Por Arnaldo Luiz Corrêa
Os últimos 30 dias têm sido excruciantes para as commodities de maneira geral. As de energia, por exemplo, sofreram uma retração de 15-18% no petróleo WTI e no Brent e também na gasolina e no diesel. Os grãos derreteram: trigo 27%, óleo de soja 24%, milho 23% e soja 14%. As chamadas soft commodities também não foram poupadas da derrocada global: café caiu 13% e o algodão 25%. Adivinhem, caros leitores, qual foi a única commodity que escapou desse derretimento? Acertou quem respondeu açúcar.
O açúcar andou na contramão do resto do mercado de commodities e demais ativos de risco por uma série de razões. As distorções e dúvidas produzidas pela mudança nos tributos dos combustíveis provocaram uma antecipação na compra de etanol por parte das distribuidoras, pondo um sinal de alerta no mercado de que as usinas poderiam ser mais açucareiras a partir de agora. Mas, isso deveria originar uma baixa no preço do açúcar em NY e não uma alta, certo? Em tese, sim. No entanto, essa perspectiva, fez elevar momentaneamente o preço do etanol e o açúcar acabou sendo valorizado (paradoxalmente) via arbitragem.
Temos falado aqui, já há algum tempo, que não acreditamos na consistência dessa subida do açúcar nesta safra corrente devido à retração da economia global, à menor reposição de estoques por parte dos consumidores industriais, à perda de renda das famílias e ao aumento na taxa de juros. Continuamos com essa visão.
NY encerrou a semana com o vencimento outubro/22 cotado a 19.16 centavos de dólar por libra-peso, uma elevação de apenas 14 pontos em relação à sexta-feira anterior, pouco mais de 3 dólares por tonelada. O real encerrou desvalorizado em relação à moeda americana, cotado a R$ 5,4050. Os valores dos contratos futuros que contemplam a safra 22/23 (outubro/22 e março/23) encerraram com ganhos de 56 reais por tonelada no acumulado da semana; a 23/24 apenas R$ 28 e a 24/25 uma queda de R$ 15 por tonelada. Todos os valores assumem operações de NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, que considera o cupom cambial.
Os fundos não-indexados viraram novamente a mão e agora estão comprados pouco mais de 10,000 lotes. A posição de contratos em aberto no açúcar em NY atingiu seu nível mais baixo desde novembro de 2017. Pouco volume é ambiente propício para as robôs e algoritmos fazerem a festa, levando o mercado para cima e para baixo como numa montanha-russa, com isso o volume de negociação aumenta, mas a posição em aberto não muda porque eles zeram as posições no final do dia. Vamos ver.
Notem que a acomodação no preço das commodities, em especial a gasolina e as alimentícias, devem trazer surpresas positivas na queda da inflação no último trimestre do ano e início de 2023. Alguns economistas acreditam que a inflação pode cair para um dígito o que abriria espaço para o Banco Central do Brasil reduzir a taxa de juros no começo do ano. Isso posto, a curva de NDF – que apresenta apetitosas taxas da moeda brasileira – declinaria. Essa possibilidade tem feito algumas usinas acelerarem na fixação de preços de seus açúcares para exportação para a safra 23/24, segundo um corretor de futuros.
Faz todo sentido essa preocupação. Uma eventual combinação de eventos como o petróleo negociando perto de 85-90 dólares por barril, o real se valorizando frente ao dólar no início de um novo governo e a queda da inflação seguida da redução da taxa SELIC para o início do ano encolheriam os preços em reais por tonelada. Porém, a fixação de preços sem nenhuma proteção de alta num cenário fragmentado como esse, pode ser um tiro no escuro. A compra de uma call (opção de compra) com preço de exercício 200/250 pontos acima do nível de fixação é altamente recomendada.
Como bem disse um experiente executivo ligado ao mercado de combustíveis, “o mercado está cheio de fios desencapados e longe de ser racional, não há cenário de curto prazo que fique em pé”. Resumiu bem o sentimento da maioria das empresas. Na verdade, em quase 30 anos de atuação no mercado sucroalcooleiro, não me lembro de um ambiente tão confuso, desordenado e labiríntico como esse atual.
Tanta energia despendida nesse episódio dos combustíveis e agora, com os preços do petróleo despencando, a Petrobras teria espaço para diminuir o preço da gasolina na refinaria em aproximadamente 5%. Rasgaram a Constituição, diminuíram a arrecadação dos estados, abriram precedentes perigosos para que esse congresso nefasto continue saqueando o país ad aeternum, tudo em nome da reeleição. Dilma distribuiu R$ 10 bilhões. O inquilino atual R$ 40 bilhões. A conta virá (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 15/7/22)