Editorial O Estado de S.Paulo
Para proteger a biodiversidade, leis de preservação são tão importantes quanto ganhos de produtividade.
A população de baleias jubarte no Brasil, que esteve ameaçada de extinção, está perto de se recuperar totalmente. O primeiro registro do Instituto Baleia Jubarte, em 2003, estimava cerca de 3 mil baleias em águas brasileiras. Em 2022, foram registradas 25 mil, número próximo ao de 200 anos atrás, quando a população estava entre 27 mil e 30 mil.
A história da recuperação das jubartes ainda é relativamente excepcional no drama global da degradação ambiental, mas ela deveria ao menos ajudar a dissipar um pouco da atmosfera fatalista que vem imperando na consciência popular. Como os ambientalistas alertam cada vez mais, a perda da biodiversidade é real, e traz riscos tão grandes para a humanidade e a natureza quanto as mudanças climáticas, às quais ela está inter-relacionada. Mas, com inteligência e boa vontade, esse é um problema que pode ser revertido.
Ocorre que boa parte do ativismo ambiental, com a melhor das intenções, muitas vezes obnubila as soluções, ao sugerir um antagonismo entre o mundo humano e o natural, como se a prosperidade humana fosse necessariamente incompatível com a preservação ambiental. Há razões históricas para pensar desse modo. Mas o presente mostra que o futuro não precisa ser assim.
Os mamíferos selvagens são um exemplo. Com efeito, desde os tempos pré-históricos a relação dos humanos com eles foi uma espécie de jogo de soma zero: para se alimentar, primeiro, os humanos os destruíram diretamente, pela caça; depois, indiretamente, destruindo seus habitats com a expansão das terras agrícolas.
Mas pela primeira vez na história da humanidade há a oportunidade de reverter essa lógica. Cada vez mais os humanos são capazes de produzir mais comida empregando menos terras.
Não são os vetores da prosperidade, como a economia de mercado ou a tecnologia, que destroem o meio ambiente. Ao contrário, eles o salvam. Os dados mostram que, em geral, os países que enriquecem revertem o desmatamento, desaceleram a perda de espécies e revertem o declínio de algumas delas, precisamente porque tecnologias agrícolas e ganhos de produtividade permitem cultivar mais com menos terras, preservando espaços para a vida natural. Se a população de lobos está crescendo no mundo, a de leões está decrescendo e a de tigres está estável, é porque os tigres estão majoritariamente em países de renda média; os leões, em países pobres; e os lobos, em países ricos. Assim como os lobos, muitos mamíferos na Europa experimentaram um forte crescimento nos últimos 50 anos.
Sem dúvida, para espécies à beira da extinção, leis de preservação e estratégias de recuperação são indispensáveis. No caso das jubartes, a caça foi proibida em 1987 e cuidados especiais foram tomados para conservar áreas de acasalamento – como o “berçário” de Abrolhos, na Bahia. No entanto, é mais fácil executar essas leis e estratégias quando inovações tecnológicas e de produtividade reduzem a necessidade de comunidades humanas de explorar extensas zonas e recursos naturais para sobreviver e prosperar (O Estado de S.Paulo, 11/1/23)