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Açúcar: Monotonia

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Por Arnaldo Luiz Corrêa

A semana do açúcar foi bastante entediante. Nada de novo acontecendo, com exceção do prêmio de branco (a diferença entre as cotações do açúcar refinado em Londres e do açúcar bruto em NY) que negociou a mais de 150 dólares por tonelada enquanto experientes traders tentam adaptar uma narrativa convincente do porquê dessa explosão. Será uma situação pontual potencializada pelo pânico ou uma antecipação de uma eventual escassez do refinado que nos aguarda adiante? Sinceramente, eu não tenho a resposta.

O que se sabe é que as variáveis que podem definir a trajetória de preços ao longo dos próximos meses, referindo-se apenas a safra corrente, mudam constantemente de peso e magnitude. Está difícil ponderar dada a inconstância e a volatilidade. Temos vários exemplos.

O tamanho da safra do Centro-Sul é uma importante incógnita. Não há consenso acerca do tamanho nem da produtividade. Dependendo do interlocutor e da região onde está localizada a usina, as dispersões de opinião são verdadeiramente gritantes. Ainda que se chegue a um numero consensual, que hoje orbita entre 525-550 milhões de toneladas de cana, a variável seguinte é o mix de produção. Este, vai depender, por exemplo, da evolução (ou não) das discussões no Senado do projeto de lei que limita o percentual do ICMS em 17% para os combustíveis.

Se aprovado, o resultado será devastador para o setor sucroalcooleiro ainda que – pelos nossos cálculos – a queda equivalente de NY (dependendo do câmbio) pode ser de 50-80 pontos. No entanto, sempre é bom lembrar, que os mercados podem estressar além disso. Quando o pânico entra pela porta o bom senso se atira pela janela.

Toda vez que há uma interferência na formação de preços de qualquer commodity largamente negociada em bolsa, o preço que se paga por artificialismos de governos populistas, como é o caso atual, costuma ser bem caro. A conta costuma vir em forma de desabastecimento. Caso a Petrobras mantenha o represamento de preços, isso afasta outros participantes de acessar o mercado de importação de combustíveis e poderemos assistir a uma ruptura em toda a cadeia. Vamos ver quem será o culpado da vez, caso isso aconteça.

A defasagem de preços da gasolina está em 29% nesta sexta-feira. Na média do ano, a defasagem de preços é de 12% em relação ao mercado internacional. Pelos nossos cálculos, o setor já perdeu no acumulado do ano R$ 3 bilhões de receita graças à política populista adotada pelo governo.

O hidratado que era a esperança de melhorar a fixação média das usinas para este ano, já que pelo menos 20 milhões de toneladas de açúcar já estão fixadas, agora fica em compasso de espera esperando sabe-se lá que tipo de politica será adotada pela atual administração.

Voltando às variáveis que podem impactar preços, além do tamanho da safra acima discutido, temos também a Índia que deve colocar um teto nas exportações em 10 milhões de toneladas de açúcar. Acreditamos que para a próxima safra deles, que se inicia em outubro, dificilmente esse numero será repetido. O programa de etanol deverá acelerar a utilização de mais cana para a produção do biocombustível naquele país, diga-se de passagem, abreviado pela elevação do preço do petróleo no mercado internacional. Se nessa safra, entre 3.5-4.0 milhões de toneladas de açúcar equivalentes foram direcionadas para o etanol, nada mais normal do que estimar que os indianos vou continuar antecipando a meta de 2030.

NY encerrou a semana com o vencimento julho/22 cotado a 19.30 centavos de dólar por libra-peso, um recuo de 31 pontos em relação à semana anterior, ou quase sete dólares por tonelada. O spread julho/março continua abrindo, reforçando o sentimento de que o mercado não prenuncia nenhum problema de disponibilidade de açúcar. O real se desvalorizou em relação ao dólar ao redor de 1%, encerrando a sexta-feira a R$ 4,7850. Com isso, o valor do spot fechou ao equivalente a R$ 2,121 por tonelada FOB. Comparativamente aos preços desde 2004, corrigidos pelo IPCA, esse valor só foi superado em 25% das vezes, ou seja, basicamente no último quartil.

Os preços das duas próximas safras, usando a curva do dólar por meio do NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, oferecido pelas instituições financeiras, apresentam valores médios de R$ 1,983 e R$ 1,808 por tonelada, respectivamente para as safras 23/24 e 24/25. Esses preços são trazidos a valor presente pelo custo do dinheiro no Brasil. Se aplicarmos esses preços à curva corrigida mencionada no parágrafo anterior, eles indicam que pelo menos 1/3 das vezes os preços estiveram acima desse valor para a 23/24 e 45% das vezes acima da 24/25. Difícil justificar fixação de preços para as próximas safras. Convém esperar.

Se você achou esse comentário parecido com os anteriores, não se preocupe. É que o mercado está mesmo muito monótono. Como sugeriu um experiente analista esta semana sentado à sua mesa em Nova Iorque enquanto se empanturrava de bagel e cream cheese, ao invés de olhar para a tela que não muda, você pode alternativamente colocar a roupa para lavar ou levar os cachorros para passear (Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting, 4/6/22)

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