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Açúcar: Um tiro no escuro

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Por o Arnaldo Luiz Corrêa

Quero abrir esse comentário dando a vocês, prezados leitores, com exclusividade, minha previsão de preços para o contrato futuro de açúcar em NY até o final de 2023. Tenho certeza que poderão ganhar muito dinheiro com essa dica infalível, exclusiva e totalmente gratuita. Mas, é claro que a responsabilidade é integralmente sua, caso venha a perder dinheiro com ela. E nem adianta vir reclamar depois, pois o disclosure no rodapé da página está bem claro. Prontos? Então, anote aí, de hoje até o final de 2023 o açúcar deve negociar num intervalo entre 8 e 68 centavos de dólar por libra-peso. Como assim? Vocês não estão me levando a sério? Acham que é brincadeira? Pois é brincadeira. Mas, muito bem fundamentada.

Nesta semana, não sei se vocês viram, mas dois proeminentes bancos internacionais saíram-se com esse tipo de previsão, não para o açúcar, mas para o petróleo. Um banco disse que numa situação de absoluto estresse o petróleo poderia chegar a 380 dólares por barril caso a Rússia decida cortar sua produção. O outro banco alerta que se formos para uma recessão, no final do ano o petróleo bate 65 dólares por barril e em 2023 atinge 45 dólares por barril.

A “minha previsão” não usou nenhum sofisticado algoritmo criado por mentes brilhantes de Cambridge, Stanford, Harvard, MIT ou Oxford que habitam nesses formadores de opinião. Ela usou apenas a boa e velha regra de três que aprendi nas aulas de matemática na escola pública que estudei em Santos, tomando por base o preço médio do açúcar em NY.

Agora, vamos falar sério. Não sei a quem interessam essas previsões sem pé nem cabeça, mas elas surgem de tempos em tempos para fazer os investidores mais incautos embarcarem nesses delírios. Só adicionam mais incertezas num cenário já fragmentado com tantas vertentes.

Só para lembrar dois casos curiosos ocorridos no passado recente: antes da crise de 2008, que culminou na quebra de várias até então robustas e infalíveis instituições financeiras, uma delas dizia – em matéria de capa da The Economist que trazia como manchete “O Fim da Comida Barata”, que o petróleo poderia chegar a 230 dólares por barril. A outra, mais hilária, um gestor de um respeitável fundo na Ásia, quando o mercado de açúcar bateu 30 centavos de dólar por libra-peso, no final de 2010, afirmou que o objetivo agora era 75 centavos de dólar por libra-peso! Quanta gente perde dinheiro com esses gurus, só Deus sabe.

Voltando ao nosso mundo real, o mercado futuro de açúcar em NY teve uma semana revigorante. O contrato com vencimento para outubro/22 encerrou a sexta-feira cotado a 19,05 centavos de dólar por libra-peso, subindo quase 100 pontos na semana (22 dólares por tonelada). O março/23 subiu 81 pontos (18 dólares por tonelada). Na média, os meses que compõem a safra 23/24 subiram 38 pontos e a 24/25 subiu menos, média de 14 pontos. O real se valorizou pouco mais de 1% na semana encerrou próximo de R$ 5,2650 em relação ao dólar.

Algumas empresas consideram fixar preços do açúcar para a safra 23/24 (que se inicia em abril do ano que vem). Nós estimamos que entre 22-23% do volume estimado para a exportação já tenha sido fixado. Para a 24/25, se muito, apenas 3%. Embora cada empresa tenha sua necessidade específica e compromissos atrelados a contratos na moeda americana é natural que algum volume precise ser feito. No entanto, uma grande empresa admite que sua fixação é muito menor do que o percentual médio do mercado e justifica que a maior incógnita é o custo de produção. O susto que as usinas levaram com o aumento do custo de produção da 21/22, encerrada em março desse ano, certamente inibiu as fixações para a próxima safra. “Se eu nem sei quando vai ser meu custo nessa safra 22/23 que já estou fixado, muito menos na 23/24. Para mim, é um tiro no escuro”.

Os fundos não-indexados viraram a mão e agora estão vendidos 36,000 contratos com base na posição da última terça-feira, publicada pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities. É importante ter cautela e não se empolgar muito com a alta desta semana. As commodities podem sofrer uma nova onda de liquidação uma vez que grandes compras foram feitas nos mercados futuros antecipando uma escassez que não se concretizou logo após o início da guerra.

Os preços do açúcar podem ter subido em função da expectativa de menor oferta de etanol no mês de julho, reflexo das distorções tributárias patrocinadas pelo governo. Meteram o Brasil num buraco fiscal que vai ser sentido pelo próximo governo. Tivessem um mínimo de capacidade intelectual e conhecimento técnico, todo esse afogadilho atropelando leis e rasgando a Constituição teria sido evitado. Principalmente agora que a defasagem entre o preço da Petrobras e o mercado internacional encurtou para apenas 6%.

Pegando um gancho das previsões tão diametralmente opostas no início desse texto, o processo decisório hoje, mesmo se simplificarmos tem que ponderar as probabilidades desses alguns eventos (tem mais, mas fiquemos apenas com esses): a. Dólar a R$ 4,8000 ou R$ 6,0000; b. Petróleo a US$ 70 o barril ou a US$ 140; c. alteração tributária dos combustíveis a partir de 1/janeiro ou nenhuma alteração; d. recessão ou inicio da recuperação global; e. fim da guerra ou seu prolongamento; f. Petrobras vai retomar a paridade ou manter essa política populista; g. safra no Centro-Sul abaixo de 520 milhões de toneladas de cana ou mais próxima de 535 milhões de toneladas. Se construirmos uma matriz simples com os eventos listados, temos pelo menos 2 milhões de cenários (preços) diferentes.

A Índia acabou de atingir – bem antes do prazo estabelecido – a meta de 10% de mistura de etanol na gasolina sob o Programa de Mistura de Etanol (EBP). O país economizou mais de US$ 5.2 bilhões com a utilização de etanol na gasolina. A meta de 20% continua fixada para 25/26. É uma notícia positiva para o açúcar no longo prazo.

É com grande entusiasmo que gostaríamos de comunicar a todos a formação da ARCHER EDUCATION, uma empresa focada na educação de profissionais do agronegócio objetivando suprir uma enorme demanda por conhecimento e especialização nas mais diversas áreas do agro. Nossos principais focos são competitividade e eficiência. Cursos, palestras, workshops e seminários farão parte do escopo da nova empresa cobrindo o mercado de energia, grãos e café, contratos e títulos do agronegócio, contabilidade de hedge, hedge para empresas, estruturas de crédito privado, seguros rurais, derivativos em commodities, meio-ambiente, gestão de riscos, valuation, provisões e passivos contingentes, entre outros temas de enorme interesse do universo agro. Fazem parte da Diretoria Executiva da empresa, Luiz Carlos Corrêa Carvalho (ABAG), Luiz Cláudio Caffagni (Sombrero Seguros), Tarcilo Rodrigues (BioAgência) e Arnaldo Luiz Corrêa (Archer Consulting), além de um time de craques em suas respectivas áreas (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting; 9/7/22)

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