Por Mauro Zafalon
Entidade traça, pela primeira vez, diretrizes não só para o agro, mas também para a política econômica e social.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) sinalizou nesta quarta-feira (10) apoio à candidatura de Jair Bolsonaro na próxima eleição.
Após destacar a importância do agronegócio, em evento que reuniu as 27 federações e sindicatos do setor, em Brasília, João Martins da Silva Junior, presidente da entidade, afirmou que o setor é bom em produzir, tem tecnologia e equipamentos, mas só isso não é necessário.
“Precisamos de muito mais. Precisamos que o Brasil modernize. Precisamos que o Congresso Nacional que vai ser eleito tenha a coragem de votar as grandes reformas que o país precisa.”
Para ele, o Brasil tem de se posicionar como líder no mundo. “Nós temos consciência de nosso papel, mas nós também temos de ter consciência do que podemos fazer por esse país, além de produzir”.
O presidente da CNA afirmou, durante o evento com os produtores, que “os senhores sinalizaram bem claro que não há mais espaço neste país para uma equipe corrupta e incompetente. E muito menos para o retorno de um candidato que foi processado e preso como ladrão”, uma referência ao ex-presidente Lula.
Ele destacou, ainda, a necessidade da eleição de um Congresso comprometido com grandes reformas e “um presidente que dê continuidade ao que nós estamos vendo hoje”.
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Martins da Silva destacou que, ao voltar para casa, o produtor deverá ser um monitorador em sua residência, no trabalho, nas fazendas e em sua comunidade. “Precisamos esclarecer à população o que é bom e o que é ruim. Ser interveniente nesse processo eleitoral.”
O objetivo da reunião dos produtores em Brasília era o de apresentar um documento com as propostas do setor para os presidenciáveis. Jair Bolsonaro estava presente ao evento e falou por uma hora.
Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, foi o responsável por fazer uma síntese dos principias pontos do documento, que ainda deverá ser discutido nas federações estaduais.
As sugestões não se limitaram apenas ao próximo presidente, mas também ao Congresso. Os pontos apresentados não se restringiram, pela primeira vez, só ao agronegócio, mas a toda uma política de governo.
Segundo Lucchi, “para que o agro vá bem, é preciso que o Brasil também vá bem”. O documento contém quatro eixos, segundo o diretor técnico: segurança alimentar e desenvolvimentos econômico, social e sustentável.
Para que haja segurança alimentar são necessários inovações tecnológicas, desenvolvimento da logística, avanços no mercado internacional e acesso aos alimentos.
O país precisa produzir, mas a população precisa ter acesso aos alimentos. Para isso, garantir a não dependência dos fertilizantes, aprovar a lei dos defensivos agrícolas e de bioinsumos, além de desenvolver a irrigação, afirma Lucchi.
Para ele, o acesso aos alimentos pode ser atingido com aumento de eficiência dos programas sociais, que devem ser transitórios, e não eternos.
Para o aumento da produção e do acesso aos alimentos são necessários melhor desenvolvimento da logística e abertura maior do mercado internacional, que complementa o brasileiro, prevê a CNA.
Nas metas de desenvolvimento econômico, Lucchi destaca a necessidade de reformas estruturantes. Uma delas é a da política, que deve ter financiamento das campanhas pelo setor privado, de forma transparente. No campo administrativo, o país deve tornar a máquina mais leve e digitalizada.
Quanto à reforma tributária, Lucchi salienta a necessidade de uma simplificação, mas sem transferência dessa carga para o agronegócio.
Ele realça a necessidade da modernização da política agrícola, com olhares para o seguro rural, financiamento verde, crédito à agricultura familiar e redução de custos no financiamento.
O desenvolvimento social deve ser pautado por pesquisas na saúde, alocação orçamentária e maior eficiência no setor. Na educação, o diretor técnico aponta a necessidade da promoção da assistência técnica e gerencial, o que resulta em mais produtividade e renda. A ciência, segundo ele, também deverá estar presente nas escolas.
No setor de trabalho, a CNA propõe avanços da reforma trabalhista e programas de capacitação de mão de obra.
O quarto eixo do documento da CNA se refere ao desenvolvimento sustentável, onde as propostas são de análise e de validação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) pelos estados. A entidade realça, ainda, a necessidade do pagamento pelos serviços ambientais, implementação da política nacional de carbono na agropecuária e a busca por acordos internacionais.
Lucchi frisou também a necessidade de regularização fundiária, com demarcação das terras indígenas e combate às invasões, que, para ele, devem ser consideradas como ato terrorista (Folha de S.Paulo, 11/8/22)