O mercado de combustíveis no Brasil registra neste início de ano mais um componente “altista”: os preços dos créditos de descarbonização (CBios) mais do que triplicaram em março ante valor médio do mesmo mês do ano passado.
Os CBios, os quais as distribuidoras de combustíveis precisam comprar para compensar a venda de derivados de petróleo, atingiram uma máxima histórica de mais de R$ 100 no início de março. Isso ocorreu com uma maior procura dos compradores e menor oferta de CBios pelos produtores de bicombustíveis, que são os emissores dos créditos.
O custo adicional deve ser repassado em algum momento aos preços nos postos, aparecendo como mais um vetor de alta dos valores do diesel e gasolina, após a Petrobras ter elevado este mês esses combustíveis em cerca de 25% e quase 19%, respectivamente, para reduzir a defasagem ante o mercado de petróleo.
“Os CBios têm impacto no preço, sem dúvida, as companhias trabalhavam antes com valor perto de R$ 40, e hoje está R$ 100”, disse à Reuters o representante de uma importante distribuidora, na condição de anonimato para falar sobre o tema.
“Isso é custo da sociedade, no final da linha, quem paga é o consumidor, mais um item encarecendo os combustíveis”, afirmou.
A alta nos preços dos CBios, que mantinham-se um pouco abaixo das máximas históricas, a cerca de R$ 96, reforça ainda a ideia de que o mercado desses créditos deve movimentar valores muito maiores do que os R$ 2 bilhões de 2021, já que as metas para 2022 também são superiores, demandando maior capital das distribuidoras.
A associação de distribuidoras Brasilcom afirmou que o “crescente custo” de aquisição dos CBios “vem sendo um entrave significativo à sobrevivência das pequenas e médias empresas do setor, dando oportunidade à concorrência predatória”.
A entidade disse ainda, em nota recente, que os valores dos CBios “impactam ainda mais os já tão elevados preços dos combustíveis para os consumidores”.
Questionada pela Reuters, a Brasilcom comentou que há indicações de que o custo adicional dos créditos para os consumidores seria de até R$ 0,10 real por litro.
A associação, que afirma ser apoiadora da política governamental de descarbonização, disse também que a decisão de repassar os custos dos CBios é de cada empresa e preferiu não se alongar. O IBP, instituto que representa petroleiras e as grandes do setor de distribuição, preferiu não comentar (Folha de S.Paulo, 31/3/22)