· Equipe de Fávaro não respondeu a proposta do Ministério do Meio Ambiente e abandonou negociação
· Pasta atuou na elaboração do documento, mas depois se voltou contra ele
O Ministério da Agricultura travou as negociações com o Ministério do Meio Ambiente sobre o Plano Clima e quer evitar que o documento seja entregue pelo Brasil durante a COP30, a conferência sobre aquecimento global da ONU.
Três pessoas que acompanham o tema afirmam sob reserva à Folha que, após entraves, a pasta de Marina Silva enviou à equipe de Carlos Fávaro uma nova proposta no último dia 12.
Desde então, segundo os relatos, integrantes da Agricultura não retornaram os contatos feitos por representantes e afirmaram haver uma orientação para que o tema fosse tratado apenas depois da conferência da ONU em Belém.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura confirmou que barrou a entrega do plano.
“Após a COP30, o tema segue sendo tratado com total transparência e serenidade, de modo que o setor produtivo e o governo possam construir um consenso”, afirmou a pasta, em nota.
O Plano Clima para redução de emissões de CO2 do setor agropecuário foi elaborado em conjunto pelas pelos dois ministérios, mas, como mostrou a Folha, a pasta de Fávaro resolveu atuar contra a proposta após ouvir críticas do setor.
O Plano Clima é composto por mais de 20 documentos com diretrizes para redução das emissões de carbono, separados em diversas áreas.
O objetivo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era que esse conjunto fosse uma das entregas do Brasil na COP30, mas, a poucos dias do final do evento, o entrave torna esse objetivo quase inviável —a previsão é que a conferência termine nesta sexta-feira (21).
O documento precisaria ser, primeiro, aprovado em uma reunião de um subcomitê técnico, para depois passar ao CIM (Conselho Interministerial da Mudança Climática) e à chancela de Lula.
Cada plano setorial diz a quantidade de carbono que cada área é responsável por emitir, quanto ela precisa reduzir e quais são as atividades são consideradas na contabilidade, com base no ano de 2022.
As reclamações do agro inicialmente recaíram sobre a alocação dessas emissões sob responsabilidade do setor, e por não serem consideradas práticas que aumentam a captura de carbono.
A primeira proposta do plano, elaborada pelas duas pastas, foi divulgada em julho.
Como o desmatamento corresponde à maior parte das emissões nacionais, o plano preliminar para o agronegócio ficou com 68% dessa parcela —e também com as metas de redução mais rígidas.
Após a divulgação, o Ministério da Agricultura passou a articular contra a proposta.
Desde então, foram elaboradas pela equipe de Marina Silva mais duas propostas, a última delas enviada à pasta de Fávaro no último dia 12 —e sobre a qual até agora não houve resposta.
Nesta versão do Plano Clima, o setor fica responsável exclusivamente por 31% das emissões nacionais (menos da metade do previsto inicialmente), contagem que considera apenas a atividade agropecuária, como plantação ou criação de gado.
Todo o CO2 decorrente do desmatamento em propriedades privadas foi alocado em um novo plano, chamado de “mudança do uso da terra” e que também passou a contabilizar práticas que aumentam a captura de carbono, como o reflorestamento.
Segundo a proposta mais recente, essa área ficaria sob responsabilidade compartilhada dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, e corresponde a menos de 20% das emissões nacionais.
Também foram retiradas do plano setorial da agropecuária a produção de CO2 decorrente de assentamentos rurais ou terras quilombolas, que passaram para a diretriz de “terras públicas”, junto com terras indígenas e áreas não destinadas, que é de responsabilidade da pasta de Marina Silva.
Nas metas previstas pela última versão do plano, a atividade agropecuária poderia manter suas emissões de carbono estáveis até 2035, na casa das 600 milhões de toneladas de CO2 por ano.
No plano de uso da terra, de responsabilidade compartilhada, o objetivo é baixar de cerca de 360 milhões de toneladas por ano para 30 milhões toneladas negativas —ou seja, com captura de carbono.
A meta mais ambiciosa ficaria com o plano de terras públicas, que precisaria baixar de mais de 400 milhões de toneladas, para -250 milhões de toneladas até 2035.
O setor também reclamava que deveria haver incentivos financeiros para a redução de CO2 e para o reflorestamento.
Na última proposta, e que segue sem resposta, o Ministério do Meio Ambiente listou mecanismos como o crédito rural, o leilão do Ecoinvest, a Cota de Reserva Ambiental e o Fundo de Florestas Tropicais (TFFF) como iniciativas para esse fim.
Existem outros 5 planos setoriais voltados para a área de mitigação e mais 16 na área de adaptação, todos já aprovados, mas que aguardam o acordo destes outros 3, que envolvem o Ministério da Agricultura, para que o conjunto todo possa ser entregue pelo governo Lula (Folha, 20/11/25)
Em plena COP, Fávaro defende adiar novo Plano Clima

Distanciamento entre governo e setor agrícola paira nos corredores do evento.
Diante das divergências que persistem entre os ministérios envolvidos, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reforçou ontem (18/11), na Conferência do Clima (COP30), sua posição contrária à divulgação do novo Plano Clima ainda durante o evento, que ocorre em Belém. O projeto será o guia da política climática brasileira até 2035.
Na outra ponta, a ideia da gestão Lula, e de pastas como o Ministério do Meio Ambiente, é que o novo Plano Clima seja anunciado no encerramento da COP 30, de acordo com fontes presentes no evento.
“O Plano Clima é um projeto relevante que está em estágio avançado de debate com os arranjos produtivos. Não chegamos ainda a um consenso entre o setor produtivo e o governo, os ministérios envolvidos, mas também não há necessidade nenhuma de que seja anunciado dentro da COP”, afirmou Fávaro a jornalistas na Agrizone, área dedicada ao agronegócio na conferência climática.
