Projeções indicam que, no ritmo de desmatamento atual, país não honrará compromisso assumido no Acordo de Paris.
O Brasil pode aumentar a emissão de GEE (gases do efeito estufa) em 137% caso as políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro (PL) se mantenham nos próximos anos, segundo um estudo do Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) divulgado nesta quinta-feira (15).
Os pesquisadores usaram dados de desmatamento e emissões de gases-estufa para simular quatro cenários, dois positivos e dois negativos.
Um dos cenários negativos indica que o Brasil emitirá 2,4 GtCO2e (bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente) em 2030. Esse número que é 91% superior à meta de 1,3 GtCO2e definida na NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), documento que reúne os compromissos adotados por um país no âmbito do Acordo de Paris para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Na sua NDC, atualizada pela última vez neste ano, o Brasil se compromete a reduzir em 50% as emissões de gases-estufa até 2030, chegando ao nível de 1,3 GtCO2e.
Já o pior cenário indica o aumento de 137% na emissão de gases-estufa até 2030, chegando a 3 GtCO2e.
“O Brasil tem um compromisso internacional de diminuir sua pegada de carbono em 50% até 2030. Me pergunto sobre qual vai ser a resposta da comunidade internacional se chegarmos lá em 2030 e, em vez de diminuir, as emissões dobrarem”, diz Ana Toni, diretora do ICS (Instituto Clima e Sociedade). A entidade é apoiadora do estudo, assim como o Instituto Talanoa e o Centro Clima.
Outras duas simulações, as positivas, chamadas de cenários de mitigação adicional (CMA), indicam o que poderia acontecer caso houvesse, por exemplo, uma queda radical do desmate, um aumento do reflorestamento em áreas públicas e privadas e uma precificação de carbono, ou seja, um valor embutido em produtos e serviços referente aos gases emitidos.
No cenário de mitigação adicional 1 (CMA1), o Brasil registraria emissão de 1 GtCO2e em 2030. Já no CMA2, hipótese em que as ações de combate às mudanças climáticas são mais eficazes, o país emitiria 0,5 GtCO2e. Assim, em ambos os casos o compromisso brasileiro assumido no âmbito do Acordo de Paris seria honrado.
No país, a principal razão para o aumento nas emissões de gases do efeito estufa é o desmatamento, em especial o da Amazônia.
Em 2021, foram desmatados na Amazônia 13 mil km². Segundo os pesquisadores, se seguir nesse ritmo, no melhor cenário, o Brasil terá uma taxa de desmatamento de 24 mil km² no ano de 2030. E, no pior cenário, chegará a quase 30 mil km² em 2030, o equivalente a 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Já nas simulações positivas, no CMA1, a Amazônia registraria em 2030 um total de 5.950 km² desmatados, enquanto no CMA2 a Amazônia não registraria desmatamento (Folha de S.Paulo, 16/9/22)