Ministério da Agricultura anuncia R$ 341 bi para safra 2022/23.
O Plano Safra para o período de julho de 2022 a junho de 2023 vai disponibilizar R$ 341 bilhões aos produtores brasileiros. Esse volume de dinheiro supera em 36% o do plano da safra anterior, um percentual elevado, mas apertado para cobrir os fortes reajustes dos insumos ocorridos no setor nos dois últimos anos.
Esses custos vão se estender por toda a próxima safra que, nas estimativas do mercado, poderá superar 300 milhões de toneladas. Isso se o clima permitir, o que não vem ocorrendo nos últimos anos.
O volume de dinheiro para custeio e comercialização liberado será de R$ 246,3 bilhões, com evolução de 39% no período. Já o crédito para investimentos será de R$ 94,6 bilhões, com alta de 29%.
Ivan Wedekin, consultor e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Agricultura, diz que, apesar da evolução dos recursos, eles não cobrem o aumento dos custos dos produtores, que tiveram altas de 50% a 60%.
Com relação aos recursos para investimentos, Wedekin diz que o volume de dinheiro é adequado, dada a limitação de recursos. A demanda por esse crédito poderá ser menor na safra 2022/23. Haverá uma tendência de menos investimentos, uma vez que o produtor terá de se autofinanciar, afirma ele.
O grande salto do plano está nos juros livres, que dependem, no entanto, dos bancos e da emissão de títulos voltados para o agronegócio, como as LCAs (Letra de Crédito Agrícola). Em geral, os Planos Safra sempre engordam o volume total dos recursos com base nesse item. Neste ano, a evolução foi de 69%.
Para o ex-secretário de Política Agrícola, o volume de crédito é curto, principalmente porque os produtores enfrentam esse cenário de elevação de custos. Com isso, o peso da garantia da segurança alimentar, interna e externa, na qual o Brasil é importante, vai ficar nas costas do produtor brasileiro, afirma ele.
O governo destacou a importância e o volume de recursos para os pequenos e médios produtores. O Pronaf, voltado para a agricultura familiar, terá R$ 53,6 bilhões, com alta de 36%, em relação ao volume do ano passado. O Pronamp, voltado para os médios produtores, terá R$ 43,75 bilhões, com alta de 28%.
Em um período de aperto fiscal e de juros elevados, produtores avaliaram o Plano Safra como o plano possível. Para Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), o plano saiu melhor do que o esperado.
As taxas de juros vão de 3% a 12,5%. Os produtores da agricultura familiar vão pagar de 5% a 6%; os médios, 8%; e os demais produtores e cooperativas, 12%.
A pior notícia do plano, segundo Wedekin, é essa taxa de 12% dos juros livres. A Selic está aquecida neste ano, mas poderá sofrer redução no ano que vem, o que tornaria o juro do produtor superior ao da taxa básica do mercado. “Prevaleceu a rédea curta do Tesouro Nacional”, diz ele.
Para o ministro da Agricultura, Marcos Montes, o cenário é extremamente desafiador, e o Plano Safra veio à altura desses desafios. Vai atender ao agronegócio e aos compromissos do governo.
Fausto Ribeiro, presidente do Banco do Brasil, afirmou que o banco fornecerá R$ 200 bilhões de crédito na safra 2022/23, um volume 48% superior ao do início da safra anterior. O banco é responsável por 59% do crédito oferecido aos produtores.
Para José Mário Schreiner, presidente da Comissão de Política Agrícola e vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), foi um plano robusto, mas o maior desafio agora será fazer com que esses recursos cheguem rapidamente às mãos dos produtores.
Entre o capital destinado aos investimentos, R$ 5,13 bilhões irão para a construção de armazenagem. A taxa de juros vai de 7% ao ano, para construções com capacidade de até 6 milhões de toneladas, a 8,5% para as demais.
O Proirriga terá R$ 1,95 bilhão à disposição dos produtores; o Inovagro, R$ 3,51 bilhões; e o Programa ABC (agricultura de baixo carbono), R$ 6,19 bilhões (Folha de S.Paulo, 30/6/22)