O ministro acrescentou que é a favor de mais tempo para a construção das diretrizes para que quando, de fato, for anunciado, o plano seja factível para entrar em vigor. “Se não está pronto, não precisa anunciar o que não está pronto”, enfatizou.
No entanto, ele garantiu que já houve muitos avanços no projeto e “que não está longe” de se chegar a um consenso no governo.
A grande pauta levantada pelo Ministério da Agricultura na COP é a iniciativa Caminho Verde Brasil, que visa a recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade ao longo dos próximos dez anos. O Caminho Verde Brasil é novo nome do programa nacional de recuperação de pastagens degradadas, criado pela pasta em 2023.
Em paralelo, há o anúncio do Recuperação e Agricultura Resiliente e Sustentável (Raiz), uma iniciativa global liderada pelo Brasil para a recuperação de áreas degradadas, incluindo pastagens, por meio de financiamento e tecnologias.
O programa se alinha com o objetivo do Caminho Verde Brasil, e gerou tensões internas no ministério, segundo fontes. “O Raiz é um evento da FAO [Agência para Agricultura e Alimentação da ONU]. O Ministério da Agricultura participa demonstrando o modelo, o Caminho Verde, que já é um sucesso no nosso país e pode ser replicado por todo mundo”, disse Fávaro. Em eventos anteriores e na página oficial do ministério, o Raiz era citado como destaque da participação da Pasta na COP30.
Nos corredores da Agrizone, Fávaro também é alvo de críticas de membros do setor pela postura que tem adotado no evento, a chegada considerada tardia -— na segunda semana de debates — e com participação vista como limitada nas áreas onde acontecem as principais decisões da COP, a Blue Zone. O foco ficou na Agrizone.
Indagado pelo Valor sobre as críticas, o ministro ressaltou que não tinha nada a dizer sobre o assunto e ironizou os questionamentos do setor. “Não devia ter vindo?”, afirmou.
“A maioria dos líderes globais e ministros do mundo inteiro esteve aqui na semana passada. A segunda semana é, sobretudo, de discussões técnicas, e onde se chega a conclusões que virarão acordos. [O ministro da Agricultura brasileiro] chegar neste momento foi um tiro no pé”, afirmou uma fonte com trânsito na Blue Zone. Outros três membros do setor fizeram a mesma avaliação negativa da ação da Pasta.
A opção de Fávaro por seguir agenda no município de Tomé-Açu (PA) ontem também desagradou ao setor, pela ausência em eventos específicos da COP (Globo Rural, 19/11/25)
Meio Ambiente deve atender à demanda do agro no Plano Clima

Novo plano deve retirar emissões de desmatamento da responsabilidade do setor.
Embora o impasse entre Ministério da Agricultura, setor produtivo e o Ministério do Meio Ambiente em relação ao texto do Plano Clima continue, houve mudanças nos últimos dias que retiram as emissões de gases provocadas por desmatamento do plano setorial da agropecuária, disseram fontes em Belém e em Brasília.
Após reuniões nas últimas semanas com lideranças do setor, como o ex-ministro Roberto Rodrigues, e especialistas da Embrapa, o Ministério de Meio Ambiente concordou em criar um oitavo plano setorial de mitigação, além dos sete iniciais, para abarcar as emissões de desmatamento e áreas privadas que antes seriam atribuídas ao setor agropecuário.
O novo plano será chamado de “Transições do uso do solo em imóveis rurais”, disse uma pessoa que acompanha a redação do texto. Segundo outra fonte, esse plano tratará das emissões de desmatamento legal e ilegal em áreas privadas, enquanto as emissões de desmatamento em áreas públicas, territórios indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos e vazios fundiário entram no plano setorial de sobre terras públicas.
O novo documento vai contemplar incentivos para a redução do desmatamento nos imóveis, como Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), descontos nos juros do crédito rural, benefícios tributários, Cédula de Produto Rural Verde (CPR Verde), Cotas de Reserva Ambiental (CRA), entre outros.
O novo plano aponta o que é emissão oriunda da atividade produtiva em si e a remoção feita pelas áreas verdes privadas e as boas práticas de produção. O texto ainda contempla os mecanismos para incentivar a manutenção de maior cobertura vegetal nas propriedades rurais.
Para pessoas familiarizadas com o assunto, o documento soluciona “definitivamente” a principal crítica do setor à proposta original, que era a atribuição das emissões do desmatamento ilegal, o que agora passa a ser tratado por ações de comando e controle.
No setor privado há diferentes avaliações. Em uma ala, que reúne desde associações setoriais, pesquisadores e instituições financeiras, o entendimento é de que a proposta encampa toda a demanda do agronegócio, o que habilitaria o governo a lançar o Plano Clima antes do fim da COP30. Segundo uma fonte desse grupo, o plano tem o endosso da maior parte do setor. O receio dessa ala é que “uma ínfima minoria” do agro se oponha se o governo divulgar o Plano Clima na COP30, o que “mancharia a imagem” do setor.
Já algumas entidades rurais não parecem dispostas a manter conversas sobre o tema. Uma fonte dessa ala que acompanha as tratativas de perto apontou que a proposta original do Plano Clima sintetizaria o “enrosco” da COP30.
O MMA já confirmou ao Valor que “o aprimoramento da abordagem usada inicialmente para alocação das emissões e remoções de gases de efeito estufa por categoria fundiária já foi concluído”.
Para uma fonte com trânsito na Blue Zone, o lançamento do Plano Clima só depende de um entendimento entre os ministros Marina Silva e Rui Costa, da Casa Civil, que preside o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). Mesmo assim, a discussão ainda recebe a oposição do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (Globo Rural, 20/11/25)









