Confira as notícias do Agronegócio no Paraná

Pauta do agronegócio será desafio para Centrão

Patrocinadores

Por Gustavo Carneiro

Qual será a atitude dos partidos de centro-direita quando for necessário se posicionar ideologicamente em meio a pautas tradicionalmente combatidas por governos de esquerda?

Os próximos dois meses prometem ser os mais importantes para a política não só pelo que representará o terceiro mandato do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas também para o desenho político dos próximos oito anos, considerando a influência deste processo nas eleições de 2024 e 2026.

Primeiro, porque saberemos, a partir de abril, se Lula conseguirá aglutinar uma base ampla, fidelizada, em torno de si; segundo, porque as negociações de fusões e federações entre os partidos, que passam por uma crise de identidade, ganharão ainda mais força.

São dois processos paralelos, mas que se encontram em determinado momento: numa ponta, o governo tentará impor uma agenda nacional que precisa ser capaz de ao menos não afastar os partidos de centro-direita de sua base; e, por sua vez, as legendas serão obrigadas a tomar posições políticas e ideológicas mais claras, ainda que venham a aderir formalmente ao Executivo atual.

Pelas sinalizações dadas até agora, são processos que parecem cada vez mais antagônicos. Parlamentares da centro-direita, com expressiva bancada no Congresso, têm demonstrado grande dificuldade em serem identificados como governistas à medida que Lula e seus ministros simpatizam com políticas antiliberais.

Ainda assim, enquanto a pauta legislativa é dominada por temas como as mudanças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) – às quais o empresariado e o Centrão resistem –, a autonomia do Banco Central e eventuais alterações na reforma trabalhista, a necessidade fisiológica das legendas tem mais condições de prevalecer.

Mas, quando a pauta de votações ganhar corpo – e quando as reformas tributária, fiscal e administrativa forem efetivamente apresentadas –, o conflito será iminente. E boa parte desse desafio estará na agenda do agronegócio, cujas ações do governo até aqui já têm sido alvo de críticas do setor e da bancada ruralista.

Para quem acompanha os temas da agropecuária, a posição do atual governo em relação ao agronegócio já era esperada, mesmo que Lula tenha contado com o apoio velado de parte do agro empresarial – que exporta, precisa de boa imagem internacional e pragmatismo político – e parlamentares respeitados ligados ao setor nas eleições, a exemplo do caso do ministro Carlos Fávaro e do vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Neri Geller.

A dúvida é: qual será a atitude dos partidos de centro-direita, sobretudo o Centrão (PL, PP, Republicanos, União Brasil), quando for necessário se posicionar ideologicamente em meio a pautas tradicionalmente combatidas por governos de esquerda, como a modernização da legislação de pesticidas, a demarcação de terras indígenas ou o autocontrole dos produtos agropecuários, propostas que basicamente diminuem a intervenção do Estado no setor agro?

A tendência é de que, ao passo em que nos aproximemos das eleições municipais e, em seguida, do pleito nacional, essas siglas encontrem ainda mais dificuldade em se posicionar junto do governo diante destes temas e, na mesma medida, que o Executivo tenha facilidade em ceder em qualquer um desses projetos.

Nos próximos dois meses, portanto, será possível mensurar o tamanho – e de que forma – a oposição temática entre a bancada ruralista e o governo poderá afetar a governabilidade e o discurso eleitoral dos parlamentares quando confrontados nesse cenário.

Tais posições ficarão mais evidentes, a começar pela própria votação da medida provisória de estruturação do novo governo que transferiu a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, criou o Ministério dos Povos Originários e colocou o Cadastro Ambiental Rural (CAR) sob a tutela de Marina Silva.

Ficarão gritantes à medida que projetos imprescindíveis para o agronegócio, como o projeto dos pesticidas – já em tramitação avançada no Congresso –, finalmente forem à votação. Qual será a posição do governo Lula em relação a essas pautas? Conseguirá se omitir, sem desgaste político, ou será pressionado a manter a oposição?

Como a posição dos governos do PT e, agora, do atual governo já são conhecidas, o ônus político recairá ainda mais sobre os parlamentares. Precisarão, novamente, se equilibrar entre a agenda programática e a que visa a cargos, orçamento e influência na estrutura governamental. Esse equilíbrio político será sustentável?

A preços de hoje, os desafios ideológicos do governo e do Centrão parecem inconciliáveis e sugerem mais perguntas do que soluções. Mas as respostas para essas perguntas e como esses desafios influenciam os rumos políticos só serão conhecidas no decorrer dos fatos (Gustavo Carneiro é engenheiro agrônomo, foi coordenador do Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e nos últimos dois anos atuou como diretor-geral da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA; O Estado de S.Paulo, 6/3/23)

Compartilhar:

Artigos Relacionados

Central de Atendimento

Contato: André Bacarin

    Acesse o mapa para ver nossa localização