O biogás é um combustível renovável obtido a partir de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários
O setor de biogás enxerga um horizonte favorável à expansão de projetos de geração de energia elétrica e biometano no Brasil no médio e longo prazo, com a demanda crescente ganhando fôlego extra de uma agenda ambiental fortalecida no próximo governo.
Para agentes que participaram do Fórum do Biogás nesta terça-feira, o segmento de gás “verde” seguirá uma trajetória irreversível de crescimento, ancorada no processo de transição energética global, com muito potencial ainda a ser explorado.
“Os programas que temos para biogás, o Renovabio, já passaram por outros governos, não vejo uma interrupção. Pelo contrário, (vemos) uma pauta ambiental até mais forte, uma vontade de o Brasil se inserir em cadeias globais de descarbonização”, disse Alessandro Gardemann, presidente da associação setorial Abiogás, durante o evento.
Ele ressaltou que o biogás desponta como uma solução para viabilizar a descarbonização de setores mais complicados, como indústrias químicas e nos transportes.
O biogás é um combustível renovável obtido a partir de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários. Seus principais usos são a geração de energia elétrica e a conversão em biometano, um substituto renovável do gás natural.
Embora ainda seja relativamente pequeno, o mercado de biogás vem crescendo no Brasil a partir de incentivos do governo e de investimentos de grandes empresas, como Raízen, Vibra e Urca Energia. Entre 2019 e 2021, o setor dobrou sua capacidade de produção nacional, com a instalação de 140 novas plantas, adicionando 38 megawatts (MW) na geração de energia elétrica e 120 mil m³/dia de biometano, segundo dados da Abiogás.
A Raízen vê grande valor nas soluções envolvendo biogás e biometano, prevendo ampliar sua produção de forma expressiva até 2030, segundo Debora Cardoso Vieira, COO da Raízen Geo Biogás.
A executiva disse não enxergar nenhuma ruptura nas políticas de incentivo ao biogás nos próximos anos e defendeu que o grande “divisor de águas” será a criação de um mercado de carbono no país.
“Se a gente conseguir potencializar o atributo verde, separar o físico (produto gás) da monetização do carbono, melhor”, afirmou Vieira, destacando que o grande desafio atual para os projetos é conectar a oferta do biogás e biometano à demanda do cliente.
“O Brasil tem um potencial de monetizar o carbono que ainda não entendemos, é um valor enorme”, disse, acrescentando que no mercado europeu paga-se um prêmio importante para esse tipo de produto.
A Raízen já produz biogás em uma unidade anexa ao parque de bioenergia Bonfim, em Guariba (SP), um projeto em associação com a Geo Energética.
A empresa está construindo uma segunda planta de biogás, que será totalmente dedicada à produção de biometano, no parque de bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba. Esse projeto conta com 300 milhões de reais em investimentos e terá capacidade de produção de 26 milhões de m³ de biometano por ano.
Segundo a COO, novos projetos de biogás estão sendo prospectados, a fim de que a Raízen consiga levar mais unidades dessas a seus 35 parques de bioenergia espalhados pelo país.
Segundo um estudo da consultoria McKinsey nesta terça-feira, dada a alta disponibilidade de matéria-prima para o biogás, o Brasil teria potencial para atingir uma produção 460 milhões de MMBTU até 2030 equivalente a 25% a 30% da demanda de gás natural doméstica, chegando a um valor de mercado de 7,7 bilhões de dólares (Reuters, 30/11/22)