Editorial Estadão
É inegável a importância crescente do agronegócio para o desenvolvimento social e econômico do País e para a preservação do meio ambiente. O próximo governo Lula precisa ter um olhar estratégico para o campo, capaz de vislumbrar nossas muitas vantagens competitivas e compreender o papel do Brasil na nova economia verde. O País pode e deve ter verdadeiro protagonismo no atual cenário internacional.
O mercado já tem consciência das oportunidades que esse protagonismo certamente trará. Em artigo publicado no Estadão, o gestor de investimentos Flavio Zaclis lembrou que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “a demanda global de alimentos aumentará em 70% até 2050”. Por esse motivo, disse Zaclis, é preciso “produzir mais e de forma mais sustentável”, pois “segurança alimentar, descarbonização da economia e sustentabilidade são temas que preocupam o mundo inteiro”. O Brasil está em posição privilegiada, argumentou ele, para “ser o grande líder dessa revolução verde” (Leia abaixo “Brasil verde, Brasil líder”, 26/8/2022).
Nesse quadro, é fundamental que o apoio ao agronegócio deixe de ser apenas discurso de campanha. Para o País aproveitar as oportunidades internacionais, é preciso enfrentar, com planejamento, seriedade e capacidade de execução, os gargalos e as ineficiências nacionais. Listamos a seguir alguns pontos que o jornal considera especialmente importantes.
Em primeiro lugar, como condição prévia, está o respeito à agricultura e à pecuária nacionais. É preciso pôr fim a um olhar preconceituoso sobre o agronegócio, como se esse setor fosse vilão do meio ambiente. Na difusão dessa falsa narrativa, que deprecia o País e o trabalho de tantos brasileiros, o PT e o MST tiveram acentuada responsabilidade. É hora de abandonar o discurso ideológico e reconhecer a realidade: o produtor rural é um grande aliado da preservação ambiental, protegendo, em suas propriedades, a vegetação de mais de 20% de todo o território nacional, segundo os dados da Embrapa. As unidades de conservação abrangem cerca de 13% do território.
Na tarefa de apoio ao agronegócio, cabe ao governo ampliar o financiamento rural, em suas várias modalidades. É preciso facilitar o acesso do produtor rural aos recursos necessários para sua atividade. Em vez de representar um tratamento privilegiado, o financiamento do agronegócio significa investir no Brasil de forma estratégica, onde ele é mais competitivo. Apesar do discurso de apoio ao campo, o governo de Jair Bolsonaro descuidou, diversas vezes, da provisão de recursos para o Plano Safra.
Outra frente prioritária é a abertura de novos mercados para os produtos brasileiros, com a expansão das praças já existentes. Além de pragmatismo para defender de forma eficiente os interesses nacionais no cenário internacional, é preciso especial cuidado com o tema do meio ambiente. De forma inteiramente irresponsável, o governo Bolsonaro arrasou com a imagem do Brasil no mundo, como se o agronegócio brasileiro estivesse indiferente à questão climática e, para produzir, precisasse descumprir a legislação ambiental. Para piorar, teve até ministro do Meio Ambiente envolvido em escândalo de extração de madeira ilegal.
Em 2023, será necessária uma atitude completamente diferente do governo brasileiro, que não apenas repare os danos reputacionais gerados nos últimos quatro anos, mas promova uma efetiva representação, institucional e comercial, apta a inserir, de forma vantajosa, o Brasil e seus produtos no mercado internacional.
Por último, mas não menos importante, é necessário ampliar e aperfeiçoar a infraestrutura do País para o agronegócio – logística, armazenagem e comunicação –, assegurando as correspondentes fontes de investimento.
“O Brasil tem vocação verde. O Brasil tem tudo para ser o grande líder do planeta nessa área. É uma oportunidade colossal”, afirmou o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. Esse protagonismo não é uma utopia. O setor privado está fazendo a sua parte. Cabe ao próximo governo, atento a esse cenário de oportunidades, assumir sua responsabilidade (O Estado de S.Paulo, 3/11/22)