarias da Petrobras, os efeitos do biodiesel nos preços têm sido especialmente notados.
“No interior do país, em uma região produtora de soja com capacidade de produção de biodiesel, o biodiesel tem este efeito sim (de manter os preços do diesel pressionados)”, disse Amance Boutin, especialista de combustíveis da Argus, agência de dados e consultoria.
Boutin comentou ainda que o “biodiesel é mais econômico em algumas regiões produtoras”, onde o diesel S10 A (sem mistura de biodiesel) é o mais caro por conta da distância com as refinarias nacionais (Reuters, 20/4/23)