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Agronegócio critica juros, reforma tributária e invasões de terra

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Nome de Lula é ignorado na abertura da Tecnoshow Comigo, um dos principais eventos do setor no Brasil.

As atuais taxas de juros do Brasil, a reforma tributária, a falta de um Plano Safra e as recentes invasões de terra foram criticadas por lideranças do agronegócio nesta segunda-feira (27) na abertura da Tecnoshow Comigo, uma das principais feiras do setor, em Rio Verde (GO).

Enquanto sobraram críticas ao governo federal, não houve nenhuma menção ao nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelas 15 autoridades que discursaram no evento. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi saudado pelo senador Wilder Morais (PL), e aplaudido por parte dos presentes.

A abertura da Tecnoshow, em sua 20ª edição, tampouco teve falas de representantes do governo federal.

“O Brasil ainda não criou uma estratégia econômica para o país, não saiu ainda o Plano Safra, pode inibir os investimentos, também os juros muito altos, tudo isso são fatores que inibem os investimentos e os avanços em novas tecnologias”, disse Antônio Chavaglia, presidente do conselho de administração da Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano), uma das maiores do país, e organizadora da feira.

Joel Ragagnin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja, Milho e Outros Grãos Agrícolas) de Goiás, afirmou que o setor tem encontrado mais dificuldades do que oportunidades.

“Nós tivemos dois ou três anos bons, que nos fizeram evoluir, nos fizeram ter oportunidade de investir no campo, e esse é o reflexo que estamos colhendo. Infelizmente não é dessa forma que eu vejo hoje.”

Vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), José Mário Schreiner (MDB), ex-deputado federal por Goiás, afirmou que a reforma tributária poderá prejudicar de forma significativa o agro por impor o que ele classifica como dupla tributação.

“Ao vendermos nossos produtos, teremos incidência de impostos diretos de 27%, 28%, fora depois a declaração do Imposto de Renda. É um assunto extremamente importante, talvez o mais importante que nós temos hoje de debater”, disse.

Sobre o Plano Safra, Schreiner disse que o governo ainda não fez nenhuma sinalização e que a CNA já percorreu o país coletando informações sobre prioridades, que serão levadas ao governo federal.

A ausência do plano até agora, porém, não é incomum. No ano passado, sob Bolsonaro, a mesma crítica foi feita pelo setor no fim de abril, no início da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto.

Presidente do sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) em Goiás, Luís Alberto Pereira disse que é preciso ampliar o crédito, com “juros civilizados”, além de gastar melhor os recursos públicos.

“O gasto público ineficiente e populista é a saúva [problema] da América Latina. O Brasil tem ao lado a decadência da Argentina, destino que nos espera caso não haja um controle estratégico das contas públicas”, completou.

“Não tem cem dias de desgoverno, nós já temos 13 invasões de terra, inclusive aqui no estado de Goiás, coisa que não acontecia nem no primeiro mandato seu e do mandato do nosso presidente Jair Bolsonaro. Então é por isso que precisamos nos unir, é hora de unir as forças”, afirmou o senador Wilder Morais, dirigindo-se ao governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil).

Caiado, por sua vez, afirmou que o número de invasões é maior que o dito pelo senador, com 16 registros no estado nos últimos 35 dias. “Nenhuma continuou sequer ali e muito menos por mais de 24 horas”, afirmou.

O governador disse ainda que agirá para evitar invasões de terra e que a Constituição protege terras produtivas de desapropriação. “É norma legal e ainda hoje se discute direito de propriedade, que já é uma norma constitucional. Algo impressionante, o quanto nós ainda temos de defender aquilo que é patrimônio, reconhecido pela Constituição brasileira.”

Um dos históricos líderes da bancada ruralista no Congresso, Caiado foi vaiado três vezes nesta segunda ao participar da feira agrícola em Rio Verde.

Duas delas quando teve o nome apontado em discursos por Marchesan e pelo vice-governador, Daniel Vilela (MDB), como possível presidenciável em 2026. A terceira quando foi anunciado para discursar.

O embate entre o governador e o agro ocorre desde o ano passado, quando ele sancionou um projeto que cria uma contribuição sobre produtos agrícolas que ficou conhecida como “taxa do agro”.

Entidades como a Aprosoja reagiram e se colocaram contra a cobrança, alegando que elevar tributos atingiria toda a população e a economia do estado.

Caiado afirmou que pode ser criticado, mas tem de pensar na responsabilidade de governar 7 milhões de habitantes. “Já fui por muitas vezes aplaudido, por muitas vezes criticado, mas nunca fui criticado por corrupção.”

Segundo ele, a contribuição aplicada aos produtores rurais foi implementada para compensar perdas de verbas provocadas por decisões do Congresso.

“É um pedido que faço, a compreensão de cada um de vocês. Não julguem apenas um gesto, me julguem pela minha história. (…) Estamos hoje pedindo ao setor agropecuário, não vai um centavo para o tesouro do estado de Goiás. Toda arrecadação, 100% dela, é repassada à Secretaria da Infraestrutura”, disse.

Folha questionou o Ministério da Agricultura sobre a ausência de representantes do governo na abertura da feira e as críticas feitas pelo agro, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

Apesar das críticas na abertura, a organização da feira aposta em resultados positivos. A previsão é que o país colha 13,8% mais grãos neste ano do que no ciclo anterior. O fim do embargo chinês à carne bovina brasileira também é apontado como um catalisador para o crescimento da pecuária neste ano.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta safra de 309,9 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2022/23, apesar de problemas como o clima adverso no Rio Grande do Sul, o que significa 37,5 milhões de toneladas a mais que no período anterior.

Os destaques são a soja, com projeção de aumento de 20,6% (25,9 milhões de toneladas a mais), e o milho, com 10,2% (11,5 milhões de toneladas).

Em sua retomada após um hiato provocado pela pandemia de Covid-19, a Tecnoshow movimentou R$ 10,6 bilhões no ano passado (R$ 11,19 bilhões, corrigidos pela inflação), e tem a perspectiva de ao menos repetir o desempenho neste ano.

A feira, realizada numa área de 65 hectares (o equivalente a 91 campos de futebol) do CTC (Centro Tecnológico Comigo), acontece até sexta (31), com máquinas e equipamentos agropecuários, animais, palestras técnicas e econômicas, ações socioambientais e dinâmicas de pecuária. Até lá, a expectativa é que 130 mil pessoas visitem a Tecnoshow, que tem 650 expositores (Folha de S.Paulo, 28/3/23)

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