Falha na queima do gás de efeito estufa na indústria petrolífera aumenta o aquecimento global.
A prática da indústria petrolífera de queimar metano indesejado é menos eficaz do que se supunha previamente, disseram cientistas na última quinta (29), resultando em novas estimativas de emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos que são cerca de cinco vezes maiores que as anteriores.
Em um estudo das três maiores bacias de petróleo e gás dos EUA, pesquisadores descobriram que a prática, conhecida como “flaring” (queima), muitas vezes não consome completamente o gás metano, um poderoso retentor de calor que geralmente é um subproduto da produção de petróleo. Em muitos casos, segundo descobriram os cientistas, as chamas se apagam e não são reacesas, então todo o metano escapa para a atmosfera.
Melhorar a eficiência e garantir que todos os “flares” permaneçam acesos resultaria em reduções anuais de emissões nos Estados Unidos equivalentes a tirar quase 3 milhões de carros das estradas por ano, disseram os cientistas.
“Os ‘flares’ estiveram meio despercebidos”, disse um dos pesquisadores, Eric A. Kort, cientista atmosférico da Universidade de Michigan. “Mas eles realmente são mais importantes para o clima do que imaginávamos.”
“Então, se melhorarmos nossa ação com essas chamas, na verdade teríamos um impacto climático muito mais positivo do que imaginávamos inicialmente”, disse Kort.
Como o metano é um gás de efeito estufa mais forte, embora de vida mais curta, do que o dióxido de carbono, os esforços para identificar e reduzir as emissões de metano se intensificaram nos últimos anos.
O metano é o principal componente do gás natural, também conhecido como gás fóssil, que pode vazar para a atmosfera a partir de poços, dutos e outras infraestruturas, e também é liberado intencionalmente para manutenção ou outros motivos.
Mas grandes quantidades são queimadas.
O gás queimado é frequentemente produzido com petróleo em poços em todo o mundo ou em outras instalações da indústria. Pode não haver um oleoduto ou outros meios de comercializá-lo economicamente e, por ser inflamável, apresenta problemas de segurança. Nesses casos, o gás é enviado por um tubo vertical com um queimador na parte superior.
A Agência Internacional de Energia estimou que, em todo o mundo, em 2021, mais de 140 milhões de metros cúbicos de metano foram queimados dessa forma, quantidade igual à importada no ano pela Alemanha, França e Holanda.
Se a combustão for eficiente, quase todo o metano é destruído, convertido em dióxido de carbono, que tem menos impacto climático imediato. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, em estudos realizados na década de 1980, calculou que os “flares” destruíram 98% do metano enviado por eles.
Mas a nova pesquisa descobriu que a queima era realmente muito menos eficaz, especialmente quando as chamas apagadas eram levadas em consideração. As emissões de combustão inadequada foram responsáveis por até 10% de todas as emissões de metano da indústria de petróleo e gás, disseram os cientistas. As descobertas foram publicadas na revista Science.
Os pesquisadores analisaram as operações nas bacias Permian e Eagle Ford, no Texas, e Bakken, na Dakota do Norte, que juntas respondem por cerca de 80% da queima nos Estados Unidos.
“A ideia era que, se pudéssemos fazer uma boa amostragem representativa nesses domínios, teríamos uma boa imagem do cenário nos Estados Unidos”, disse Kort.
Eles coletaram amostras de plumas de gás das chamas voando através delas num pequeno avião. Descobriram que os “flares” destruíam cerca de 95% do metano, não 98%. E que em algumas bacias até 5% dos “flares” estavam apagados. Isso reduziu a eficiência geral para cerca de 91%.
As labaredas podem ser afetadas pelo vento, o que pode permitir que parte do metano não queimado escape, ou pela presença de outros gases. Vento, mudanças na pressão do gás ou problemas com o queimador podem fazer com que a chama se extinga, e se não houver monitoramento de rotina os “flares” podem permanecer apagados por muito tempo.
Riley Duren, diretor do Carbon Mapper, grupo sem fins lucrativos que lançará no próximo ano satélites para detectar e monitorar fontes de emissões de gases de efeito estufa, disse que as descobertas não foram surpreendentes para aqueles que estudaram as emissões dessas bacias de petróleo e gás e sabem a quantidade de queima realizada.
Mas a pesquisa abrangente dos pesquisadores mostra que a queima ineficiente “é uma questão mais sistemática”, disse Duren, que não participou do estudo.
Em outras partes do mundo, há pouca evidência observacional direta da eficiência dos “flares”, disse Duren. Mas globalmente, disse ele, “é provável que a combustão seja menos eficiente do que se supõe” (The New York Times, 1/10/22)